Folha de S. Paulo
Cadeiras no Supremo viram objetos de
interesses pessoais do Executivo e arma de pressão do Legislativo
A preservação da independência e do prestígio
do tribunal é ignorada no jogo rasteiro das indicações
O Supremo Tribunal Federal é um lugar sério
demais para se brincar de diversidade. Ali, o jogo tampouco permite que o dono
da banca se dê ao dever de observar preceitos relativos às profundidades do
saber jurídico.
Tudo indica serem essas as ideias que motivam o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) na escolha de suas indicações ao STF.
O critério é abertamente o da fidelidade
pessoal. Assim como foi com Jair
Bolsonaro (PL) e talvez como venha
ser adiante, os presidentes da República assumindo opção preferencial por
nomear advogados de defesa para a corte suprema.
As garantias da Constituição não
lhes bastam nem interessam. Importa o compromisso de cada um com as conveniências
do governante, que, mesmo quando fora do poder, terá um juiz supremo para
chamar de seu pelo maior tempo possível. Daí os indicados serem cada vez mais
jovens. Nunca se sabe o que reservam os dias de amanhã.
A independência e o prestígio do Supremo
Tribunal Federal não entram na conta. Indiferença compartilhada por alguns
juízes da corte, que entram no embate manifestando suas preferências como se a
eles coubesse tal julgamento.
A prerrogativa da indicação é do Executivo e
a análise, em tese de competência, tarefa do Senado.
Os representantes desses Poderes, contudo, não cumprem a contento suas missões.
O presidente escolhe sob a ótica da subordinação e os senadores coreografam o
gesto da submissão aos julgadores por foro especial.
Em alguns casos, como ocorreu na nomeação
de André
Mendonça e como agora com Jorge Messias,
parlamentares dão-se ao desplante de fazer do Supremo joguete na rinha
política.
Tais distorções fazem
do Legislativo um mero carimbador no lugar de examinador detido das regras
constitucionais de conduta ilibada e notório saber jurídico.
A visão de que a vontade do mandatário está
acima da lei reveste o potencial de recusa em ofensa pessoal e evidência de
fragilidade do chefe da nação. Ao que se pode chamar de má-formação
institucional.

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