quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso tem dever de dar fim aos supersalários

O Globo

Levantamento do GLOBO estima em R$ 6,7 bilhões os penduricalhos que juízes receberam além do teto salarial

Na abertura do ano judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, minimizou o peso da Justiça nos cofres públicos. Afirmou que o custo dos tribunais para os contribuintes, atualmente em 1,2% do PIB (ou 1,6% se considerado o Ministério Público), é decrescente. Ora, Barroso esquece o essencial: a Justiça brasileira é, por todas as medidas disponíveis, a mais cara do mundo para a sociedade. Nos países emergentes, os tribunais custam 0,5% do PIB. Nas economias avançadas, 0,3%. Além de caríssima, a Justiça brasileira é ineficiente. O Índice do Estado de Direito, medida da percepção sobre o trabalho dos tribunais elaborada pelo World Justice Project, põe o Brasil em 80º lugar entre 142 países.

Denúncia implode campanha por anistia a Bolsonaro e golpistas Vera Magalhães

O Globo

Peça de Gonet deixa clara conexão entre trama golpista iniciada em 2021 e o 8 de Janeiro de 2023 e joga balde de água fria em articulação bolsonarista

O capítulo mais relevante do ponto de vista da estruturação da denúncia de 276 páginas do procurador-geral da República Paulo Gonet é justamente a sua introdução. Não por acaso, o PGR o chamou de "uma introdução necessária". É nele que Gonet diz que uma democracia que não se protege não resiste às tentativas de suprimi-la e lista as incumbências constitucionais de cada uma das instituições de zelar por ela.

É a partir desse arrazoado legal e teórico que Gonet mostra como a trama golpista, cujo início ele situa em junho de 2021, foi comandada por Jair Bolsonaro e pela cúpula militar e policial de seu governo (dos oito principais denunciados, 6 são militares e os 2 únicos civis são delegados da Polícia Federal) e se estendeu até o 8 de Janeiro de 2023 --o que já joga por terra a estratégia que se intensificou nas últimas semanas de tentar minimizar os acontecimentos daquele dia e creditá-los a mera baderna desorganizada.

Bolsonaro mais perto do xadrez - Bernardo Mello Franco

O Globo

Paulo Gonet demorou, mas enfim denunciou Jair Bolsonaro ao Supremo. O capitão foi acusado de articular um golpe de Estado em causa própria. Segundo o procurador-geral, ele transformou o governo numa organização criminosa para tentar se manter no poder sem votos.

As conclusões do Ministério Público não são novas. Já estavam no relatório em que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seus asseclas, em novembro passado. Isso não tira a relevância histórica da denúncia. No momento em que o país celebra 40 anos de democracia, um ex-presidente deve se enviado ao banco dos réus por conspirar contra a Constituição e impor uma nova ditadura.

Denúncia de Gonet derruba teses de defesa de Bolsonaro - Míriam Leitão

O Globo

O procurador- geral da República, Paulo Gonetdenunciou ao todo 34 indiciados na tentativa de golpe, mas avisou que outros podem ser denunciados. Na sua lista estão todos os principais líderes da trama golpista, a começar do ex-presidente Jair Bolsonaro e os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Mario Fernandes, Paulo Sérgio Nogueira, o ex-ministro Anderson Torres, o ex-diretor da ABIN, Alexandre Ramagem.

Entre os 34 denunciados, a maioria é militar. Além dos ex-ministros general Paulo Sérgio Nogueira, general Braga Netto e general Augusto Heleno, estão entre os denunciados o general Mauro Fernandes; o ex-comandante da Marinha o almirante Almir Garnier; o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que chefiava o Coter, Comando de Operações Terrestres; o coronel da ativa Bernardo Romão Corrêa Netto; e o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo.

Lula tropeça, e a Faria Lima se anima – Zeina Latif

O Globo

O risco fiscal entrou no radar. Os indicadores fiscais são piores, e as reações do mercado cambial são mais tempestivas, o que alimenta a inflação

Afirmei em artigo recente que, simbolicamente, a viralização do vídeo do deputado Nikolas Ferreira, com críticas à portaria da Receita que ampliava a fiscalização sobre o Pix, seria para o governo Lula o que os protestos de 2013 foram para o governo Dilma.

