Folha de S. Paulo
Mas é preciso civilizar as forças de
segurança, sob pena de vê-las convertidas num Leviatã
No Brasil, há áreas em que quem exerce o
monopólio da violência não é o Estado e sim quadrilhas
Quando saí em férias, Lula vivia
um doce
idílio com as pesquisas eleitorais, escorado no enfraquecimento do
bolsonarismo e na perspectiva de aprovação de medidas econômicas populares. Mas
aí veio a malfadada Operação
Contenção, que resultou numa pilha de 121 cadáveres e mudou o eixo do
debate nacional, que migrou da economia para a segurança pública.
A próxima leva de pesquisas indicará se o deslocamento narrativo trouxe danos à popularidade presidencial e, em caso afirmativo, qual a sua extensão. Segurança é um terreno em que a esquerda tradicionalmente vai mal. Não penso que a direita se saia melhor, mas seus equívocos estão mais em linha com os anseios populares, que é o que importa eleitoralmente.
Como sempre digo aqui, polícia é
civilização. Um dos maiores passos para a pacificação social foi dado quando o
Estado tomou para si o monopólio do uso legítimo da violência,
isto é, quando criou a polícia.
Nas contas de Steven
Pinker, isso fez com que as taxas de homicídio na Europa do século 16
despencassem para algo entre um décimo e um quinquagésimo dos valores
anteriores.
É claro que, uma vez criada a polícia, a
prioridade passa a ser controlá-la, já que, sem amarras institucionais, ela
muito facilmente se converte no que Thomas
Hobbes chamou de Leviatã, o monstro bíblico contra o qual humanos comuns
pouco podem.
No Brasil, juntamos o pior de dois mundos. Há
extensas áreas nas quais quem exerce o monopólio da violência não é o Estado,
mas sim organizações criminosas, e muitas das autoridades incumbidas de
civilizar as polícias se furtam a fazê-lo, quando não as incitam a agir com
truculência máxima.
Não sou pessimista a ponto de achar que seja
impossível fazer progresso e passar a enfrentar o crime com mais inteligência e
menos tiroteios. Mas receio que o momento certo para propor mudanças
legislativas é o primeiro ou o segundo ano de cada mandato presidencial. Nos
demais, a tendência é que o bom debate seja sequestrado pela disputa eleitoral.
É o que vemos agora.
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