domingo, 24 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso deve priorizar reforma administrativa

O Globo

Disposição de Motta de investir em projeto do deputado Pedro Paulo pode enfim transformar serviço público

É alvissareira a disposição do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), de investir na formulação e na aprovação de uma reforma administrativa. Já não era sem tempo. Ajustar e aperfeiçoar a máquina estatal é uma das mais urgentes prioridades nacionais. O Estado brasileiro é ineficiente, caro e repleto de privilégios inaceitáveis. Custos exorbitantes recaem sobre os contribuintes, e as consequências nefastas sobre os usuários de serviços públicos.

Já houve tentativas de mudanças para transformar essa realidade, mas as corporações do funcionalismo sempre fizeram pressão sobre o Congresso para garantir regalias em detrimento da maioria. O fato de Motta ter escolhido a reforma administrativa como legado de sua presidência aumenta a chance de que, desta vez, o tema enfim avance. É esperada uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), seguida de detalhamentos em projetos de lei complementar e ordinária.

Sísifo entre nós, por Luiz Sérgio Henriques*

O Estado de S. Paulo

A ascensão chinesa – e da Ásia, mais generalizadamente – é um destes fenômenos que dão forma a toda uma época ‘histórico-universal’

Grande e terrível, e complicado, parecia o mundo aos olhos dos nossos avós há cem anos ou pouco mais. Era uma época de democracias liberais em retirada, de fascismos aparentemente irresistíveis e de um comunismo primitivo com características rigidamente estatistas. Apesar de tudo, os que mantiveram a lucidez em meio ao caos puderam achar gradualmente um fio condutor. Em última análise, e não sem conflitos ásperos, havia um fundo comum – iluminista – entre as democracias liberais e o comunismo soviético, com todas as suas falhas e mesmo os seus crimes fartamente conhecidos.

De fato, a destruição da razão, total e inapelável, era a marca dos fascismos: contra estes deveriam unir-se todos os demais para travar o que então se chamaria a mais justa das guerras. Os otimistas julgavam que se atravessava uma fase de “interregno”, passada a qual a razão iluminista acabaria por se impor, fosse qual fosse o futuro modelo de sociedade ou a forma de Estado. E, de fato, uma parte desse otimismo se materializaria no imediato pós-guerra, com a construção do sistema das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma espécie de atestado, obtido em meio a sacrifícios gigantescos, de que o progresso moral é afinal coisa deste mundo.

O STF e a presidência, por Merval Pereira

O Globo

A atuação política de Flavio Dino quando ministro da Justiça era tamanha que muitos consideraram a sua escolha para o Supremo uma estratégia de Lula para tirá-lo da corrida presidencial

O Supremo Tribunal Federal (STF) teve sempre um papel político importante, embora hoje ele esteja mais explicitado do que nunca na definição do seu atual presidente, ministro Luis Roberto Barroso que, diversas vezes, definiu como o papel do Supremo “empurrar a história na direção certa”. Pedro Lessa foi um dos grandes defensores da supremacia da Constituição no início da República, em embates contra o governo de Floriano Peixoto. Victor Nunes Leal, autor de “Coronelismo, Enxada e Voto”, foi cassado pelo AI-5 em 1969, juntamente com os colegas Hermes Lima, ex-chanceler e Evandro Lins e Silva, grande jurista, defensor dos direitos humanos.

Nos tempos atuais, Joaquim Barbosa, o primeiro ministro negro do Supremo, relator do Mensalão (2005–2012), teve tanto destaque político que foi cogitado a candidato à presidência da República. Dos ministros do Supremo, dois chegaram à presidência da República: José Linhares assumiu interinamente em 1945, após a deposição de Getúlio Vargas, para garantir a transição democrática e convocar eleições. Epitácio Pessoa disputou a sucessão de Delfim Moreira, vice-presidente da República que assumira a presidência devido ao falecimento do presidente eleito Rodrigues Alves.

