quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Paes no templo de Silas Malafaia. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao bajular pastor bolsonarista, prefeito do Rio volta a rasgar figurino da última campanha

Eduardo Paes não disfarça mais. Está contando os dias para abandonar a prefeitura e se candidatar outra vez ao governo do Rio. O futuro ex-prefeito já garantiu o apoio de Lula e do PT. Agora tenta avançar no campo bolsonarista.

No domingo, Paes foi a um culto na igreja de Silas Malafaia. Subiu ao púlpito e engrenou uma louvação ao pastor. “O Silas Malafaia me ama, gente. Ele ama todo mundo, mas me ama especialmente”, gracejou, depois de se gabar dos “20 anos de amizade” com o anfitrião.

À vontade, o prefeito contou que recebe “broncas” de Malafaia e fez piada com seu “jeito fofo, doce e carinhoso”. Em seguida, defendeu e jurou lealdade ao pastor de palanque. “Independentemente de orientação política, quero dizer aqui: nós estamos do seu lado. Mexeu com Silas Malafaia, mexeu comigo. Viva a vida de Silas Malafaia, esse grande pastor”, exaltou.

Há menos de um mês, Malafaia foi alvo de operação da Polícia Federal. Teve que entregar o celular e o passaporte. O pastor é investigado por coação ao Supremo Tribunal Federal. Em conluio com a família Bolsonaro, tem incitado ódio e espalhado desinformação contra ministros da Corte.

No 7 de Setembro, Malafaia voltou a se esgoelar em comício a favor do capitão. Chamou Alexandre de Moraes de “ditador da toga”, comparou a PF à polícia nazista e classificou o julgamento dos chefes do golpe como “circo” e “teatro”. Depois vociferou contra a imprensa, atacou a “esquerda vagabunda” e pediu palmas para o governador Tarcísio de Freitas, que retribuiu com tapinhas em seu ombro.

Candidato a governar um estado com 32% de evangélicos, Paes tem aberto os cofres públicos para cativar chefes de igrejas. Só neste ano, deu R$ 1,9 milhão à Marcha Para Jesus e iniciou a construção de um parque temático bíblico na Zona Oeste, a pretexto de estimular o turismo religioso.

O prefeito nunca se notabilizou pela coerência na política. Já passou por oito partidos, celebrou e renegou os padrinhos Cesar Maia e Sérgio Cabral, chamou Lula de “chefe da quadrilha” e virou lulista desde criancinha. Na última campanha, vendeu-se como líder de uma “frente ampla” e jurou que cumpriria o mandato até o fim. Ao bajular o pastor oficial do bolsonarismo, escreve mais um capítulo dessa trajetória.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.