sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Vitória da democracia, 40 anos depois. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Quarenta anos depois do fim da ditadura de 1965-1985, oficiais-generais golpistas são punidos

11 de setembro de 2025 foi uma "vitória da democracia", como antigamente se lia em títulos gritantes dos jornais, até porque a democracia precisava de vitórias gritadas para nos dar um pouco mais de segurança de que sobreviveria. "Antigamente": nos anos 1990.

Além do mais, como diz o clichê, "a luta continua". Antes de pensar nas próximas ameaças, porém, é preciso ressaltar aspecto menos considerado do julgamento dos golpistas. Foram condenados quatro oficiais-generais de quatro estrelas, topo da carreira. Outros militares irão para a cadeia.

Além do capitão das trevas Jair Bolsonaro, foram condenados o almirante-de-esquadra Almir Garnier e os generais de Exército Braga NettoPaulo Sérgio Nogueira e Augusto Heleno. Quarenta anos depois do fim da ditadura de 1964-1985, oficiais-generais devem ir para a cadeia por tentativa de golpe. É preciso lembrar desse passado sempre vivo da história do país.

Não é possível dizer que a condenação de militares e civis responsáveis por 21 anos de opressão política e social teria sido vacina forte contra o golpismo, que ainda nos dias de hoje parece doença crônica, não ataque viral aleatório.

Mas teria sido pelo menos tentativa de prevenção, contragolpe imunizante, de educação para a democracia ou de evitar que ainda na Constituição de 1988 houvesse fresta para animar golpe militar.

A condenação dos generais ainda é tentativa, tardia, de encerrar uma história de golpes comandados por militares ou por civis secundados por militares.

Um otimista poderia dizer que Bolsonaro não se tornou ditador porque a maioria do Alto Comando do Exército "votou" contra; porque o general de Exército e comandante Freire Gomes e o tenente-brigadeiro e comandante Baptista Júnior disseram não a Bolsonaro e a seus esbirros. Foi por um fio, na verdade.

Ainda no começo de Lula 3, o Exército indicava o tenente-coronel Mauro Cid para chefiar o Batalhão de Ações e Comandos, uma unidade perigosa, e seguir caminho para o generalato.

Fora "aluno brilhante" de academias militares. Pois é. Cid e colegas estudaram como a Constituição permitiria "intervenção militar" (golpe) na escola de pós-graduação do Exército. É uma das ideias centrais do bolsonarismo puro.

A partir de 1945, quando começa algo parecido com uma democracia no Brasil, a violência militar contra as instituições foi recorrente. A ditadura de Getúlio Vargas caiu com um golpe, comandado por alguns generais com simpatias nazistas. Houve golpes ou tentativas em 1954, 1955, 1956, 1961, 1964; golpes dentro do golpe em 1968, 1969 e 1977.

Em 1985, Tancredo Neves foi internado horas antes de tomar posse como presidente. Naquela madrugada, perguntávamos se teria havido ou haveria golpe.

Outra vez o otimista poderá dizer que, no primeiro quarto do século 21, agora somos capazes de evitar o cancelamento da democracia e, de quebra, mandamos para a cadeia candidatos a tiranos e generais. Mas tivemos de fazê-lo.

Agravante, parcela crescente da população é indiferente ao destino da democracia. Outra parte é adepta da destruição, liderada por Bolsonaro, filhote da ditadura, defensor da tortura, de genocídio. Entre um terço e dois quintos do Congresso, no mínimo, poderiam votar pela anistia de Bolsonaro e comparsas.

Governadores de direita dos maiores estados do país também, assim como parte do empresariado e de elites profissionais.

A "luta continua". Sem anistia.

 

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