quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Juros em 15% aumentam pressão sobre Galípolo, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Melhor que esse nível exorbitante caia de forma consistente, para evitar retrocessos, e que as causas sejam atacadas

Mercado não tem dado importância às críticas; no jargão financeiro, os disparos contra Galípolo 'não fazem preço'

É visível o aumento das críticas de integrantes do alto escalão do governo aos juros altos mantidos pelo Banco Central sob o comando de Gabriel Galípolo. O fogo amigo cresceu após o Fed ter reduzido os juros em setembro passado num cenário de pressão total de Donald Trump no BC americano para cortar a taxa.

Lula liberou auxiliares diretos a aumentar o tom das críticas à alta taxa de juros, como revelou a coluna Painel, na Folha. O petista não pretende atacar diretamente Galípolo, mas está frustrado e surpreendido negativamente com a defesa enfática do atual BC ao patamar da Selic, de 15%.

Há uma diferença agora que não deve passar despercebida. O mercado não tem dado importância às críticas. No jargão financeiro, os disparos contra Galípolo não fazem preço. É um sinal importante de que o atual presidente do BC conseguiu confiança no seu trabalho, após ser indicado para o cargo em agosto sob a desconfiança dos investidores de que seria teleguiado por Lula para reduzir a taxa Selic.

A lista é grande de ministros, parlamentares e empresários do setor produtivo com críticas aos juros de 15%, com a avaliação de que a inflação já está sob controle, enquanto o país caminha para a recessão numa economia que capotou.

Os números mais recentes não estão colaborando com esse discurso. Pesquisa mensal do IBGE mostra que o setor de serviços alcançou em agosto novo patamar recorde. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o volume do setor apontou expansão de 2,5%, 17º resultado positivo seguido.

O transporte de cargas está 38,7% acima de fevereiro de 2020. Na indústria, a produção de veículos apresentou alta de 2,9% de agosto para setembro, descontados os efeitos sazonais.

Há, sim, uma desaceleração, como esperado pelo atual estágio da política de juros altos do BC. Mas os números não apontam uma queda forte na atividade econômica. Melhor que os juros caiam de forma consistente para evitar retrocessos e que as causas desse nível exorbitante sejam atacadas. Disso, os críticos não falam.

 

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