O Estado de S. Paulo
Boa parte dos integrantes do tribunal faz palestras remuneradas
Um fantasma ronda o Supremo Tribunal Federal
(STF) desde que Edson Fachin assumiu o comando da Corte. Logo que tomou posse,
ele anunciou a intenção de criar um código de conduta para os ministros. O
texto nem começou a ser redigido, mas a simples ameaça de se fixar um parâmetro
de comportamento para os integrantes do tribunal é motivo de alvoroço.
Se Fachin colocar no papel tudo o que considera reprovável na conduta dos colegas, vai acabar isolado. Mas não completamente: Cármen Lúcia costuma seguir a cartilha do presidente do tribunal. Um dos grandes incômodos que Fachin não esconde é a participação de ministros do STF em eventos patrocinados por empresas com interesses em causas na Corte.
Boa parte dos integrantes do tribunal faz
palestras remuneradas em eventos e, com isso, incrementa o salário, que hoje é
de R$ 46.366,19. Em caráter reservado, um ministro do tribunal contou que os
pagamentos variam de R$ 30 mil a R$ 50 mil por palestra.
O magistério é a única atividade remunerada
que ministros do STF podem exercer além de julgar processos. Em uma
interpretação benéfica a si mesmo, o Supremo entende que essas palestras são
aulas. Nem Fachin nem Cármen Lúcia recebem dinheiro em troca de palestras. Eles
também frequentam eventos – mas, normalmente, acadêmicos ou da magistratura.
Gilmar Mendes produz todo ano o Fórum de
Lisboa. O famoso “Gilmarpalooza” reúne integrantes do Judiciário, políticos e
empresários. Neste ano, seis dos 11 ministros do STF estavam lá. Em sinal de
protesto, Fachin não apenas recusou o convite como fez, no Brasil, um discurso
cobrando comedimento e compostura ao Judiciário. “Abdicar dos limites é um
convite para pular no abismo institucional.”
No mesmo dia, questionado sobre a necessidade
de um código de conduta para ministros do STF, Alexandre de Moraes resumiu a
visão da maioria da Corte: “Não há a mínima necessidade, porque os ministros do
Supremo já se pautam pela conduta ética que a Constituição determina”. Moraes
estava no “Gilmarpalooza”.
Outro incômodo de Fachin é a forma como os
ministros viajam. A necessidade de anotar regras objetivas de conduta ganhou
fôlego depois que Dias Toffoli viajou em jatinho com um advogado do caso Banco
Master. Ministros costumam voar de FAB. Fachin prefere aviões comerciais.
Isolado dos pares no quesito comportamento, Fachin corre o risco de ficar
isolado também politicamente dentro do tribunal se insistir na pauta ética. A
saída será propor um texto genérico – que, na prática, não vai frear condutas
consolidadas no tribunal e consideradas reprováveis por Fachin.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.