Folha de S. Paulo
Ofensiva terrestre contra Gaza trará mais
mortes e sofrimento para palestinos e desgastará ainda mais imagem do Estado
judeu
Israel deslanchou
sua ofensiva
militar terrestre contra a Faixa de Gaza.
Veremos nas próximas horas e dias muito mais sofrimento, mortes e crimes de
guerra e contra a humanidade. E o ataque não fará avançar os interesses do
Estado de Israel. Pelo contrário, trará prejuízos.
Basta lembrar que os profissionais da guerra, isto é, o Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, eram terminantemente contra a ofensiva, que viam como desgastante para as tropas e perigosa para os reféns.
Podemos acrescentar que também não implicará
degradação adicional relevante das capacidades do Hamas.
Por que, então, as autoridades políticas de
Israel insistiram na ofensiva? O governo tem uma ala messiânica delirante que
quer expulsar os palestinos, anexar Gaza e a Cisjordânia e recriar a Israel
bíblica.
O premiê Binyamin
Netanyahu não é dessa ala, mas depende dela para manter em pé
seu governo. Netanyahu tem ainda razões pessoais para prolongar a guerra.
Enquanto ela estiver em curso, ele evita dois problemas: a investigação pelos
erros políticos e operacionais que permitiram o ataque terrorista de 7/10/23 e
a sequência, em ritmo normal, de seu julgamento por corrupção.
É por isso que Netanyahu sabota todas as iniciativas
que poderiam levar à cessação do conflito e não perde oportunidades de
ampliá-lo, já tendo desferido ataques no Líbano, na Síria, no Irã, no Iêmen e,
agora, no Qatar.
A guerra está custando a própria alma do
país. Israel, que surgiu como resposta ao massacre de judeus pela Alemanha
nazista, agora promove um massacre contra os palestinos.
O conflito sem fim e sem freios já fez com
que Israel perdesse o apoio de vários aliados europeus. Começa a ser
questionado até por judeus da diáspora, menos traumatizados pelos ataques de
7/10 e mais sensíveis às imagens de palestinos mortos ou em sofrimento.
É crescente o número de "scholars"
do Holocausto que acusam Israel de genocídio. E não dá para classificar essas
reações como manifestações de antissemitismo.
Netanyahu está acabando com Israel.
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