Desvios da direita e riscos de Lula, por Míriam Leitão

O Globo

Tempo ruim para o bolsonarismo que arquitetou ataque ao país. Do outro lado, governo terá que administrar a crise do tarifaço

Foi uma semana ruim para o bolsonarismo. A crise no círculo íntimo do ex-presidente e o desprezo pelos seguidores que estão presos ficaram expostos. As pesquisas da Genial/Quaest mostraram o efeito corrosivo do tarifaço para Jair e Eduardo Bolsonaro. O presidente Lula melhorou a avaliação do governo, e abriu vantagem em relação a todos os candidatos da direita, num eventual segundo turno no ano que vem. Pela primeira vez, as pesquisas mostram que Bolsonaro não é o candidato mais competitivo do seu campo político. Mas há problemas também para o atual mandatário.

O cientista político Felipe Nunes, que faz testes eleitorais há cinco rodadas, conta que é a primeira pesquisa mostrando Jair Bolsonaro com menos intenção de votos do que os governadores Tarcísio e Ratinho Jr. Apesar de ser o mais conhecido candidato da direita e tendo concorrido duas vezes à presidência — uma vez com sucesso — Jair Bolsonaro ficou 12 pontos atrás de Lula num segundo turno, se ele pudesse concorrer. Tarcísio tem oito pontos de diferença e registra o melhor desempenho da direita, enquanto Ratinho Jr. fica dez pontos atrás.

Imagina o quarto, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Na quinta-feira, Lula desembarcou em Sorocaba para entregar consultórios odontológicos sobre rodas. A solenidade tratava de investimentos na saúde bucal, mas o presidente aproveitou para soltar a língua em defesa da reeleição.

“Um mandato do Lula incomodou muita gente”, gracejou, falando de si na terceira pessoa. “Dois mandatos incomodaram muito mais. Três mandatos muito, muito mais. Imagina se tiver o quarto mandato”, concluiu, para delírio da claque que assistia à cerimônia.

O petista tem usado viagens e atos oficiais para promover sua pré-candidatura. Em julho, após vistoriar obras de uma ferrovia no Ceará, encerrou o discurso nos trilhos da campanha. “Podem ter certeza que eu serei candidato para ganhar as eleições, porque eu não vou entregar este país de volta para aquele bando de malucos”, prometeu.

A tensão de agosto virá em setembro, por Elio Gaspari

O Globo

Julgamento de Bolsonaro e de outros envolvidos na trama golpista reacenderá dilemas no caminho do governo Trump e de aliados do ex-presidente em solo brasileiro

Agosto começará em setembro, com o julgamento de Jair Bolsonaro e do estado-maior da trama golpista de 2022/23. Correndo por fora, poderá vir o início dos trabalhos da CPI da roubalheira dos aposentados.

A divulgação, pela Polícia Federal, de diálogos e documentos dos Bolsonaro apimentou o caso, trazendo para o debate a trama que influenciou o comportamento do governo de Donald Trump. No dia 9 de julho, ele exigiu que o processo contra o ex-presidente fosse extinto “IMEDIATAMENTE” (ênfase dele). Foram palavras ao vento, desmoralizadas pela revelação dos diálogos do deputado Eduardo Bolsonaro com seu pai.

A diplomacia destrambelhada de Trump e de Marco Rubio, seu secretário de Estado, entrou num beco com poucas saídas. A tese segundo a qual o Brasil desrespeita os direitos humanos de seus cidadãos, não fica em pé, mesmo para advogados americanos. O deputado Jim McGovern, autor da Lei Magnitsky, usada para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, classificou o gesto de “vergonhoso”.

Trump e Bolsonaro, até quando? Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem será o próximo a trocar o barco de Bolsonaro pelo de Tarcísio? Pelas apostas, Trump

De festa em festa, de discurso em discurso, de mais e mais partidos simpáticos, o governador Tarcísio Gomes de Freitas vai se afirmando como candidato da direita em 2026 e abre uma dúvida curiosa: até quando Jair Bolsonaro, inelegível, em prisão domiciliar, prestes a ser condenado pelo STF e isolando-se politicamente, vai ter apoio de Donald Trump?

