terça-feira, 9 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Tarcísio agride democracia com radicalismo

Por O Globo

Ao aderir à anistia e radicalizar discurso, ele perde eleitor moderado, de que depende para vencer em 2026

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), comete um erro e agride a democracia ao se lançar nos braços bolsonaristas em sua defesa pela anistia a golpistas. A submissão ao bolsonarismo que revelou na Avenida Paulista no domingo expõe oportunismo e mancha suas credenciais republicanas.

Depois de passar a semana articulando uma anistia descabida para Bolsonaro e os demais acusados de golpe de Estado em julgamento no Supremo — em aceno ao bolsonarismo, ele chegou a declarar que “não confia na Justiça” —, Tarcísio voltou à carga com um discurso incendiário. Quando a multidão gritava “Fora, Moraes!”, ele disse: “Por que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”. Noutro momento, voltou a desafiar o relator do processo contra Bolsonaro: “Nós não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer”.

Erro de estratégia. Por Merval Pereira

O Globo

Do jeito que vai, pode perder o grande apoio que poderia ter do centro. Na retórica, vai muito para a radicalização e ficará preso numa bolha.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está errando na estratégia. O discurso virulento de domingo, diante da multidão de bolsonaristas na Avenida Paulista, pode ter o condão de garantir-lhe os votos da parcela radical do bolsonarismo e provavelmente a boa vontade futura do ex-presidente. Tarcísio tenta dar provas de fidelidade para garantir o apoio de Bolsonaro, que, ambos sabem, não será elegível para 2026. Faz tudo para que o ex-presidente o apoie quando se convencer de que não disputará. No entanto está errando a dose. Pode estar ganhando apoio do bolsonarismo mais radical, mas perdendo o do eleitorado centrista.

Crime e castigo no país de hoje. Por Fernando Gabeira

O Globo

Penas aos amotinados de 8 de Janeiro deveriam ser mais curtas e associadas a processos pedagógicos

Julgamento no Brasil, desfile militar na China, navios americanos rondando a Venezuela, projetos de anistia na Câmara, implosão da compra do Banco Master, investigação sobre os Correios, CPI dos descontos aos aposentados — tudo acontecendo na mesma semana.

Para descrever esse intenso fluxo, só um estilo carretel, como o inventado por John dos Passos. Na verdade, houve um colunista no Brasil que unia todos os fatos da semana numa só crônica: assinava Van Jafa. Escrevia no Correio da Manhã. Nem ele nem o jornal existem mais.

Escolho o julgamento, apesar do bombardeio sobre o tema. Minha posição é que tentativas de golpe de Estado devem ser punidas. No entanto, nem sempre concordo com as características da punição.

Isso me vale constantemente ataques de pessoas com a faca nos dentes. Quanto mais severa a pena, melhor para elas, e quem duvidar disso está colaborando com o inimigo.

Quando o cálculo pode dar errado. Por Míriam Leitão

O Globo

Os cálculos de Tarcísio podem estar errados. Ele assustou o centro que precisa atrair e tentou agradar à extrema direita, que votaria nele contra Lula

“Cálculo eleitoral”. É essa a explicação que ouvi entre juristas e economistas para a radicalização do governador Tarcísio de Freitas. A dúvida é se ele tem mais a perder ou a ganhar com as afirmações incendiárias que fez. Ele estaria fechando a porta para um bolsonarista radical, ao ocupar o lugar, me explicou uma das fontes que ouvi. Outra fonte acha que ele pode perder apoio entre empresários definidos como “não partidários”, que seriam entre 25% a 30%. Analistas consideram que Tarcísio queimou a chance de se vender como moderado durante a campanha que se aproxima.

O perigo da anistia. Pedro Doria

O Globo

Ele acha que é esperto politicamente e não tem ideia do perigo que desperta

O governador paulista, Tarcísio de Freitas, deu início, na semana passada, a um movimento golpista. Não é paranoia ou hipérbole. É simples leitura da História. Tarcísio anda falando muito disso, de História, em sua pregação pela anistia de Bolsonaro e dos generais. Como, ao recontar essa história, fala muita bobagem, é razoável acreditar que não conheça como se formou a República que ele deseja governar. Por isso é possível dar-lhe o benefício da dúvida. Ele acha que é esperto politicamente e não tem ideia do perigo que desperta. Mas é importante deixar uma coisa clara: ele está mexendo com forças da nossa cultura política muito perigosas, que exigem de todos os democratas, à direita, à esquerda e, principalmente, ao centro, máxima atenção.

