O Estado de S. Paulo
“Meter ferro quente” foi teste de Bolsonaro para tirar a tornozeleira na hora H, da fuga
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro,
determinada pelo ministro Alexandre de Moraes um dia depois da inclusão do
deputado Alexandre Ramagem na lista da Interpol, pode ser definida como uma
“ação antidebandada”. O bolsonarismo agonizando e o trânsito em julgado da
trama golpista chegando detonaram um “salve-se quem puder”. A PF e Moraes estão
de olho.
A prisão, que não é (ainda) pela condenação
por tentativa de golpe de Estado, foi depois de PF e Moraes juntarem as peças
do quebra-cabeça numa imagem nítida: Bolsonaro pretendia fugir do País, tal
como os deputados Eduardo, agora réu, Ramagem e Carla Zambelli, já condenados.
Apesar da troca na linha de frente, do desastrado Eduardo Bolsonaro pelo até então moderado Flávio Bolsonaro, e do vídeo desesperado do 01 articulando uma “vigília” para salvar o bolsonarismo, parece tarde demais: escaldados pelas prisões do 8/1 e desencantados com o antipatriotismo dos seus ídolos, os militantes abandonam as ruas, enquanto os cúmplices políticos abandonam o País.
Depois de perder dois dos três lemas bolsonaristas, “Pátria” e “Família”, o clã tenta se concentrar no terceiro, “Deus”, e foi com citações bíblicas, mas em tom “belicoso”, como classificou Moraes, que Flávio convocou a “vigília” para ontem à noite, na frente da casa do pai.
Horas depois do vídeo, o ex-presidente “meteu
ferro quente” na sua tornozeleira eletrônica, como admitiu à PF, até porque seria
impossível negar. Ao que tudo indica, ele estava fazendo um teste, à meia
noite, sobre como tirá-la na hora certa, ou seja, antes da tal vigília – ou da
fuga?
Ao justificar sua decisão, Moraes defendeu
que a intenção da “vigília” era gerar tumulto e criar o ambiente propício para
a fuga de Bolsonaro, que mora a 15 minutos de carro da Embaixada dos EUA.
Donald Trump já virou a página Bolsonaro e se limitou a dizer que a prisão “foi
uma pena”, mas não bateria a porta para ele.
Moraes determinou “todo respeito à
dignidade”, sem mídia e algemas, e um atendimento médico em tempo integral do
ex-presidente, que tem saúde frágil. Mesmo assim, a prisão de Bolsonaro
comporta riscos políticos raramente levados em conta pelo xerife do STF.
Em seu vídeo, Flávio falou em “perseguição”, “reação” e retomada do poder, deixando no ar a intenção de, em nome de “Deus”, usar a vitimização de Bolsonaro para inflamar a sociedade. É um risco, mas Bolsonaro perdeu força, a comoção não é tanta e os aliados que não fugiram estão mais ocupados, e preocupados, com o nome da direita à Presidência e com suas próprias campanhas em 2026.

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