domingo, 14 de setembro de 2025

A anistia e o começo da eleição de 26. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Entre dissimulações e impaciências, centrões querem decidir o que fazer do capitão das trevas

Líderes da Câmara decidem na terça se vai ser votado algum projeto de anistia para Jair Bolsonaro e cúmplices e, também, como vai tramitar o projeto do governo de isenção do Imposto de Renda, central para a hipótese de Lula 4. A eleição começa.

Quanto ao destino da anistia, o cenário é de névoa, pois faltam lideranças maiores e organização; há dissimulação dentro das direitas.

A extrema direita, PL e alguns agregados, em tese quer que seja pautado o pedido de urgência de um projeto de anistia total, algo que permitisse a candidatura de Bolsonaro. Ainda na semana que vem seria votado o mérito; querem aprovação rápida o bastante para evitar a prisão. Parece delirante, mas tenham em mente o que é este Congresso.

A extrema direita diz ter de 260 a 280 deputados a favor da urgência (que seria aprovada com 257 votos do total de 513). Mesmo que se acredite na contagem, parece insuficiente. Somados os votos do PL (88) aos de União Brasil (UB), Progressistas (PP) e Novo, dá 202. Juntados os Republicanos, 247. Há bolsonaristas em partidos do centrão-centrão.

PSD de Gilberto Kassab tem 45 e vai "liberar a bancada". O centrão-direitão de UB e PP, por sua vez, tem gente empregada no governo Lula ou que dele recebe favor. Mas ficar só nos números é ingenuidade.

Além da extrema direita, de fato parte dos centrões quer anistia total para Bolsonaro. Porém, parte maior dos centrões quer se livrar de Bolsonaro do modo politicamente mais conveniente, sem possibilidade de candidatura. Querem Tarcísio de Freitas candidato e disputam a vice.

Ainda assim, essa anistia pode causar tumulto e, mais importante para os centrões, atrasar a definição de candidato e acordos da direita. Gente do próprio centrão diz que muito apoio ao projeto é dissimulado, para que seja votado e derrotado. Haveria dissimulação inclusive no PL.

Isto é, os proprietários do partido estariam cumprindo o script de bajular o padrinho, querem dar um jeito nos demais Bolsonaro e poder para interferir na candidatura da direita. A cena é nebulosa até para quem está no palco.

Na semana que passou, o pagamento de emendas parlamentares foi o maior do ano —emenda é assunto crucial. O governo também promete cargos federais nos estados para quem se opuser à anistia e ameaça cortar favores em geral para quem aprová-la. Pode cavar votos contrários.

Se aprovada na Câmara, a anistia teria dificuldade maior no Senado. Na hipótese improvável de passar pelos senadores, o projeto pode ser vetado por Lula. No caso de Lula lavar as mãos ou de veto derrubado, haveria recurso possível ao STF.

Em público ou em conversas com a extrema direita, com Tarcísio e com ao menos dois líderes do centrão-direitão, a maioria do Supremo já afirmou que lá a anistia não passa. Algum acordão para o futuro sempre é possível. Mas seriam pelo menos dois meses de tumulto.

O problema dos centrões é como fazer um acordo com Bolsonaro e PL bom o suficiente para abafar outras candidaturas da direita —os resultados de Ratinho Júnior (PSD) nas pesquisas e menções de lideranças a seu nome incomodam os centrões ora com Tarcísio.

O acordão maior, enfim, seria o de fazer algum favor a Bolsonaro, definir candidatura e aprovar alguma "PEC da Blindagem" (emendas que livrem parlamentares o quanto possível do STF). Por falar nisso, STF, o PL ainda vai amolar com um pedido de CPI sobre o TSE sob a presidência de Alexandre de Moraes.

A "luta continua".

 

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