Folha de S. Paulo
Fala do governador Cláudio Castro de que a
operação foi um 'sucesso' choca pela brutalidade da realidade do país
É desesperançoso constatar que há saídas, mas faltam consensos para implementá-las
Primeiro, o choque com o horror da operação nos
complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.
Depois, novo choque com a declaração do
governador do estado, Cláudio
Castro, de que "tirando a vida dos policiais, o resto da
operação foi um sucesso".
É pavoroso ver que a maior autoridade do
estado tenha feito essa avaliação equivocada no dia seguinte ao desastre
da ação policial
mais letal da história do país.
É aterrador constatar que Castro recebe aplausos de setores importantes da sociedade, mesmo diante de tanta barbárie.
É cansativo assistir ao jogo de empurra de
autoridades brasileiras sobre quem tem mais ou menos culpa para a situação ter
chegado a esse ponto.
É desesperançoso constatar que há saídas
apontadas por especialistas, mas faltam consensos para implementá-las numa ação
conjunta eficaz e duradoura.
O governador disse o que disse porque sabe
que são muitos os que apoiam a ação ao estilo do ex-governador Wilson Witzel.
Em 2018, depois de eleito, Witzel foi o autor da frase "A polícia vai
fazer o correto: vai mirar na
cabecinha e... Fogo! Para não ter erro".
A ação de Castro mostrou que ainda estamos em
2018, num cenário pior. Sim, é preciso adjetivar à exaustão e repetir o óbvio:
esse modelo de ação está falido. Mostrar as imagens mais duras da nossa guerra
particular.
A tragédia exige uma visão mínima comum entre
os antagônicos. Mas essa articulação não virá em véspera de ano eleitoral. Essa
é a desgraça brasileira.
A eleição está chegando e já se sabia, antes
mesmo da operação, que a segurança pública seria um dos principais temas da
campanha. O noticiário está repleto de reportagens com opiniões, saídas,
apelos, compromissos do Congresso para aprovar projetos e o anúncio de acordo
para uma ação conjunta entre o governo federal e o estado do Rio no final do
dia.
Um roteiro conhecido de tragédias anteriores
que se repetem. É torcer para o problema não sair das páginas dos jornais daqui
a duas semanas. Não tem nada mais urgente.

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