O Estado de S. Paulo
Bolsonaro amarga derrotas jurídicas enquanto vê capital político murchar em reveses no Congresso
A temporada de reveses políticos e jurídicos de Jair Bolsonaro deve ser sacramentada com a chegada dele à Penitenciária da Papuda. Segundo fontes do Supremo Tribunal Federal (STF), esse é o destino penal mais provável do ex-presidente. Mas a definição do endereço do réu para os próximos anos, centro da polêmica em Brasília, escamoteia algo maior: o ocaso político acelerado do capitão.
No último mês, Bolsonaro deixou de ser quem define os rumos da oposição e passou a frequentar o noticiário a partir das derrotas judiciais amargadas. O plano de anistia perdeu tração. Deputados conservadores tentaram inserir no projeto Antifacção mecanismos para reeditar a blindagem a criminosos, mas nem cogitaram incluir o perdão a golpistas.
Ou seja: a pauta agregadora da direita deixou
de ser “Bolsonaro livre” e foi substituída pela segurança pública. Um sinal de
que o bolsonarismo não morreu, mas está cansado de Jair Bolsonaro.
Para completar a derrocada política, Paulo Gonet foi reconduzido para novo biênio à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR) com o aval da maioria dos senadores. Foi dele a iniciativa de denunciar Jair e o filho zero três, Eduardo. A votação sobre o destino do parlamentar começa amanhã, e deve resultar em abertura de ação penal.
No mesmo dia, será oficialmente encerrado o
julgamento do recurso de Jair contra a condenação pela trama golpista. Ele deve
ser preso entre o fim de novembro e o início de dezembro.
Ainda no campo político, Bolsonaro viu seu
capital murchar ao ser abandonado por Ibaneis Rocha (MDB). O governador do
Distrito Federal disse ao Estadão ontem que “decisão judicial se cumpre” e não
vai questionar eventual ordem de Alexandre de Moraes de trancafiar o aliado
político na Papuda.
No mesmo dia, a pesquisa Quaest mostrou que,
para 45% dos brasileiros, Lula saiu mais forte do encontro com Donald Trump que
abriu caminho para a revisão do tarifaço. Para 30%, Lula saiu mais fraco. O
restante disse que não sabia ou não respondeu.
As punições ao Brasil e aos ministros do STF
eram a carta na manga da família Bolsonaro para minar a popularidade de Lula e
livrar o pai da cadeia. Não funcionou.
Michelle Bolsonaro resumiu bem a fase atual do marido. “Um abismo foi puxando o outro. Ele tem vivido dias muito difíceis”, lamentou no sábado, em um evento do PL Mulher. A ex-primeira-dama, que ainda não se declarou candidata para 2026, preferiu não sepultar publicamente a vida política do cônjuge: “Essa injustiça vai acabar, eu creio”.

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