domingo, 14 de setembro de 2025

Domingo com (bleargh!) Bolsonaro. Por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Prometi a mim mesmo nunca escrever sobre ele nos fins de semana, mas hoje quebro alegremente essa promessa

Desde 2019, quando Bolsonaro tomou posse na Presidência, emporcalhei este espaço várias vezes por semana citando o nome dele. As primeiras referências ainda eram sutis, como ao comentar sua declaração de que dormia no Alvorada com um revólver na cabeceira. Escrevi: "Qual é o problema? [No Catete] Getulio Vargas também dormia". Hoje, Bolsonaro deve estar se perguntando se aquele hábito de Getulio não seria uma boa idéia. Quando ele disse que só sairia do Planalto "preso, morto ou deposto" e que "não seria preso", vê-se que as alternativas não lhe eram estranhas.

Nesses seis anos em que falei dele com crescente asco, decidi só fazer isto nas colunas de meio da semana —nunca aos domingos e segundas. Não queria contribuir para azedar o café da manhã do leitor nos dias dedicados à restauração de forças para o trabalho. Durante esse tempo, tive a felicidade de contar com a aprovação de 90% dos leitores, contra comentários de ódio dos outros 10%. Como fiel respeitador da opinião dos leitores, nunca me ofendi com esses últimos, mesmo quando me atribuíam crenças que respeito, mas a que nunca fiz jus, como a de comunista, petista ou torcedor do Vasco.

Cedo decidi também não mais me referir a Bolsonaro como "presidente Jair Bolsonaro", muito menos como "presidente Bolsonaro" e nem mesmo como "Jair Bolsonaro". O espaço numa coluna é sagrado. Passei a chamá-lo só de "Bolsonaro", e sempre tapando o nariz. Por fim, outra importante decisão foi a de só parar de falar dele quando ele fosse preso.

Hoje quebro uma das promessas. Escrevo sobre ele num fim de semana, na certeza de que os ditos 90% de leitores me perdoarão alegremente. Os outros 10%, que também me honram com sua fidelidade, saberão compreender —espero. Bolsonaro enfim condenado à prisão é uma vitória do Brasil. Pena que com tantos anos de atraso, graças a um procurador-geral e a um presidente da Câmara que devem repugnar até seus próprios espelhos.

Bolsonaro está perto de ser preso. Mas assunto não me faltará.

 

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