A hipótese ganha musculatura à luz da queda brusca da aprovação do presidente em fevereiro, segundo o Datafolha. Explico: a aprovação de Dilma vinha em patamares elevados (55% líquido, na diferença entre bom/ótimo e ruim/péssimo), apesar do desconforto com a economia.

O inferno astral de Lula – Elio Gaspari

O Globo

Na segunda-feira da semana passada, um conhecedor de Brasília e de Lula dizia: "Ele não sabe governar com pouco dinheiro." Na sexta veio o Datafolha com o tombo de sua popularidade. Em seguida, chegou o Ipec informando que 62% dos entrevistados preferem que ele não dispute a reeleição. A erosão da popularidade do governo deu-se até mesmo no segmento de seus eleitores. Desde os tempos da Lava-Jato, Lula não tinha uma semana tão amarga.

Não é só Lula que está com um problema, nem é só o PT, prestes a completar 45 anos, numa situação esquisita. Divide-se entre ideias velhas, acreditando em reforma ministerial e projetos juvenis. A raiz de todas as dificuldades instaladas na segunda metade do mandato está lá atrás, nas primeiras semanas do Lula 3.0. Ele e seus companheiros leram mal a vitória de 2022. Não foi Lula quem ganhou, foi Bolsonaro quem perdeu.

Em defesa do Estado - Martin Wolf

Valor Econômico

Uma sociedade complexa é mais bem atendida por um serviço público competente, profissional e neutro

Sociedades civilizadas dependem das instituições. Quanto mais complexa a sociedade, mais vital são essas instituições. Instituições proporcionam estabilidade, previsibilidade e segurança. Empresas, escolas, universidades e tribunais são instituições. No entanto, as instituições mais importantes são as do Estado. É por isso que a ofensiva de Donald Trump contra o que seus apoiadores de forma enganosa chamam de “o Estado profundo” é tão perigosa. Alguns deles acreditam que o Estado deveria ser servil aos caprichos do grande líder. Outros acham que deveria estar a serviço dos mais ricos. Ambos esses lados concordam que a capacidade do Estado de atender às necessidades do grande público é de pouca importância. Esses pontos de vista são perigosos. Prenunciam autocracia, plutocracia e disfunção.

Os ventos do populismo sopram nos EUA e no Brasil - Fernando Exman

Valor Econômico

Petistas importantes demonstram preocupação com a nova estratégia de comunicação adotada pelo presidente Lula

Vozes relevantes do PT demonstram preocupação com a nova estratégia de comunicação adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nada pessoal contra o titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira, sublinham. Eles reconhecem a importância de seu trabalho durante campanha de 2022 e o fato de o ministro ter sido nomeado há cerca de um mês, em uma situação delicada. Mas o receio é com o risco de agravamento do problema de imagem do governo.

Explica-se: a comunicação da Presidência da República tem a missão institucional de difundir as políticas públicas do Poder Executivo, após coordenação interministerial e com o uso de pesquisas sobre o que interessa ou preocupa a sociedade. Por ser impessoal e técnica, argumentam, chega à população com muito mais credibilidade do que quando a mensagem passa a ter uma roupagem de campanha eleitoral.

Gonet afasta noção de atos preparatório e aponta insurreição - César Felício

Valor Econômico

Pela primeira vez na história do Brasil um governante é denunciado formalmente por tentativa de golpe de Estado

A chave da denúncia apresentada pelo procurador geral da República, Paulo Gonet ,contra o ex-presidente Jair Bolsonaro está na frase: "quando um presidente, que é a autoridade suprema das Forças Armadas (art.142) reúne a cúpula dessas Forças para expor planejamento minuciosamente concebido para romper com a ordem constitucional, tem-se ato de insurreição em curso, apenas ainda não consumado em toda sua potencialidade danosa". Com esse entendimento, Gonet afasta da conduta de Bolsonaro a noção jurídica de ato preparatório, que pela legislação brasileira não é crime, e a enquadra em um ato executório.