Com visão imperialista e personalidade autocentrada, Trump ataca o governo Lula, o Supremo, as empresas e os empregos brasileiros em nome de Bolsonaro e do impraticável e fora de propósito fim do processo contra Bolsonaro. Mas é isso mesmo que está por trás de tanto ódio e ataque ao Brasil? Será que Trump está tão preocupado com um ex-presidente que foi péssimo militar, político inexpressivo, derrotado em 2022 e está diante das grades?

Momento com EUA requer prudência, por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Donald Trump quer projetar poder militar com justificativa aceitável para os eleitores

O cancelamento de exercícios militares conjuntos entre Brasil e EUA e a mobilização de uma força de resposta rápida americana no Caribe introduzem uma nova dimensão na crise entre os dois países.

O Comando Militar do Sul desmarcou há um mês um exercício entre o Comando Espacial e a Força Aérea Brasileira. Na semana passada, o Ministério da Defesa cancelou a tradicional Operação Formosa, em Goiás, e deve fazer o mesmo com a Core, na caatinga.

A justificativa é a falta de verbas, mas o cálculo político foi retirar os convites antes de receber um “não” dos americanos. As relações entre os militares dos dois países continuam boas, mas o ambiente político aponta para um afastamento.

O deslocamento de três navios para perto da costa venezuelana, acompanhados de submarino de propulsão nuclear e aviões de patrulha marítima P8A Poseidon, tende a aprofundar o distanciamento na esfera militar.

Cinco mudanças no cenário global, por José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

Num quadro já complexo, irrompe o novo presidente dos EUA, com sua agenda equivocada

Tudo junto, misturado e ainda sem um rumo claro. Esta é a mais simplificada descrição que se pode fazer do cenário global nos dias de hoje.

Entendo que existam cinco tendências globais que vêm se fortalecendo há um certo tempo e que já apontavam para grandes mudanças no cenário, na direção de um sistema multipolar.

A primeira destas tendências é a mudança do papel da China no sistema econômico global, de complementar as economias maduras de mercado para um gigante que busca afirmar seu papel no mundo e ampliar sua influência. Isto ensejava uma resposta dos EUA já no governo Biden e este é o ponto mais importante no entendimento da situação atual.

A segunda tendência é a progressiva perda de efetividade dos organismos internacionais de governança criados após a 2ª Guerra Mundial: ONU/Conselho de Segurança, FMI, Banco Mundial e a OMC.

A terceira é a aceleração da transição demográfica com a drástica queda nas taxas de natalidade ao redor do mundo.

As fraudes nos débitos em conta, por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Nos últimos dias, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) encaminhou ofício ao Banco Central do Brasil em que solicita alterações nas normas que regulam o débito automático em conta. A providência ficou necessária após a disparada das queixas de clientes sobre débitos indevidos em suas contas.

Outra vez, os principais alvos dessas irregularidades são os pensionistas e aposentados do INSS. Em 2021, o Banco Central passou a permitir que cobranças automáticas de um cliente em um banco pudessem ser processadas por outra instituição financeira, desde que previamente autorizada. No entanto, a brecha deu margem a que milhares de beneficiários ficassem expostos a débitos automáticos injustificados, incluindo de empresas não reguladas pelo Banco Central, como clubes de benefícios e seguradoras.

