Folha de S. Paulo
Enquanto o BC tenta conter a inflação, o
governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia
É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral
O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, parece ter se esquecido que o governo, do qual faz parte,
também contribui para o trabalho do Banco Central.
Na terça (4), ele disse que, se fosse
diretor, votaria pelo corte da taxa básica de juros.
Era uma tentativa de influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária, que
se reuniria no dia seguinte.
O recado, como todo o mercado já previa, foi
ignorado. Na quarta (5), o Copom votou
pela manutenção da Selic em
15% ao ano, patamar mais alto em quase 20 anos. Desde fevereiro de 2022, a taxa
está em dois dígitos.
No comunicado em que detalha sua decisão de não cortar os juros, o comitê explicou que os riscos para a inflação continuam a rondar, assim como as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.
Trouxe também um lembrete a Haddad. O
colegiado disse que acompanha "como os desenvolvimentos da política fiscal
doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros".
Enquanto o BC eleva os juros para desacelerar
a economia e
conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo
à economia. O impacto fiscal da reforma do Imposto de Renda ainda é uma
incógnita. Estudos do Senado apontam para um rombo de até cerca de R$ 4
bilhões, enquanto a Fazenda diz que a consequência é nula.
A isto somam-se os estudos para a criação de
uma tarifa zero no transporte público em todo o território brasileiro, a
permissão para o que governo gaste com defesa nacional R$ 5 bilhões por ano sem
que sejam contabilizados no teto de gastos, a tentativa de derrubar o limite do
Pé-de-Meia e tantos outros projetos.
É a política
fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano
eleitoral. Enquanto uma vai na direção restritiva e está em 15% ao ano, a outra
é expansionista, na casa dos bilhões de reais. Se os diretores do BC estivessem
no governo, eles provavelmente também fariam as coisas de uma forma diferente.

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