Folha de S. Paulo
Entre dissimulações e impaciências, centrões
querem decidir o que fazer do capitão das trevas
Líderes da Câmara decidem na terça se vai ser
votado algum projeto
de anistia para Jair
Bolsonaro e cúmplices e, também, como vai tramitar o projeto do
governo de isenção do Imposto de
Renda, central para a hipótese de Lula 4. A
eleição começa.
Quanto ao destino da anistia, o cenário é de
névoa, pois faltam lideranças maiores e organização; há dissimulação dentro das
direitas.
A extrema direita, PL e alguns agregados, em tese quer que seja pautado o pedido de urgência de um projeto de anistia total, algo que permitisse a candidatura de Bolsonaro. Ainda na semana que vem seria votado o mérito; querem aprovação rápida o bastante para evitar a prisão. Parece delirante, mas tenham em mente o que é este Congresso.
A extrema direita diz ter de 260 a 280 deputados
a favor da urgência (que seria aprovada com 257 votos do total de 513). Mesmo
que se acredite na contagem, parece insuficiente. Somados os votos do PL (88)
aos de União Brasil (UB), Progressistas (PP) e Novo, dá 202. Juntados os
Republicanos, 247. Há bolsonaristas em partidos do centrão-centrão.
O PSD de Gilberto
Kassab tem 45 e vai "liberar a bancada". O centrão-direitão
de UB e PP, por sua vez, tem gente empregada no governo Lula ou que dele recebe
favor. Mas ficar só nos números é ingenuidade.
Além da extrema direita, de fato parte dos
centrões quer anistia total para Bolsonaro. Porém, parte maior dos centrões
quer se livrar de Bolsonaro do modo politicamente mais conveniente, sem
possibilidade de candidatura. Querem Tarcísio
de Freitas candidato e disputam a vice.
Ainda assim, essa anistia pode causar tumulto
e, mais importante para os centrões, atrasar a definição de candidato e acordos
da direita. Gente do próprio centrão diz que muito apoio ao projeto é
dissimulado, para que seja votado e derrotado. Haveria dissimulação inclusive
no PL.
Isto é, os proprietários do partido estariam
cumprindo o script de bajular o padrinho, querem dar um jeito nos demais
Bolsonaro e poder para interferir na candidatura da direita. A cena é nebulosa
até para quem está no palco.
Na semana que passou, o pagamento de emendas
parlamentares foi o maior do ano —emenda é assunto crucial. O governo também
promete cargos federais nos estados para quem se opuser à anistia e ameaça
cortar favores em geral para quem aprová-la. Pode cavar votos contrários.
Se aprovada na Câmara, a anistia teria
dificuldade maior no Senado. Na
hipótese improvável de passar pelos senadores, o projeto pode ser vetado por
Lula. No caso de Lula lavar as mãos ou de veto derrubado, haveria recurso
possível ao STF.
Em público ou em conversas com a extrema
direita, com Tarcísio e com ao menos dois líderes do centrão-direitão, a
maioria do Supremo já afirmou que lá a anistia não passa. Algum acordão para o
futuro sempre é possível. Mas seriam pelo menos dois meses de tumulto.
O problema dos centrões é como fazer um
acordo com Bolsonaro e PL bom o suficiente para abafar outras candidaturas da
direita —os resultados de Ratinho Júnior (PSD) nas pesquisas e menções de
lideranças a seu nome incomodam os centrões ora com Tarcísio.
O acordão maior, enfim, seria o de fazer
algum favor a Bolsonaro, definir candidatura e aprovar alguma "PEC da
Blindagem" (emendas que livrem parlamentares o quanto possível do STF).
Por falar nisso, STF, o PL ainda vai amolar com um pedido de CPI sobre o TSE
sob a presidência de Alexandre de Moraes.
A "luta continua".
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