O Globo
O nível de alucinação caiu, a capacidade de
desenvolver argumentos complexos cresceu
Na semana passada, o CEO da OpenAI, Sam Altman, mandou um e-mail a todos os funcionários da empresa. O título: “Code Red”. Alerta vermelho. Altman cancelou todos os projetos paralelos em que o time estava envolvido. Entre eles, um agente para compras, que permitiria a qualquer um ter uma IA que vai às lojas virtuais e já separa todos os produtos que quer. Facilitaria imensamente a compra de passagens aéreas, com as diferenças de valor flutuando de um dia para o outro. Outro projeto suspenso foi a publicidade para as contas gratuitas de ChatGPT. Mas há razão para o alerta. O Google está chegando perto demais.
Neste dezembro, o ChatGPT faz três anos e,
com ele, o mundo vive em estado permanente de revolução tecnológica. IAs
avançaram imensamente. O nível de alucinação caiu, a capacidade de desenvolver
argumentos complexos cresceu. Nas mãos de usuários experientes, IAs levam a
instantes de imensa criatividade. Reúnem informações em nada óbvias que
permitem conclusões novas. Fazem pesquisas profundas, complexas, úteis a
qualquer um que tenha por trabalho tomar decisões. Segundo o recente relatório
da Universidade Stanford sobre o estado da IA, elas já alavancaram o número de
patentes novas, a descoberta de novos materiais e o rendimento de operadores de
SAC. E essa é uma tecnologia na primeira infância, com alguns anos pela frente
de evolução rápida.
Até aqui, a disputa claramente manteve uma
hierarquia. No primeiro pelotão, liderando, a OpenAI (GPT), seguida de Google
(Gemini) e Anthropic (Claude). Um segundo grupo, sempre pelo menos uma geração
atrás, com X/AI, Meta, DeepSeek, Mistral, entre outras. As três líderes não
ocupam a posição à toa. Os cientistas que inventaram esses modelos de linguagem
são do Google. Quem mostrou seu potencial, criando as versões 1 e 2 do GPT, são
os fundadores da Anthropic. Quem detém os cérebros pioneiros tem nítida
vantagem. O que é novo é o Gemini se aproximar tanto do GPT. Ainda não assumiu
a pole position, mas é como se fossem Prost e Senna emparelhados, um com o bico
só de vantagem.
É por isso que a ordem de Altman foi largar
tudo e concentrar no modelo. No ChatGPT. Ele precisa ficar mais rápido e mais
preciso. Hoje, segundo o site The Information, o GPT é responsável por 70% do
uso de IA na forma de chat do mundo. Já representa 10% das buscas na internet.
É uma potência: 800 milhões usam pelo menos uma vez por semana. O Google ainda
conta usuários por mês — 650 milhões. De novo: por mês. Não por semana.
Há alguns problemas para a OpenAI. O Gemini
cresce num ritmo mais intenso que o GPT. A empresa precisará de investimento de
US$ 100 bilhões nos próximos meses, enquanto o Google ainda tem um bolso
bastante fundo. Além disso, a OpenAI depende da Nvidia para produzir os chips
dos computadores que processam as perguntas ao chat. O Google, não. O Google é
autônomo, projeta seus próprios chips. Não bastasse, quem tem acesso pago à
suíte de aplicativos Gmail e calendário do Google já tem acesso ao Gemini. O
próprio buscador, o Google, lançou um modo IA, que permite procurar na internet
por meio de uma janela de chat. E há um último ponto: o Gemini está bom. Para a
maioria dos usuários, dá respostas indistinguíveis do concorrente. Em vídeo e
imagem, já é obviamente melhor.
Essa guerra não está decidida. A OpenAI é uma
empresa agressiva, criativa e motivada. Altman é um CEO jovem, claro candidato
a novo Steve Jobs. E é claramente um visionário. Faz alguns anos, é ele quem
dita os caminhos do mundo da tecnologia. Inclua-se na conta o fato de a empresa
ser pequena e, portanto, leve. Pode mudar rapidamente de estratégia. O Google,
em contraste, tem muito a perder. O receio de mudanças repentinas foi, aliás, o
que fez a companhia inventar o transformer, coração da IA generativa, e deixar
a concorrente desenvolver a ideia.
O ano que entra, 2026, será marcado por essa
briga. Ou pelo estouro da bolha. Quiçá, ambos. Emoção não faltará.

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