Por Robson Rodrigues / Valor Econômico
Governador cobrou que o presidente da Câmara
dos Deputados, Hugo Motta, paute o projeto de anistia para os envolvidos nos
atos de 8 de janeiro
O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), atacou o ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT)
Alexandre de Mores durante o ato bolsonarista realizado neste domingo (7), na
Avenida Paulista, marcado pela ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o governador, os brasileiros não aguentam mais a “tirania de um
ministro”.
Do alto do trio elétrico, Tarcísio afirmou para a multidão que não é possível celebrar a Independência do Brasil sem a liberdade de Bolsonaro. Em um discurso de forte tom crítico ao Judiciário, ele citou que as determinações de Moraes estão indo longe demais. “Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes”, atacou.
“Estamos aqui para dizer para o [presidente
da Câmara dos deputados] Hugo Motta para que ele paute a anistia”, disse. “Este
é o recado que estamos mandando", acrescentou ao coro do público gritando
“fora Moraes”.
O governador sustenta que o processo contra o
ex-presidente carece de provas, classificando-o como “viciado” e comparando o
julgamento a episódios históricos de perseguição política. “Uma condenação sem
provas abre uma ferida que nunca vai fechar. Assim como foi em 1979, a anistia
tem que ser ampla”, afirmou, em referência à anistia concedida após a ditadura
militar.
Ao citar críticas às decisões do Supremo,
Tarcísio questionou: “Será que estamos vivendo um Estado livre e democrático?”.
Em outro momento, provocou a Corte: “Deixe o Bolsonaro ir para as urnas que ele
vai vencer as eleições. Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre outro
(...). “O bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito e não pelo medo”, disse
Tarcísio, citando o também ministro do STF André Mendonça.
Segundo o governador não existe relação entre
o plano para matar Lula e Moraes, denominado “Punhal verde-amarelo”, com
Bolsonaro. Ele disse ainda que a delação do tenente-coronel do Exército e
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, é mentirosa.
O governador defendeu a necessidade de
“justiça para Débora do Batom” e para os manifestantes presos após os ataques
de 8 de janeiro. “Não podemos nos intimidar. Temos que defender a liberdade, o
Estado de Direito e a democracia representativa para ter Jair Messias Bolsonaro
nas urnas”, declarou o governador.
A manifestação deste 7 de Setembro, feriado
da Independência, tem como pautas centrais a defesa da “liberdade” de Jair
Bolsonaro e a aprovação de projetos de anistia para os envolvidos nos atos
golpistas de 8 de janeiro de 2023. Entre os nomes no palanque estão a
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o deputado federal Nikolas Ferreira
(PL-MG), o governador mineiro Romeu Zema (Novo) e o prefeito de São Paulo,
Ricardo Nunes (MDB). Os manifestantes bolsonaristas levaram uma bandeira
gigante dos Estados Unidos.
Em sua fala, embora seja tratado pelo Centrão
como a pessoa ideal para liderar a direita devido à impossibilidade de
Bolsonaro disputar as eleições, o governador de São Paulo evitou em dar sinais
de que está disposto a assumir a missão e insistiu que o ex-presidente deve ter
a permissão de concorrer ao Planalto. Em outro trecho, cobrou do presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que paute o projeto da anistia. Durante a
semana, ele viajou a Brasília para articular em favor da proposta, o que foi
elogiado pelo pastor Silas Malafaia durante o ato deste domingo na avenida
Paulista.
Na mesma linha do discurso do presidente do
PL, Valdemar da Costa Neto, que mais cedo havia dito que “não existe plano B” e
que o partido mantém Bolsonaro como seu candidato em 2026, Tarcísio endossou o
clamor por uma anistia ampla aos envolvidos no 8 de janeiro. Diante da
multidão, pediu ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara,
que paute o projeto de anistia já subscrito por cerca de 300 parlamentares.
A presença de Tarcísio na Avenida Paulista
contrasta com sua ausência no ato de agosto, quando alegou submeter-se a uma
cirurgia na tireoide. A decisão havia gerado críticas no núcleo mais radical do
bolsonarismo. Agora, ao lado de Michelle Bolsonaro e do prefeito Ricardo Nunes
(MDB-SP), o governador busca reforçar sua imagem como principal herdeiro
político do ex-presidente em São Paulo.
Com Bolsonaro fora do páreo eleitoral até
2030, em razão da inelegibilidade imposta pela Justiça Eleitoral e com a prisão
domiciliar determinada pelo STF, o bolsonarismo testa novos líderes para 2026.
A participação de Tarcísio no ato deste domingo reforça sua posição de possível
candidato à Presidência da República apoiado pelo PL, ao mesmo tempo em que
acirra tensões com o Supremo e alimenta a estratégia de manter a militância
mobilizada em torno da narrativa de perseguição política.
Bolsonaro faz parte do núcleo crucial da
tentativa de golpe de Estado, de acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da
República (PGR). Ele é réu por cinco crimes: organização criminosa armada,
golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano
qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e
deterioração do patrimônio tombado.
Ele também já foi considerado inelegível pela
Justiça Eleitoral em dois processos diferentes.
Relator do caso na Primeira Turma no Supremo,
o ministro Alexandre de Moraes tem sido acompanhado pela maioria dos demais
colegas em suas decisões.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), “as peças acusatórias baseiam-se em manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagens que revelam o esquema de ruptura da ordem democrática. E descrevem, de forma pormenorizada, a trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.