Escalada de tensões na etapa decisiva do julgamento de Bolsonaro. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O julgamento ocorre em meio a um ambiente político de forte polarização. O destino judicial do ex-presidente e seus generais se entrelaça com tensões políticas, diplomáticas e econômicas mais amplas

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado recomeça nesta terça-feira, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), com uma escalada de tensões políticas. No domingo, num ato em apoio ao ex-presidente na Avenida Paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), fez duros ataques ao Supremo e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

Tarcísio tenta conquistar o apoio de Bolsonaro para se candidatar à Presidência da República e subiu o tom contra o Supremo. Enquanto manifestantes gritavam “fora, Moraes”, na Avenida Paulista, o governador paulista disparou: “Por que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”.

Entrevista | 'Harmonia pode ser sacrificada, independência, não', diz Ayres Britto

 

Por Camila Zarur / Valor Econômico

Ayres Britto diz que pacificação do país virá por respeito à Constituição, não por anistia

Perdoar eventuais condenações do ex-presidente Jair Bolsonaro seria uma “autoanistia”, e não há previsão para isso dentro da Constituição. É o que afirma o ministro aposentado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto. Na visão do ex-magistrado, a tentativa do bolsonarista de reverter os resultados das eleições de 2022 e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva foi feita enquanto o ex-mandatário ainda estava no cargo. “Ou seja, agiu em nome do Estado, em nome do Poder Executivo, de uma pessoa jurídica”, afirma Ayres Britto ao Valor. Nesse sentido, o ex-ministro continua, o Estado não pode perdoar ele próprio - muito menos para anistiar uma tentativa de abolição da democracia.

Indicado por Lula ao STF, Ayres Britto rebate os ataques frequentes à Corte em que ele atuou por quase uma década, de 2003 a 2012. Para o ex-ministro, o Supremo, como guardião maior da Carta Magna, deve ser quem dá a palavra final. E, diante das pressões americanas ao Tribunal e os atritos entre Judiciário, Legislativo e Executivo, é categórico: “A harmonia [entre Poderes] pode ser eventualmente sacrificada, mas a independência não.”

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Direita fica refém da escolinha de tio Silas. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Tarcísio fica a reboque do bolsonarismo sem garantia de apoio

O pastor Silas Malafaia masca chiclete enquanto reza o Pai Nosso e se coloca como o porta-voz do único mote que restou ao bolsonarismo depois daquela bandeira americana estendida em frente ao Masp no dia da pátria, a religião. No seu discurso, o presidente disse que, sem soberania, o Brasil volta a ser colônia. É uma obviedade que, ante a bandeira da Paulista, virou ativo. Se ainda se apostava na polarização com o governador Tarcísio de Freitas, o domingo na avenida mostrou que não há alternativa a Bolsonaro. Sua voz é Silas Malafaia, o pastor boca suja que representa mais o ex-presidente do que a unidade evangélica.

Um 'aluno' analfabeto da professora Conceição. Por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Economistas do Partido Republicano enfrentam um dilema: como defender seu líder político se ele contraria os fundamentos teóricos que sustentam há décadas?

Além de destroçar a geopolítica global, o tarifaço de Donald Trump suscita pitadas de ironia e humor.

Economistas ortodoxos estão obviamente desconfortáveis e, muitos, emudecidos. Acreditavam que a orientação econômica do presidente dos EUA, na hora que o jogo fosse para valer, iria espelhar, pelo menos parcialmente, a convencional política republicana, como a adotada por Ronald Reagan, Bush pai, Bush filho etc.

E, no entanto, funciona. Por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

A despeito de Trumps e Bolsonaros, a economia e as instituições brasileiras funcionam, como a OMC

Apesar de Trump, o mundo funciona – não tão bem como funcionaria sem as medidas truculentas impostas pelo presidente dos Estados Unidos aos demais países, mas funciona. O comércio internacional é um exemplo. Submetido a duro teste de resistência pelas tarifas que Trump espalhou pelo mundo a torto e a direito, mais a torto do que a direito, enfraqueceu, mas continua vivo.

