quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Divisão na direita beneficia Lula? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eleição em dois turnos reduz riscos de fragmentação de uma das alas ideológicas

Introdução de voto valorativo permitiria superar quadro de polarização cristalizada

Se a direita sair dividida para a disputa presidencial do ano que vem, o maior beneficiário será Lula? Eu subscreveria essa tese, se nosso pleito fosse decidido em turno único. Não sendo esse o caso, discrepo.

Qualquer que seja o nome do candidato da direita que passar para o segundo escrutínio, ele receberá o voto até dos bolsonaristas mais radicais que agora esperneiam e acusam traições generalizadas. É o que acaba de ocorrer no Chile. A direita saiu dividida, a esquerda chegou à frente, mas é o candidato pinochetista que desponta como favorito na disputa final, já que a soma dos votos conservadores supera com folga a dos progressistas.

O quadro até poderia ser outro se houvesse aqui dois candidatos de esquerda viáveis, que acabassem à frente dos postulantes de uma direita hiperfragmentada. Esse, porém, me parece um cenário extremamente improvável. Alguém imagina um segundo turno entre Lula e um representante do PSB?

O resumo da história é que a direita abstrata já tem lugar assegurado no segundo turno. Individualmente, porém, cada um dos postulantes conservadores precisa evitar o veto do clã Bolsonaro, que ainda tem força eleitoral suficiente para inviabilizar uma candidatura. Mas apenas uma. Eles não conseguem tirar todos os direitistas da jogada ao mesmo tempo. É essa incerteza individual que vem impedindo a direita abstrata de dar um pé na bunda definitivo em Bolsonaro.

A introdução do sistema de votação em dois turnos foi um avanço democrático, pois deu ao eleitor, que já tinha o poder de apoiar um candidato, o de rejeitar um dos concorrentes mais votados. Seria matematicamente possível avançar mais, adotando algum sistema de voto valorativo, que daria ao eleitor a possibilidade de ponderar sua escolha. Um terceiro colocado na preferência da maioria pode ser uma opção mais aceitável do que os dois primeiros com altíssima rejeição.

Seria uma fórmula para superar o quadro de polarização cristalizada dos últimos anos, mas é um tema que nenhum político coloca.

 

 

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