terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Fim do ano melhor do que o esperado, por Míriam Leitão

O Globo

Inflação cai, preço dos alimentos surpreendem e dólar recua: 2025 termina melhor do que projetado pelos economistas

O ano termina melhor do que o esperado e melhor do que começou. No início de 2025, o cenário de mercado era de inflação em 6% e de alta de alimentos entre 8% e 9%. A projeção da inflação está entre 4% e 4,4%, e a inflação de alimentos fecha o ano em 1,35%. A taxa de câmbio estava em R$ 6,18 em janeiro. Atualmente, o dólar gira em torno de R$ 5,35. Quem faz essa comparação entre o que se esperava no começo do ano e o que realmente aconteceu é Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual.

Alguns números da economia brasileira são realmente surpreendentes. A inflação de alimentos, por exemplo, fez uma trajetória totalmente diferente do que se esperava.

— No ano passado, a inflação de alimentos foi 8,2%, e foi um dos fatores que impactou negativamente a aprovação do presidente. No início do ano, a expectativa era de 9%. Vai fechar o ano em 1,3%. Houve uma queda muito forte da inflação de alimentos e o cenário em geral é bem melhor do que o projetado no começo do ano — disse Mansueto.

Outros economistas com quem eu conversei ontem apontam dados de mudança de cenário. No começo do ano, quando o Banco Central deu aquele primeiro choque de juros e, depois, continuou elevando as taxas, havia duas apostas: um grupo achava que o gasto fiscal era alto, portanto, não adiantaria subir juros porque não debelaria a inflação. Outro grupo achava que aquele choque de juros jogaria a economia numa recessão. Não ocorreu nem o primeiro, nem o segundo cenário. A inflação está convergindo para a meta, e a economia desacelerou, mas está crescendo ao ritmo de 2%.

Apesar disso, o Banco Central teve que escrever este ano duas cartas para explicar o não cumprimento da meta. O atual presidente nunca cumpriu a meta e, de acordo com as projeções de mercado, não cumprirá durante este governo, porque, como se sabe, a meta é 3%. Há três semanas, as perspectivas dos economistas colocam a inflação dentro do intervalo de flutuação, mas bem acima do centro da meta.

— Alguns bancos estão prevendo 4% de inflação este ano e outros, 4,4%. Mas, no início do ano, a previsão era de 6%. Para o próximo ano, a previsão é de 4%. Se levarmos em conta que a inflação de 2023 foi de 4,6% e a de 2024 foi de 4,8%, a média deste governo ficaria em torno de 4,5%, o que é um resultado muito bom. Menor do que isso só os 4,3% da taxa média do governo Temer, que não foi um ciclo completo de quatro anos, teve apenas dois anos e meio de duração — explica o economista.

A inflação de alimentos terá uma média ainda menor nos quatro anos, em torno de 3% pelos cálculos de Mansueto.

— Olhando para a frente, as expectativas de inflação estão caindo. Tanto que é muito provável que, em janeiro, o Banco Central inicie um ciclo de corte de juros, porque quando se observa o horizonte relevante, ou seja, 18 meses para a frente, a inflação está caindo.

Esta semana sairá o PIB do terceiro trimestre, as projeções mostram que a economia está em desaceleração, e o resultado pode ser um pequeno positivo, em torno de 0,2%. O que é surpreendente, dado o nível dos juros reais, em torno de 10%. A economia está diminuindo o ritmo, mas não entrando em recessão.

Mesmo com a inflação em queda e a economia desacelerando — sinais de que a política monetária está fazendo efeito — não se espera queda dos juros na reunião do Copom na próxima semana. Mas há grande aposta de que a Selic começará a cair no ano que vem.

— Outra surpresa foi o desemprego. Como o Banco Central começou a subir os juros em setembro do ano passado, era natural acontecer o seguinte: juros sobem, economia esfria, desemprego aumenta. Livro-texto de economia. No começo do ano, parecia que o desemprego ia subir um pouco, como era esperado. Mas depois mudou. O desemprego começou a cair de forma consistente, e o último dado do IBGE mostrou a taxa de 5,4%, um mínimo histórico.

Ele acha que isso não é prova de economia aquecida. Tanto que o Caged veio muito fraco, e está havendo uma queda da força de trabalho, o que explicaria o número baixo do desemprego. Mesmo assim, há quem aponte os números surpreendentes do consumo. Na Black Friday, houve 297 milhões de operações no Pix, movimentando R$ 160 bilhões. A economia tem surpreendido o tempo todo este ano.

 

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