O procurador geral considera as duas reuniões que Bolsonaro teve com os comandantes das Três Forças , entre 14 de novembro e 7 de dezembro de 2022, e o seu encontro no Palácio da Alvorada com o general que chefiava o Comando de Operações Terrestres ( Coter), como passos de uma caminhada iniciada em meados de 2021, com a sua campanha contra o voto digital, e só concluída na quebradeira na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Só a reforma do artigo 142 viraria a página do golpismo - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

A gravidade dos crimes denunciados pelo PGR não deixa dúvida de que Bolsonaro e os 33 outros denunciados dificilmente escaparão da prisão

A gravidade dos crimes denunciados pelo Procurador-Geral da República a serem analisados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e julgados pelo plenário da Corte não deixa dúvida de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e os 33 outros denunciados dificilmente escaparão da prisão. O desgaste a que o bolsonarismo será submetido ao longo do processo de aceitação e julgamento da denúncia terá desdobramentos políticos com reflexos diretos sobre a disputa presidencial de 2026.

A dúvida que surge é sobre o aperfeiçoamento institucional que decorrerá deste capítulo infeliz da história brasileira. O mais evidente e, em torno do qual gira boa parte das 272 páginas da denúncia, é o esforço dos golpistas, dos “kids pretos” ao ex-presidente da República, em envolver as Forças Armadas na tentativa de golpe.

Pix segue zanzando no Congresso Nacional - Lu Aiko Otta

Valor Econômico 

Isenção de IR até R$ 5 mil pode ser ‘tábua de salvação’ para a popularidade em queda de Lula

Responsável por grande estrago na popularidade do governo, o pix segue zanzando pelo Congresso Nacional. A Medida Provisória (MP) 1.288/25, enviada no calor da crise, segue em tramitação. Recebeu 40 emendas, notadamente da oposição e do centrão. Além disso, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) protocolou um projeto de lei com o mesmo conteúdo da MP na semana passada.

Podem dar em nada, como podem servir de base para outra onda de fake news. É o tipo de discussão que pode se descolar da realidade, como se viu.

Está prestes a chegar ao Congresso Nacional a reforma do Imposto de Renda. É outro tema igualmente capaz de atropelar a racionalidade.

Brasil na Opep sinaliza mais carbono e menos energia limpa - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Com a decisão de explorar petróleo até a última gota, o país abdica de ser um líder da nova economia descarbonizada

O Brasil aderiu à Carta de Cooperação entre Países Produtores de Petróleo (CoC), um fórum de discussão ligado à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep). A decisão sinaliza uma mudança de rumo na política ambiental do governo, às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), em Belém (PA), ao lado da controversa decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de explorar o petróleo na região da Margem Equatorial, na bacia da Foz do Amazonas.

Com as bênçãos de Lula, a decisão foi tomada nesta terça-feira pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enquanto a ministra do Meio Ambiente (Rede), Marina Silva, muito pressionada por seu próprio partido e pelas organizações e lideranças ambientalistas, ainda permanece numa espécie de “silêncio obsequioso”.

A crise política tem nome - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Janja não pode responder por erros do governo nem pela demora do presidente em tomar decisões

Desde que pesquisas começaram a indicar acentuada queda na popularidade do presidente Lula, o Palácio do Planalto busca um culpado para a crise. Lula reuniu o núcleo duro do governo no domingo, na Granja do Torto. Na véspera, o ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, também teve uma conversa reservada com sua equipe.

Na reunião do Torto, o diagnóstico indicou que os principais problemas estavam relacionados à economia. Na lista apareceram a divulgação da portaria sobre monitoramento do Pix sem combinar com os russos, a taxação das blusinhas e até a inflação dos alimentos.

O PIB e os juros de Lula - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

A aposta é de que a ala política, com o marqueteiro à frente, vai ditar as decisões do governo até 2026

É crescente o temor de que o tombo nos índices de aprovação do presidente Lula terá um impacto populista sobre as principais variáveis macroeconômicas em 2025 e, sobretudo, em 2026, ano de eleição presidencial: um piso para a desaceleração do crescimento do PIB e um teto para o aumento dos juros, com efeito colateral sobre a inflação.

Com a reeleição no foco do presidente, especialmente depois de ter colocado o seu marqueteiro da campanha eleitoral em 2022 como funcionário do governo, ocupando a Secretaria de Comunicação Social, dificilmente Lula abrirá mão das suas principais bandeiras políticas, como criação de postos de trabalho, baixa taxa de desemprego e programas de transferência de renda.

Juros, dólar e Lula caem pelas tabelas - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Esfriamento previsto da economia e má imagem do governo ajudam a mudar clima na finança

De janeiro para fevereiro, o clima mudou. Mudou pelo menos na finança. Não foi da água para o vinho, mas para chá de camomila, até porque, nas expectativas ou nas esperanças de parte da elite, a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva foi para o vinagre e por lá ficaria.

