O Globo
Às vésperas de completar 80 anos, Lula parece
à procura de um divã. O presidente tem usado atos públicos para expor
preocupações que o afligem. Entre as mais citadas, estão a crise da esquerda, o
futuro do PT e as razões para disputar o quarto mandato.
O petista tratou dos três assuntos na
quinta-feira, em encontro do PCdoB. Ele começou contando que havia penado para
gravar um vídeo de incentivo aos socialistas europeus. “Fiquei pensando que
mensagem poderia dar para as pessoas que ainda querem ser de esquerda. Não é
fácil”, desabafou.
Depois de reconhecer o avanço da extrema
direita, Lula admitiu que o campo progressista “não está convencendo”. Por
isso, precisaria adotar novas táticas para se reaproximar do eleitorado. “Nós
nos distanciamos do povo”, lamentou. “Do jeito que está, não dá. Temos que
mudar”, pediu.
Ao tratar da disputa de 2026, o presidente destacou a necessidade de atualizar o próprio discurso. “Eu serei candidato para quê? Para continuar falando de Bolsa Família? É preciso pensar num país maior”, afirmou.
O petista já havia feito parte dos
questionamentos em setembro, durante reunião com outros líderes progressistas
em Nova York. “Onde foi que a esquerda errou? Por que permitimos que a extrema
direta crescesse com a força que está crescendo? É virtude deles ou
incompetência nossa?”, perguntou.
O encontro foi promovido por Gabriel Boric,
que amarga baixos índices de popularidade no Chile. O país vai às urnas em
novembro, e as pesquisas mostram sua candidata em desvantagem nas simulações de
segundo turno.
No ato do PCdoB, Lula atribuiu parte dos
problemas à comunicação. Ele sugeriu que a esquerda prega para convertidos e
tem levado uma “surra” no front digital.
A presença do governo nas redes melhorou, mas
o Planalto ainda parece apostar em truques batidos. Em solenidade recente, o
ministro Sidônio Palmeira se gabou de ter trocado a expressão “Governo federal”
por “Governo do Brasil” nas peças de publicidade oficial. A inovação já
aparecia na propaganda do governo de Fernando Collor. Foi adotada pela primeira
vez em 1990.
Apesar das falas em tom de autocrítica, Lula
tem deixado claro que não perdeu o apetite pelo poder. Se for reeleito, poderá
ficar no cargo até os 85 anos de idade. Nesta quinta, ele avisou: “Tenho
disposição para mais umas cinco eleições”.
Memórias do cárcere
A história é contada por um dos principais
candidatos à vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal. Em
encontro recente, um aliado tentou advertir Lula sobre erros que ele teria
cometido em indicações anteriores. O presidente interrompeu a conversa e
dispensou o conselho: “Passei 580 dias em Curitiba lembrando esses erros. Pode
ter certeza que eu já pensei mais nisso do que você”.
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