terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Que Alcolumbre é esse? Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hipótese 1. Davi Alcolumbre é um governista. Foi assim com Bolsonaro; e com Lula, até aqui. Um governista de oportunidades. Governista condicional, aquele tipo bem-disposto, que pende à facilitação, desde que contemplado a cada votação de interesse do Planalto. Contemplado com lotes de influência na superfície do Estado. Aquele Alcolumbre que, negociando, fez os vales dos rios São Francisco e Parnaíba se estenderem até o Amapá.

Esse mágico, tendo agendado a sabatina de Jorge Messias para o próximo dia 10 como forma de garantir a sua incontornabilidade no processo, estaria agora à espera Lula. Pronto para conversar. Em política, ponto de não retorno é temperatura difícil de alcançar. Alcolumbre, talvez esticando a corda com mais tensão que o habitual, teria estreitado a margem de negociação. Margem estreita não deixa de ser margem. Haveria um caminho.

Para esse Davi, um prático, a não escolha de Rodrigo Pacheco ao STF – por dolorosa que seja – converter-se-ia em moeda para comerciar. Unidade monetária mesmo. Um pacheco. Dois pachecos. Cinco. Dez. Cem. Quantos pachecos valeria o comando da CVM? Da ANA? Do Banco do Brasil? “Divergências” são parte da democracia.

Esse Davi compreenderia a partilha de “cargos e emendas” como gesto de um governo de conciliação – e não como “ajuste de interesse fisiológico”.

Hipótese 2. Um Davi Alcolumbre de repente oposicionista, ofendido com a “tentativa” governista de “criar a falsa impressão” de que “divergências entre Poderes” poderiam ser “resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.

Seria, pois, um caso em que o novo Davi se ofenderia com o velho Davi, aquele que tem dois ministérios. Teria de devolver os terrenos. Talvez nem conversasse com Lula. Movimento rompedor que – originário em “divergências entre Poderes” – não se basearia (não poderia se basear) no preterimento de Pacheco. A constituição desse Davi oposicionista exigiria mais fundamentos; mais razões.

Por exemplo: o STF julgará em breve os primeiros parlamentares acusados de corrupções a partir do orçamento secreto. Alcolumbre é um dos senhores das emendas parlamentares. Há também as investigações relativas ao Master, especialmente aos investimentos de fundos de servidores estaduais em letras de crédito do banco – fundos comandados por gente apadrinhada, inclusive no Amapá.

(Nada disso compõe a matéria do que definiria “divergências entre Poderes”. O cronista adverte: fala-se aqui de um Davi que teria virado oposicionista. Não de um milagre criador de republicanos.)

Ponto de não retorno, em política, é temperatura difícil de alcançar. Esse Alcolumbre inédito – comerciante de súbito agastado com a exposição das mercadorias na vitrine – esticou a corda a grau de tensão sem precedentes para sua atividade pública até aqui. Não estaria muito longe da condição excepcional de ter de bancar mesmo a queda de Messias. Vai? •

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.