Só com mais investimento saímos do atoleiro, por Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

O ganho de produtividade também é uma questão política e seria bom se todo cidadão o entendesse dessa forma

Enfiado num atoleiro há pelo menos 12 anos, o Brasil só voltará a ser uma economia dinâmica se investir muito mais em capacidade produtiva, cuidar menos de fantasias diplomáticas, valorizar os interesses prosaicos e fizer do governo, mais uma vez, um instrumento de modernização do País. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter ambições mais amplas, mas fará um trabalho respeitável se concentrar seu empenho em tornar mais eficiente a economia brasileira. Depois de um avanço de 1,4% no primeiro trimestre, a produção perdeu impulso e pode ter aumentado apenas 0,3% no período de abril a junho, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), uma prévia do PIB elaborada pelo Banco Central.

A política à espera de um julgamento, por Juliana Diniz

O Povo (CE)

O julgamento do grupo político envolvido nos atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em tempo real, os atos derradeiros

O ano de 2025 ficará marcado na política brasileira deste século como uma fonte inesgotável de instabilidade. Seja por influência de eventos externos como as tarifas e sanções americanas, ou da crescente importância geopolítica dos Brics, seja pela dinâmica interna do grupo político de Jair Bolsonaro, 2025 produziu um resultado evidente: as eleições do ano que vem devem ser mais um exemplo de eleição lotérica, de resultado imprevisível.

O julgamento do grupo político envolvido nos atos golpistas começará em poucos dias, em 2 de setembro. O processo transcorreu com celeridade e tudo indica que o país acompanhará com atenção, em tempo real, os atos derradeiros, quando a corte se reunirá para julgar e, se for o caso, aplicar as penas a quem considerar culpado. Muito da dinâmica da conjuntura dependerá desse resultado: eu diria que o futuro político do Brasil dependerá de como o país reagirá a isso.

Bolsonarismo contra a economia, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Movimento acaba por atacar até elite econômica, negacionista ou cúmplice, como em ditaduras

O bolsonarismo faz qualquer negócio. Agora, começa a dar tiros na estabilidade de bancos. Elites políticas e econômicas continuam a colaborar no projeto da arquitetura da destruição, agora também econômica. É colaboracionismo.

A ideia de que a propaganda criminosa e os crimes dos Bolsonaro seriam farsa na prática insignificante sobreviveu mesmo depois de Jair Bolsonaro ter ocupado a cadeira de presidente. Ainda em 2022, os crimes que cometeu durante o mandato eram considerados ficção esquerdista pelos adeptos convictos e tolerados por aqueles que faziam o cálculo supostamente pragmático de que se tratava do preço para manter Luiz Inácio Lula da Silva longe do poder.

Para os "pragmáticos", o bolsonarismo continua farsesco e de inépcia idiota. Suas consequências, pois, seriam negligenciáveis, no que lhes interessa. Em última análise, seria controlável por acordão de elites políticas e econômicas, como aqueles que se faziam pelo menos desde 2016.

Dino, Trump e a Lei, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Os Estados Unidos não fazem mais parte do Ocidente democrático tal como o entendíamos

Flávio Dino decidiu que a lei americana deve ser aplicada em território americano e a lei brasileira deve ser aplicada em território brasileiro. Donald Trump discorda das duas coisas.

Como notou Thiago Amparo nesta Folha, a lei americana não é automaticamente aplicável no Brasil pelo mesmo motivo que a lei chinesa não é. O Brasil é um país soberano.

O leitor pode responder: bom, mas Brasil e Estados Unidos fazem parte da mesma cultura política, são países ocidentais, adotam as normas da democracia liberal.

Esse argumento sempre foi frágil, mas deixou de fazer qualquer sentido no segundo mandato presidencial de Donald Trump. Pelo que se viu no primeiro semestre de 2025, e até segunda ordem, os Estados Unidos não fazem mais parte do Ocidente democrático tal como o entendíamos. Tomara que voltem logo, de preferência tendo aprendido alguma coisa.

Os dilemas de Tarcísio, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O governador precisa decidir se a hora do Planalto é agora ou se é melhor deixar a onda Lula/Bolsonaro passar

Se tem uma coisa que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em tese não precisaria ter é pressa.

