quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Vale tudo pelo eleitoral, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Promessas vãs e ataques ao Congresso não são a maneira mais ética de Lula buscar a reeleição

Se o norte do governo é a eleição, a oposição também tem o direito de se guiar pela mesma bússola

campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) já tem dois novos pilares de sustentação para se somarem à defesa da soberania nacional, à luta de pobres contra ricos, à entrega de benefícios à classe média e a uma série de medidas na área da segurança pública.

São eles a batalha contra um Congresso inimigo do povo e propostas de forte apelo popular, mas com baixíssima chance de sucesso a ser alcançada ainda neste mandato: tarifa zero no transporte público para todo o país e redução da jornada de trabalho semanal. Lula se escora em práticas deletérias do próprio Parlamento, joga com uma realidade parcial, mas nem por isso irreal. Agora mesmo cultiva mais um antagonismo ao insistir numa nova versão de aumento de tributos para fechar as contas.

da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 praticamente concretizada. Ganha com isso credibilidade e, se o transporte grátis e o aumento de folgas semanais para trabalhadores formais não acontecerem, culpa do Congresso.

Visto assim do alto de um palanque, o panorama parece risonho e a estratégia bem estruturada para fazer frente à ala adversária, ora completamente desorganizada. Pode muito bem servir para ganhar mais um mandato de presidente.

e do ponto de vista da ética, dos valores reais e muitas vezes defendidos no discurso? Valerá à pena desqualificar o Poder Legislativo que a população elegeu, será socialmente educativo reprovar o exercício da oposição? Logo o PT, que se fez assim?

Lula retalia o Parlamento por inconformismo de não ter sido ajudado pela maioria a cumprir as metas fiscais e arrumar uns bilhões para gastar daqui até a eleição. Se o governante não tem desprendimento institucional e ferramentas políticas suficientes para lidar com o problema, a vingança não é método que esteja à altura da função.

Afinal, se o norte do governo é eleitoral, a oposição também tem todo o direito de usar a mesma bússola.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.