O dólar vale menos do que R$ 5,70. Um dia antes de Fernando Haddad anunciar o pacote fiscal, custava R$ 5,81. Devolveu, pois, mais do que o exagero do pânico de dezembro, quando chegou ao pico de R$ 6,27. Na mediana da previsão de "o mercado", ficaria em R$ 6 no final deste 2025.

As taxas de juros de dois a cinco anos no mercado de dinheiro caíram em torno de 0,8 ponto percentual, de mais de 15% ao ano para perto de 14%. É relevante. O que houve, segundo administradores do dinheiro grosso e porta-vozes mais qualificados?

O confrade manda a real – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Kakay disse a Lula, em público, verdades que muito governista fala por aí no particular

Do jeito que vai, o PT —com Lula ou sem ele— perde a eleição em 2026. Foi, em resumo, o que disse Antônio Carlos de Almeida Castro, admirador e apologista das ideias do presidente. Isso até segunda-feira (17), quando escreveu e depois falou em voz alta o que governistas dizem no particular.

Kakay, como é conhecido o advogado, expôs em detalhe o que Gilberto Kassab havia dito há dias levando Lula a usar de ironia: "Comecei a rir quando li a declaração do companheiro Kassab".

Segundo o presidente do PSD, governo nenhum se sustenta com ministro da Fazenda fraco. Ele alertou para a necessidade de o presidente fortalecer Fernando Haddad (PT) a fim de chegar competitivo à eleição de 2026.

Trump sabota a Longa Paz - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Perspectiva de ceder territórios ucranianos à Rússia sem a anuência de Kiev seria recompensar Putin por guerra de agressão

Sim, Vladimir Putin tinha motivos para queixar-se da expansão da Otan para o Leste, que contrariou promessas feitas à Rússia nos anos 1990. Mas o autocrata perdeu qualquer filamento de razão que pudesse ter quando trocou o diálogo por uma guerra de agressão e invadiu a Ucrânia em 2022 (deixemos de lado o precedente da Crimeia).

Sim, Donald Trump tinha motivos para queixar-se do desequilíbrio no financiamento da Otan. Eram os EUA que arcavam com a maior parte dos custos da segurança do Ocidente, enquanto países europeus entesouravam os chamados dividendos da paz (redução de gastos militares após o fim da Guerra Fria).

Não em meu nome - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Identitários estão confortáveis para dar justificativa biológica a seus atos de revanche

Nas últimas semanas, tivemos uma amostra impressionante do que significa "dobrar a aposta" quando se trata das estratégias de assédio identitário. De costas quentes, agora que uma corte de Justiça afirmou que o racismo é o único crime exclusivo de uma raça –uma vez que só os brancos podem cometê-lo–, militantes identitários começam a se sentir confortáveis para dar uma justificativa biológica e genética à sua glorificação do ressentimento e aos seus atos de revanche.

Como a mídia digital está (também) redefinindo a aprovação de Lula - Arthur Ituassu*

Correio Braziliense

O fenômeno da crescente insatisfação na era digital não significa necessariamente que a democracia esteja em risco, mas sugere que os padrões de governabilidade e popularidade precisam ser reavaliados

Um debate interessante se estabeleceu no Brasil, com cientistas políticos tentando entender os baixos índices de aprovação do governo Lula. Pelo menos duas pesquisas importantes, Quaest e Datafolha, apresentaram índices de aprovação de 31%, em janeiro, e 24%, em fevereiro. Os números chamam a atenção em um contexto de relativa normalidade, sem uma grande crise política ou econômica, de fato, acontecendo.

A ciência política tem interpretado o fenômeno a partir de uma transformação histórica e como algo "estrutural", não de conjuntura. No passado, o apoio político era, em geral, explicado por questões econômicas, isto é, benefícios sociais e aumento da renda eram imediatamente transformados em altos índices de aprovação. Agora, há as questões pós-materiais ligadas às questões culturais e de identidade. No Brasil, o crescimento do protestantismo teria fortalecido a meritocracia e a responsabilidade individual, mudando a perspectiva sobre bens gerados pelo governo. O que antes era visto com gratidão, agora seria percebido como nada além de uma obrigação.