sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Governo 'esquece' que pode ajudar nos juros, por Carolina Mandl

Folha de S. Paulo

Enquanto o BC tenta conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia

É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter se esquecido que o governo, do qual faz parte, também contribui para o trabalho do Banco Central. Na terça (4), ele disse que, se fosse diretor, votaria pelo corte da taxa básica de juros. Era uma tentativa de influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária, que se reuniria no dia seguinte.

O recado, como todo o mercado já previa, foi ignorado. Na quarta (5), o Copom votou pela manutenção da Selic em 15% ao ano, patamar mais alto em quase 20 anos. Desde fevereiro de 2022, a taxa está em dois dígitos.

No comunicado em que detalha sua decisão de não cortar os juros, o comitê explicou que os riscos para a inflação continuam a rondar, assim como as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.

Trouxe também um lembrete a Haddad. O colegiado disse que acompanha "como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros".

Enquanto o BC eleva os juros para desacelerar a economia e conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia. O impacto fiscal da reforma do Imposto de Renda ainda é uma incógnita. Estudos do Senado apontam para um rombo de até cerca de R$ 4 bilhões, enquanto a Fazenda diz que a consequência é nula.

A isto somam-se os estudos para a criação de uma tarifa zero no transporte público em todo o território brasileiro, a permissão para o que governo gaste com defesa nacional R$ 5 bilhões por ano sem que sejam contabilizados no teto de gastos, a tentativa de derrubar o limite do Pé-de-Meia e tantos outros projetos.

É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral. Enquanto uma vai na direção restritiva e está em 15% ao ano, a outra é expansionista, na casa dos bilhões de reais. Se os diretores do BC estivessem no governo, eles provavelmente também fariam as coisas de uma forma diferente.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.