Correio Braziliense
Donald Trump está esperando a melhor hora
para atacar. Quando, onde e como é a incógnita. O Exército brasileiro tomou
suas cautelas
O presidente Donald Trump não mobilizou um gigantesco aparato militar, com porta-aviões, dezenas de caças de última geração, submarino nuclear, helicópteros moderníssimos e pessoal especializado, para as costas da Venezuela apenas para tirar fotografia e aparecer nas primeiras páginas dos principais jornais do mundo. Militares norte-americanos já abordaram alguns navios que deixavam os portos daquele país e mataram mais de 100 pessoas que viajavam em lanchas rápidas, que, segundo os porta-vozes militares, transportavam drogas. O norte-americano está esperando a melhor hora para atacar. Quando, onde e como é a incógnita.
Autoridades do governo brasileiro colocaram
de sobreaviso todos os setores que lidam com o assunto Venezuela. Há uma
desconfiança de que eventual ataque ao país vizinho possa ocorrer em torno do
ano novo. Em Brasília, as pessoas que lidam com o assunto foram orientadas a
permanecerem na cidade ou ficarem em local próximo. O pessoal que trabalha com
a operação de acolhida de venezuelanos em Roraima, que fogem de seu país, está
em alerta máximo. Eles dimensionaram suas possibilidades para receber, nos
próximos dias, até 35 mil habitantes do país vizinho se o ataque das forças
armadas dos Estados Unidos realmente ocorrer. Ninguém no governo brasileiro
arrisca o tipo de ação bélica que poderá ser utilizada. Os especialistas
lembram que os norte-americanos têm capacidade para realizar ataques seletivos
contra líderes venezuelanos, a exemplo dos que Israel faz na guerra contra os
Palestinos.
O fato é que os militares dos Estados Unidos
estão por todo lado na fronteira da Venezuela no mar do Caribe e até no Oceano
Pacífico. A qualquer momento, quando for dada a ordem, eles podem invadir o
país sem receios. A defesa venezuelana é fraca, antiga e sucateada. Os famosos
aviões Sukhoi, fornecidos pela Rússia, estão precisando de revisão e novas
peças. Poucos estão voando. O presidente Nicolás Maduro já não dorme duas
noites na mesma cama, nem na mesma residência. Ele sabe que sua cabeça está a
prêmio. Seus principais colaboradores também estão tomando cuidados extremos. A
verdade é que o país sofre da maldição do petróleo. Essa fabulosa riqueza que
está localizada ao redor do Lago de Maracaibo — a mais extensa reserva de
petróleo do mundo, maior que a da Arábia Saudita — foi descoberta nos anos 30
do século passado por empresa petrolífera norte-americana.
A história do país é uma sequência de golpes
de Estado, sempre tendo o controle do petróleo como assunto principal. Neste
século, houve uma trégua em torno de um acordo chamado de Punto Fijo, que
consagrava a democracia como principal objetivo da convivência pacífica entre
os opositores. Durou pouco. Grandes revoluções populares levaram caudilhos ao
poder. O último deles foi Hugo Chaves, militar que deu um golpe e prometeu
mundo melhor. Transformou-se em ditador, mas morreu no cargo. Foi substituído
por Nicolás Maduro, antigo motorista de metrô de Caracas que rasgou a fantasia
e também se transformou em ditador no país. Ele utiliza um tortuoso raciocínio
para colocar o libertador Simón Bolívar como inspirador de sua peculiar
revolução.
O Exército brasileiro tomou suas cautelas.
Decidiu enviar para Roraima o poderoso veículo blindado Centauro II, fabricado
pelo consórcio Iveco-Oto, equipado com canhão de 120mm. Serão 12 blindados que
ficarão com o 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado, que pertence à 1ª Brigada
de Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista. Trata-se da mesma unidade que
recebeu entre 2023 e 2024, durante a crise de Essequibo, 32 viaturas blindadas
leves multitarefas Guaicuru, oito blindados Guarani, seis blindados
Cascavel, 22 viaturas não blindadas, além de dezenas de mísseis
RBS70 antiaéreos e mísseis superfície-superfície Max 1.2 AntiCarro. Os
demais Centauros serão distribuídos para unidades do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Mato Grosso do Sul, onde estão 78 organizações militares desdobradas
do Oiapoque ao Chuí, somando cerca de 25 mil militares. Na fronteira Norte, o
Exército concentra 9 mil militares, distribuídos em diversas unidades e em 23
pelotões especiais de fronteira.
Diplomatas brasileiros condenam a perspectiva
de guerra próxima à fronteira norte do país. É fato novo. As fronteiras que
eram acossadas apenas por contrabandistas e traficantes de drogas agora ganham
maior dramaticidade. As palavras dos negociadores oficiais não são mais
suficientes para conter a crise. Os Estados Unidos, de Trump, entregaram a
Ucrânia à Rússia. Os russos fazem discursos de protesto, mas, na prática,
fecham os olhos para o que acontece na Venezuela. Trata-se de uma troca de
favores entre os grandes. É a lei da selva, que prevalece em tempo de guerra.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.