Acabou de completar 50 anos de idade, chegará em 2030 com 55, a tempo de disputar a Presidência da República relativamente jovem se comparado aos 85 e 75 que terão, respectivamente, Luiz Inácio da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

O mais provável é que daqui a cinco anos Lula esteja a caminho da aposentadoria, senão política, ao menos eleitoral. Bolsonaro, se não estiver preso e ainda que livre dos enroscos judiciais, talvez se veja às voltas com os prejuízos causados pelos filhos, ora empenhados em dizimar a herança política do pai com batalhas perdidas tão inúteis quanto desmoralizantes.

A distopia realizada na América, por Muniz Sodré

 

Folha de S. Paulo

Nos EUA, seitas dão continuidade às utopias nostálgicas que radicalizam exigências morais de suposta proveniência bíblica

O medo comporta gradações, que variam do temor ao pânico. Devem oscilar entre um e outro os sentimentos de milhões com a notícia de que Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA, compartilha em vídeo a opinião de pastores contrária ao direito feminino de voto. É a primeira vez em séculos que o poder americano desfaz publicamente um voto de modernidade democrática.

A esse barbarismo segue-se outro: figura central do grupo, o pastor nacionalista cristão Doug Wilson associa hierarquia patriarcal à racial, garantindo que havia afeição mútua entre escravistas e escravos. Infere-se que também mulheres estariam afeitas à escravidão patriarcal. Tudo isso faz parte da ofensiva antifeminina de Trump, que agora tenta demitir a primeira mulher negra a dirigir o Federal Reserve, o banco central americano. O autocrata é conhecido pelo comportamento repulsivo para com mulheres. A intimidade de 15 anos com o pedófilo Jeffrey Epstein sugere que parceira segura é um misto de escrava sexual e boneca inflável.

Obras sobre ditadores ganham destaque em momento de instabilidade na América Latina, por Sylvia Colombo

Folha de S. Paulo

Livros ensinam que autoritarismo na região é engrenagem cultural que se reinventa em diferentes épocas

Houve uma época em que se consolidou na América Latina uma tradição literária peculiar: a dos chamados "romances de ditador". Não foram poucos os escritores que se deixaram fascinar (e assombrar, às vezes, ao mesmo tempo) pelo vínculo cultural e político que se estabelecia entre povos inteiros e líderes carismáticos, temidos e venerados.

Entre as obras mais destacadas desse ciclo está "O Senhor Presidente" (1946, ed. Mundareu), do Nobel guatemalteco Miguel Ángel Asturias. Nela, a brutalidade de um regime repressivo é narrada a partir da história de uma pessoa em situação de rua que, sem querer, causa a morte de um coronel.

Educar para a arte do encontro

Por Marcio Junior é editor do Voto Positivo

Em situação atípica em muitos espaços de pesquisa e rincões acadêmicos no mundo, a Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, se viu invadida por estudantes do Colégio Estadual Professora Jeannette de Souza Coelho Mannarino, de Campo Grande. Os adolescentes, moradores desta Zona Oeste profunda, foram participar no dia 18 de agosto do encontro conduzido pelo Prof. Vagner Gomes, professor do próprio colégio, doutorando pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e colunista do Voto Positivo. O encontro foi promovido pelo pesquisador da Casa, Julio Aurélio Vianna Lopes.

No conteúdo, advindo de sua pesquisa de doutoramento em curso, Vagner apresentou Sueli Carneiro como liderança ativista cuja obra tensiona o lugar comum que reduz “política” à disputa de cargos e à representação formal. Nascida em 1950, formada em Filosofia (USP) e doutora no início dos anos 2000 (na Pedagogia), Sueli fundou em 1988 o Geledés – Instituto da Mulher Negra; o ano coincide com a Constituinte e ajuda a situar seu ativismo num momento de rearranjo institucional no país. Essa temporalidade não é mero detalhe, pois ela aponta uma gramática de ação capaz de pressionar por meio de ativismo social, por fora da mediação eleitoral.