O Povo (CE)
Ela tem se mostrado mais carismática,
ativamente engajada com os eventos do partido por todo o país, falando em nome
de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente, recolhido à prisão
A aliança entre o bolsonarismo e o grupo
político de Ciro Gomes está em estado de espera desde que Michelle
Bolsonaro deixou claro seu descontentamento em visita ao Ceará. Como escreveu
Gualter George, é surpreendente que um político dado a respostas prontas tenha
engolido a rejeição pública em silêncio.
Eduardo e Flávio Bolsonaro tentaram reagir e André Fernandes até ensaiou uma resposta, invocando a liderança de Jair. A verdade é que, com o líder preso e filhos tão incapazes, coube a Michelle Bolsonaro ocupar uma posição estratégica dentro do campo.
Esqueça o pragmatismo partidário,
as conversas de bastidor capazes de unir um Capitão Wagner a um Ciro Gomes.
Falo de outra força, cara ao bolsonarismo: a de conexão emocional com um
eleitorado fortemente ideológico, carente de ídolos e aficionado por essa
imagem da moralidade dedicada.
Com um filho antipatriota e outro mais
comedido, quem melhor do que a esposa devota, sofrida e indignada
para se conectar com o eleitor amante da imagem do Bolsonaro grande líder?
Michelle Bolsonaro cuida de sua imagem como poucos.
Tem mostrado uma habilidade muito estudada na
hora de se posicionar. É essa aparência de coerência com o discurso do
bolsonarismo que torna Michelle Bolsonaro mais confiável à base e que justifica
seu desempenho nas sondagens de intenção de voto. Só a miopia misógina
explica a tolice de se ignorar ou subestimar importância dela no xadrez
eleitoral de 2026.
Diz-se que os filhos políticos não se dão
com a madastra, que a acham pouco leal e que preferem herdar o capital
político do pai a compartilhá-lo com Michelle. Podemos atribuir essa cautela a
um certo senso de sobrevivência.
Ela, afinal de contas, tem se mostrado mais
carismática, ativamente engajada com os eventos do partido por todo o
país, falando em nome de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente. Os
filhos, por incapacidade ou falta de brilho, não foram capazes de se firmar
como nomes aptos a aglutinar a força do bolsonarismo.
No fim da tarde de ontem, Flávio Bolsonaro declarou-se candidato por escolha
do pai. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, confirmou a notícia,
afirmando que "se Bolsonaro falou, está falado". Ainda é cedo para
sabermos se a decisão se firmará, considerando que Tarcísio de Freitas é o nome
preferido dos partidos de centro direita alinhados ao bolsonarismo, mas o
anúncio só pode ser interpretado como uma reação dos filhos ao crescente
protagonismo da madrasta.
É possível que o bolsonarismo, afinal, seja
ferido de morte não por um antagonista forte, mas por sua própria
disputa familiar. Sem unidade e pragmatismo, o que resta a Flávio, Bolsonaro ou
Michelle é apenas o isolamento próprio da ambição pouco inteligente.

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