sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Julgamento de Bolsonaro, o STF sob olhar do mundo e as fake News. Por Roberto Fonseca

Correio Braziliense

Logo no primeiro dia, os números apresentados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, ajudam a dimensionar a envergadura do processo. Das 1.630 ações penais relativas ao 8 de janeiro de 2023, 683 resultaram em condenações. Mas é o dado das 11 absolvições que merece reflexão

O Brasil começou a acompanhar nesta semana um dos julgamentos mais relevantes da nossa história: o do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus acusados de liderar uma trama golpista para subverter a ordem constitucional após as eleições de 2022. Não é apenas um evento jurídico. Como vivemos um momento em que a informação é frequentemente manipulada, com profusão de notícias falsas e vídeos fakes, o Supremo Tribunal Federal está sob os olhares de todo o mundo por tudo que a ação penal nº 2.668 representa. Não só apenas pelo peso político dos acusados, que ocupavam a cúpula do antigo governo, mas pela repercussão de que o resultado do julgamento terá, desde a reação do Congresso até os efeitos na eleição presidencial do ano que vem.

Logo no primeiro dia, os números apresentados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, durante a abertura dos trabalhos, ajudam a dimensionar a envergadura do processo. Das 1.630 ações penais relativas ao 8 de Janeiro de 2023, 683 resultaram em condenações. Mas é o dado das 11 absolvições que merece reflexão. Em sua maioria, trata-se de pessoas consideradas inimputáveis por transtornos mentais ou em situação de rua que foram atraídas por promessas tão elementares quanto um prato de comida, como detalhou reportagem publicada ontem por Aline Gouveia, no site do Correio.

Esse recorte lança luz sobre um ponto fundamental, principalmente em relação ao acampamento montado ao redor da Praça dos Cristais, na frente do QG do Exército, no Setor Militar Urbano. Além dos organizadores do movimento, havia cidadãos vulneráveis usados como massa de manobra em um enredo que lhes era alheio. Essa constatação não reduz a gravidade dos atos, mas reforça a necessidade de distinguir culpados de inocentes, líderes de seguidores, e a manipulação de realidade concreta.

E é justamente na manipulação que reside um risco ainda mais profundo para democracias: as notícias falsas. Desde segunda-feira, um vídeo falso de Donald Trump circulou pelas redes como se o presidente dos Estados Unidos estivesse criticando o Supremo em português por conta do julgamento de Bolsonaro. Trata-se de um deepfake, fabricado com inteligência artificial, desmentido por checagens independentes. O original, uma coletiva sobre investimentos da Apple, nada tinha a ver com o nosso país.

O episódio é carregado de simbolismo. Mostra que a desinformação não se limita a memes ou boatos. Com o avanço contínuo da inteligência artificial, assume formas cada vez mais sofisticadas, capaz de iludir milhões em horas. Uma única postagem no Facebook com o vídeo falso de Trump teve 28 mil compartilhamentos e 14,7 mil comentários em menos de 24 horas. Imagine a proporção em outras redes de difícil rastreio, como o Telegram, WhatsApp e Discord?

Por isso, é fundamental sempre lembrar que as notícias falsas são, sim, uma ameaça direta à democracia. São capazes de mudar a percepção pública da realidade. É aí que está o perigo.

 

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