Folha de S. Paulo
Redução de penas foi aprovada mediante
truques de interpretação, acertos questionáveis e falsas alegações
Não haverá moderação enquanto as correntes
radicalizadas sobreviverem à custa do uso das armas de guerra
A aprovação no Congresso Nacional do projeto de lei que reduz as penas dos condenados por tentativa de golpe de Estado não apaga as seguintes distorções: o caráter casuístico da matéria, a deslavada troca de interesses entre governo e oposição, o atropelo do regimento e a falsidade da alegação de que o gesto marcaria o início da pacificação entre as correntes radicalizadas do país. Mero conto do vigário.
O Congresso alterou a lei de execuções penais
para beneficiar pessoas condenadas. Pretendeu, com isso, modificar decisões do
Supremo Tribunal Federal, que ainda vai examinar o caso, mas a intenção do
Legislativo atendeu a interesses de um grupo político. De oposição, mas com
apoio do governo, cujo cinismo promete veto.
O Senado fez
uma leitura marota do conceito de emenda de redação e ignorou os alertas de
senadores mais responsáveis sobre os defeitos do texto. Houve um toma lá dá cá
negociado na noite anterior à votação, mediante o qual a oposição garantiria
votos para o aumento de fontes de arrecadação no valor de R$ 20 bilhões.
Não há argumento pacificador capaz de se
sustentar ante a seguinte clareza: não existe paridade de condições entre
agressor e agredido. Os condenados desferiram ataques dos quais a
institucionalidade se defendeu.
Não houve sinal de arrependimento da parte
dos agressores, admissão de culpa ou de compromisso de não repetirem os atos de
grave desobediência civil. Ao contrário, reivindicam o perdão como prova de que
nada fizeram de errado.
Portanto, podem fazer de novo sem que nada de
mais grave lhes aconteça. Haverá sempre uma condescendência à espreita para
perdoá-los em nome de uma paz que não virá enquanto estiver em disputa a
bandeira da hegemonia cultural e política.
Não haverá moderação possível no horizonte
enquanto prevalecer a lógica da guerra entre os que não têm ferramentas nem
disposição para depor as armas e construir ambiente propício a diálogos
baseados em preceitos de natureza republicana.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.