O Globo
Pesquisa esfriou aqueles que vinham tentando
reverter a decisão de Bolsonaro pelo filho em prol da escolha de Tarcísio
A pesquisa Genial/Quaest de dezembro tem como
marcas o fator Flávio Bolsonaro e o impacto de sua indicação, ao menos por ora,
como substituto do pai na corrida presidencial. A rápida absorção do nome dele
pelo eleitorado e o fato de, na simulação de segundo turno, ter conseguido
reduzir em 6 pontos percentuais a desvantagem para Lula no cenário de segundo
turno devem ser combustíveis às hoje tensas negociações entre Centrão e direita
para definir a estratégia eleitoral.
Os dados da pesquisa funcionaram como balde de água fria para quem vinha tentando reverter a decisão de Jair Bolsonaro em prol da escolha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Esse grupo inclui caciques de partidos do Centrão e expoentes do mercado financeiro, do agronegócio e do empresariado. O anúncio de que o Bolsonaro, preso por tentativa de golpe de Estado, optou pelo filho já tinha feito com que Tarcísio tirasse o time de campo. Até seus aliados de primeira hora, como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, passaram a admitir publicamente o apoio a Flávio.
Se a pesquisa mostrasse rejeição maior ao
nome de um Bolsonaro na cédula, os partidários de uma opção mais palatável ao
eleitorado de centro fariam um apelo a que o pai reconsiderasse, sob o
argumento de que, ao facilitar a vida de Lula na campanha, se arriscaria a
ficar muitos anos preso, afastando a possibilidade de indulto.
Os que advogam pela solução Tarcísio
continuam céticos quanto à chance de Flávio vencer, dado o “teto baixo” para
sua candidatura provocado pela rejeição ao bolsonarismo raiz. Mas reconhecem
que essa largada forte dificulta as chances de que a rota seja recalculada.
Do lado do Planalto, os números não causaram
alarme. Já era esperado que Flávio descolasse ligeiramente do bloco de
aspirantes a candidato da direita, justamente pelo anúncio recente da decisão
de Bolsonaro. Os números da pesquisa, quando analisados em conjunto, animaram
os apoiadores de Lula. O maior trunfo, para eles, é o saldo da novela do
tarifaço.
O reconhecimento à importância da atuação do
presidente para debelar a crise (que engloba 71% dos entrevistados) superou em
muito os que aprovam seu governo (48%) e os que declaram voto em Lula no
segundo turno (45% ou 46%, a depender do cenário). Também ganham de lavada os
que admitem que Lula se saiu melhor que os bolsonaristas no embate: 54% a 24%.
Esse dado reforça, entre os estrategistas da
campanha de Lula à reeleição, a aposta de que o DNA bolsonarista, que sempre
resvala para instabilidade e caos, será um importante trunfo para ele
conquistar o eleitor que a Quaest chama de independente, correspondente a 32%
da amostra pesquisada. Por isso, ter alguém do clã como adversário seria o
melhor dos mundos.
Mesmo a análise das áreas bem e mal avaliadas
do governo foi feita com otimismo no PT e em setores do governo. A melhora do
humor com a economia e a aprovação em larga escala de políticas públicas que
serão carros-chefes da campanha, como a isenção da luz para os mais pobres (de
75%) ou do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês (de 69%) foram
aspectos vistos como promissores para a melhora na aprovação de Lula e,
consequentemente, nas intenções de voto nele.
O ponto de atenção mencionado por aliados é,
como esperado, a segurança pública. Um indicador acendeu uma luz laranja: a
violência é a maior preocupação em todo o país, mas ainda mais no Nordeste,
região em que Lula lidera e onde o PT tem seus poucos governos. O foco nessa
questão, com a economia, é visto como crucial para ele chegar competitivo em
outubro de 2026.

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