O Estado de S. Paulo
Deveria ser agente perturbador nacional a percepção de que poucos ministros do Supremo estão hoje aptos – como juízes, sob a República, se houvesse uma – a tratar de qualquer questão relativa ao Master. Não me refiro à aptidão formal, decidida por eles mesmos. Podem tudo, como se mede pelas licenças que se dão, palestrantes em eventos patrocinados pelo banco, dublês de juízes e empreendedores, cujos parentes advogam livremente no tribunal em que tomam decisões monocráticas.
Falo do que lhes dá credibilidade. Credibilidade impossível, se um, futuro relator, voa em jatinho com advogado de sujeito implicado na fraude; se o outro, salvador da pátria, frequenta a mansão do banqueiro fraudador; e se a esposa do salvador da pátria tem contrato milionário com o banco do banqueiro fraudador.
Esse contrato existiria, não fosse a senhora
esposa do poderoso? Existiria, não fosse fluente no STF a advocacia de
relacionamentos?
O contrato existe. Alexandre de Moraes o
confirma quando, em uma das notas sobre as conversas com o presidente do BC,
“esclarece que o escritório de advocacia de sua esposa jamais atuou na operação
de aquisição BRB-Master perante o Banco
Central”. A ver em que terá atuado, ou se
seria necessário atuar. O contrato tinha como um dos objetos a defesa dos
interesses do Master no BC. Não faltou, de todos os lados, quem defendesse os
interesses do Master no BC.
Faltaram registros. Nem Moraes nem Gabriel
Galípolo inscreveram em suas agendas oficiais as reuniões que tiveram. Ainda
que o tema das conversas tivesse sido apenas a aplicação da Lei Magnitsky,
espanta que se normalize ministro do Supremo falando informalmente com o
presidente da autoridade monetária, pedindo-lhe assessoramento jurídico, à
margem da mais mínima institucionalidade, como se fossem compadres.
Entre as várias lições da tão lembrada Lava
Jato, um aprendizado parece seletivamente esquecido: o perigo da constituição
de juiz-herói. Valia tudo pelo combate à corrupção. A causa atual – a defesa da
democracia – tem autorizado as vistas grossas. Xandão só está em todo lugar
porque opera o 8 de janeiro permanente; porque conseguiu fazer prosperar a
crença de que o golpe está à espreita, de que toda a crítica contra si terá por
intenção beneficiar o capeta.
Estamos aqui também, sob esse ambiente de
intimidação escancarada, porque o PGR Alexandre de Moraes não quis investigar a
denúncia de Eduardo Tagliaferro, alguém que Alexandre de Moraes, presidente do
TSE, escolhera para trabalhar consigo. Denúncia de que o ministro,
delegado-geral da República, teria encampado o poder de polícia do tribunal
eleitoral e o instrumentalizado para, desde seu gabinete no STF, encomendar
acusações e esquentar decisões já tomadas nos inquéritos xandônicos. Imputação
gravíssima. Investigado, afinal, somente o denunciante, como se os grandes
escândalos de Brasil não fossem disparados por tipos delatores como Pedro
Collor, Roberto Jefferson etc. •

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