Folha de S. Paulo
Decisão do STF sobre Vorcaro, seja qual for,
exalará todos os cheiros da suspeita
Banqueiro acusado de crimes contra o sistema
financeiro patrocinou elites políticas, jurídicas e empresariais
Daniel
Vorcaro é acusado de crimes contra o sistema financeiro. Teria
praticado as mais desvairadas aventuras com dinheiro público e privado, fundos
de previdência estatais, recursos de aposentados, falsificado títulos de
crédito, negociado CDBs de contos de fadas.
Sob a condescendência do Banco Central, Cade, Fundo Garantidor de Créditos, além de governos municipais e estaduais que bancaram suas promessas, o Banco Master explodiu e acaba de ser liquidado pelo Banco Central. Vorcaro segue em prisão preventiva enquanto advogados trabalham juridicamente e "sócio-politicamente" para tirá-lo de lá.
O banqueiro costumava ressaltar que um de
seus lemas nos negócios era escolher bem as pessoas "com quem se conectar
nessa jornada". Levou tão a sério sua jornada que passou a patrocinar
elites políticas, jurídicas e empresariais, a financiar o respeito e a
admiração da Faria Lima e da praça dos Três Poderes.
Em 2022, no Lide Brazil Conference, de Nova
York, Vorcaro financiou jantar de gala para ministros Gilmar Mendes,
Luis Roberto Barroso, Alexandre
de Moraes, Ricardo
Lewandowski e mais dezenas de pessoas. O Banco Master não estava anunciado
como patrocinador oficial, mas havia dinheiro de Vorcaro.
Em 2023, no 1º Fórum Esfera Internacional,
realizado em Paris, na presença de Barroso e Gilmar, Vorcaro elogiou o STF como "guardião
da democracia". Em 2024, no 2º Fórum Esfera Internacional, ali perto em
Roma, com Toffoli, Lewandowski, Barroso e Gonet no recinto, Vorcaro palestrou e
alertou que o governo precisava resolver o "buraco das contas
públicas".
Em 2024, em Londres, por ocasião do Fórum
Jurídico Brasil de Ideias, organizado pelo Grupo Voto com patrocínio do Banco
Master, Gilmar, Moraes, Toffoli e Lewandowski ofereceram suas próprias ideias a
esse fórum de ideias do encontro lobístico.
As rodas de conversa organizadas por empresas
como Lide, Voto, Esfera e IDP contam com a presença de um Brasil muito
particular, muito pequeno, muito homogêneo, muito rico. Encontros promíscuos
temperados por cotas de diversidade nas mesas públicas, sem cotas nos coquetéis
privados. Um Brasil que estabelece uma relação abusiva com a lei.
A configuração de conflitos de interesse
nesse novo capítulo da batalha jurídica que enreda o Banco Master e seus
sócios, se não traz nada de original, pelo menos ajuda a explicar o óbvio com
mais riqueza romanesca.
Ministros do STF tornaram impossível a
instituição do STF tomar decisão digna de respeito sobre o Banco Master e seus
sócios. Se conceder habeas corpus para tirá-los da prisão, desconfiaremos de
favor aos amigos ricos. Se negar habeas corpus, desconfiaremos que foi
justamente para prevenir a imagem de favor aos amigos.
Teremos toda razão para duvidar de qualquer
despacho que beneficie ou não qualquer desses sujeitos e suas empresas. Porque
as condições para aplicação imparcial da lei foram suprimidas pelos ministros
que frequentam esse interminável happy hour.
A banqueirofilia não é exclusiva à
magistocracia. Mas quando entra no sistema de justiça, corrompe as condições
pressupostas no respeito que magistrados nos pedem e na autoridade que exercem.

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