O Povo (CE)
A aprovação da atuação policial aponta para a
relação da sociedade brasileira com a mão armada do Estado, os efeitos das duas
décadas de ditadura militar são longevos, reverberando quarenta anos depois de
seu fim
Dias após a operação policial no Rio de
Janeiro, que resultou em pelo menos 121 mortos, pesquisas de opinião
revelam que, apesar da imagem chocante de dezenas de corpos enfileirados na
Praça São Lucas, o apoio à operação é maior do que a desaprovação.
Na pesquisa Quaest, divulgada em 3/11, temos 64% de aprovação; na pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada em 01/11, 69,6% de aprovação, e na pesquisa do Instituto AtlasIntel, divulgada em 31/10, 62,2% de aprovação. Ainda que existam variações na porcentagem de apoio, fica evidente que há um consenso na opinião pública sobre o uso da violência no enfrentamento ao crime organizado.
A aprovação da atuação policial aponta para a
relação da sociedade brasileira com a mão armada do Estado, os efeitos das duas
décadas de ditadura militar são longevos, reverberando quarenta anos
depois de seu fim. Ao que parece, para o brasileiro médio, apesar de não haver
formalmente pena de morte no país, a polícia tem autoridade para matar
suspeitos sem o devido processo legal, e se este for inocente, é um efeito
colateral.
Esse é um ponto fundamental da ascensão da
extrema-direita na última década, pois políticos desta ala souberam unir a
cultura política autoritária e violenta dos brasileiros com a manipulação do
medo que o aumento da criminalidade causa. Enquanto representantes da
esquerda mobilizam argumentos de prevenção da violência e promoção da cultura
de paz a partir de políticas públicas de longo prazo, sendo associados por seus
opositores como "defensores de bandidos".
Por isso, é possível perguntar se a ação
estadual tem objetivos eleitorais, com vistas a 2026 e a indefinição sobre quem
será o candidato contra a reeleição de Lula (PT), pois foi anunciado
logo após a operação o "Consórcio da Paz", formado por sete
governadores de direita.
Na Ciência Política sabemos que o voto é
explicado por variáveis sociodemográficas que se relacionam com a
opinião do eleitorado, e dentre as pautas mais importantes para a decisão sobre
em quem votar estão a economia, a segurança e a corrupção. Portanto, diante do
fato de que brasileiros, por várias razões, apoiam a atuação violenta das
polícias, tentar convencê-los do contrário é ineficaz.
Não por acaso, a resposta de comunicação do
governo federal foi evitar críticas abertas ao governo do RJ e propor a
aprovação da PEC da Segurança Pública como medida efetiva para o
enfrentamento do crime organizado. Mas resta saber qual será a estratégia
adotada por Lula e seu partido nas eleições de 2026 para tratar do tema que
parece ser o calcanhar de Aquiles diante da extrema-direita. Afinal, as pessoas
podem se horrorizar com a opinião alheia, mas aos candidatos cabe conseguir
votos.

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