Folha de S. Paulo
Melhor que esse nível exorbitante caia de
forma consistente, para evitar retrocessos, e que as causas sejam atacadas
Mercado não tem dado importância às críticas;
no jargão financeiro, os disparos contra Galípolo 'não fazem preço'
É visível o aumento das críticas de
integrantes do alto escalão do governo aos juros altos
mantidos pelo Banco Central sob
o comando de Gabriel
Galípolo. O fogo amigo cresceu após o Fed ter reduzido os juros em
setembro passado num cenário de pressão total de Donald Trump no
BC americano para cortar a taxa.
Lula liberou auxiliares diretos a aumentar o tom das críticas à alta taxa de juros, como revelou a coluna Painel, na Folha. O petista não pretende atacar diretamente Galípolo, mas está frustrado e surpreendido negativamente com a defesa enfática do atual BC ao patamar da Selic, de 15%.
Há uma diferença agora que não deve passar
despercebida. O mercado não tem dado importância às críticas. No jargão
financeiro, os disparos contra Galípolo não fazem preço. É um sinal importante
de que o atual presidente do BC conseguiu confiança no seu trabalho, após ser
indicado para o cargo em agosto sob a desconfiança dos investidores de que seria
teleguiado por Lula para reduzir a taxa Selic.
A lista é grande de ministros, parlamentares
e empresários do setor produtivo com críticas aos juros de 15%, com a avaliação
de que a inflação já está sob controle, enquanto o país caminha para a recessão
numa economia que capotou.
Os números mais recentes não estão
colaborando com esse discurso. Pesquisa mensal do IBGE mostra que o setor de
serviços alcançou em agosto novo patamar recorde. Na comparação com o mesmo
período do ano passado, o volume do setor apontou expansão de 2,5%, 17º
resultado positivo seguido.
O transporte de cargas está 38,7% acima de
fevereiro de 2020. Na indústria, a produção de veículos apresentou alta de 2,9%
de agosto para setembro, descontados os efeitos sazonais.
Há, sim, uma desaceleração, como esperado
pelo atual estágio da política de juros altos do BC. Mas os números não apontam
uma queda forte na atividade econômica. Melhor que os juros caiam de forma
consistente para evitar retrocessos e que as causas desse nível exorbitante
sejam atacadas. Disso, os críticos não falam.
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