Folha de S. Paulo
Além de evidências cada vez mais extensas de
fraude, fila cresce muito
Governo Lula 3 ainda não tomou providência
maior para reformar o sistema
O sistema de concessão de benefícios da
Previdência não funciona. Uma prova simples do problema é o número de cidadãos
na fila do INSS,
que aumentou em
49% em um ano, para 2,86 milhões de requerimentos à espera de
solução. Esse escândalo administrativo dá o que pensar sobre inércia reformista
e ativismo corrupto.
"Sistema de concessão" é uma expressão feia e obscura como quase todas as que incluem a palavra "sistema". Serve para dizer que o assunto é de responsabilidade, ao menos, do ministério da Previdência, do seu Departamento de Perícia Médica, do INSS (vinculado ao ministério) e da Dataprev (estatal que processa também os dados dos benefícios previdenciários, vinculada ao ministério da Gestão). Uns atribuem aos outros a conta da ruína.
Assim é porque Lula 3 não se ocupou de
reformar o sistema, de fazer mudança e modernização profunda. O ministério
da Previdência foi e continua largado na mão do PDT.
Se tivesse havido reforma, talvez se
descobrisse também a roubança
dos aposentados e o esquemão de propina. Governistas em geral dizem
que a rapina era sabida pelo menos desde Jair Bolsonaro. É verdade. E daí? O
padrão de comparação é o governo das trevas? Podridão dificulta o tratamento,
mas não é desculpa para descaso e incompetência contínua.
Em partes do governo com mais luz interna e
holofotes externos, como o ministério da Fazenda, houve reformas. Por exemplo,
se criou uma secretaria para a reforma
tributária, grande feito de Lula 3. Havia entendimento técnico do
assunto, lideranças esclarecidas, articulação política, convencimento social:
um programa. Se fez. Em outro bom exemplo, a destruição ambiental diminuiu,
apesar da herança das trevas bolsonaristas.
Para contrastar, o setor elétrico está
largado. Uma hora, vai explodir —negócios estranhos, já tem. O país consegue
ter grande oferta de energia e, ao mesmo tempo, preço alto, subsídios e risco
de apagão e crise financeira do setor. É um disparate econômico, não faz lé com
cré.
A administração da Previdência foi largada.
Deu em incompetência e mais corrupção.
De resto, má gestão e leis ruins facilitam a judicialização (com apoio do
Congresso e do Judiciário), com quase metade das ações contra o governo federal
vindo daí (de onde saem bilhões de precatórios). Enfim, na Previdência faltam
pessoal, renovação tecnológica e gerência de produtividade (basta ler relatos
do TCU).
Os Correios
são outro descaso revoltante. E velho. Foi ali que começou a
desgraça do petismo-lulismo, o mensalão. A empresa foi inflada por
sindicalistas, roubada e submetida à demagogia do controle de preços. A
Petrobras do petrolão foi arruinada por investimentos ruins e controle de
preços, além de roubada. Foram entregues a "partidos da base", como
PTB, MDB e, em especial, PL, ora bolsonarista, e PP, coadjuvante maior do bolsonarismo,
pontas de lança daquelas roubanças. "Liberais" que apoiam o
bolsonarismo, a elite econômica quase inteira, subscrevem uma tradição de
esquemão. Tradição viva: vide as emendas.
Quando não se faz reforma, administração
profissional, controle independente, quando se faz demagogia,
desenvolvimentista ou populista, quando se larga a coisa na mão de feudo, dá
nisso: incompetência e corrupção, que se realimentam. Para não ser assim, é
preciso ter programa: quadros técnicos, lideranças esclarecidas, articulação política,
conversa social e previsão responsável de recursos.
Cadê?
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