Independência e política externa. Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Desde o início, os formuladores da política externa viam o Brasil como uma ‘potência transatlântica’

No dia 29 de agosto, há 200 anos, Portugal reconheceu a Independência do Brasil. Um dos objetivos da revolução liberal do Porto, em 1820, estimulada pela elite portuguesa, foi forçar a volta de D. João VI e restabelecer o reinado controlado por Lisboa. Seu filho, Dom Pedro, decidiu ficar no Brasil, rebelando-se contra as Cortes (Parlamento), e em 7 de setembro de 1822 proclamou a separação de Portugal.

O processo de Independência do Brasil foi difícil em razão da tentativa das Cortes do Porto de manter o País como colônia portuguesa. A consolidação da Independência não foi pacífica, em vista das sucessivas revoltas estimuladas e financiadas pelas Cortes, com intenção de dividir o País em dois: toda a Região Norte e Nordeste até Minas Gerais continuaria sob o domínio de Lisboa, e o Sul do País permaneceria independente. As revoltas no Pará, Jenipapo, no Piauí, no Maranhão, em Pernambuco e na Bahia tinham esse objetivo.

Bolsonarismo de resultados. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Tarcísio de Freitas, pragmático tocador de obras, mostrou do que é capaz. Que fará de tudo para ser o candidato da direita em 2026. Quer muito. E alcançou o ponto de não retorno por essa querença.

Topa qualquer coisa. Esse é o destaque da manifestação de domingo. Auge de jornada que começara, menos de semana antes, com o governador de São Paulo declarando não confiar na Justiça – e se comprometendo, como primeiro ato, a indultar Bolsonaro, caso fosse presidente.

Tarcísio, um prático, acelerou. Não está – né, Ciro Nogueira? – sozinho. Tinha uma missão, meta combinada, obra a entregar – e a entregou. Maior ou menor o grau de encenação teatral, maior ou menor a crença na viabilidade da anistia, mexeu-se. Cumpriu etapas na “expectativa Malafaia”. Falou o nome de Alexandre de Moraes, associou-o à ditadura etc. Ganhou estrelinha no caderno.

Tarcísio completa em uma semana lista que bolsonarismo cobrava para candidatura. Por Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Governador dá cavalo de pau no discurso com ares de moderação e vai de promessa de indulto a Moraes 'tirano' na Paulista

Quatro anos separam o Dia da Independência mais radical do bolsonarismo deste domingo (7), quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) parece ter completado o checklist que o grupo e os eleitores mais fiéis do ex-presidente lhe cobravam para chancelar sua especulada candidatura presidencial.

Se no 7 de Setembro de 2021 Jair Bolsonaro chamou Alexandre de Moraes de "canalha" e disse que daquele momento em diante não cumpriria mais decisões do magistrado, Tarcísio elegeu o mesmo alvo neste domingo.

O "ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como o Moraes", frase dita após uma pausa de alguns segundos na sua fala, é o mais recente capítulo público da inflexão no discurso que se vendia como moderado e que começou a mudar em 29 de agosto.

Moraes deve dar orgulho aos refundadores da democracia brasileira. Por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Ministro não ignorou fatos cristalinos por medo de kid preto ou vontade de visitar Disney

Nesta terça-feira, 9 de setembro de 2025, o ministro Alexandre de Moraes deve apresentar seu voto no julgamento dos golpistas de Jair Bolsonaro. É um momento histórico da democracia brasileira, e o ponto culminante da biografia de um dos mais importantes ministros da história do Supremo Tribunal Federal.

Escrevi "importante" e fiz questão de não acrescentar "controverso", como se costuma fazer quando o assunto é Xandão. O adjetivo caberia se entre os argumentos dos críticos e dos defensores de Moraes houvesse lastros factuais de ordens de grandeza ao menos similares.

Não há: descontados os que criticam Moraes porque apoiam os crimes que ele julga, descontados também os que esperam ganhar dinheiro ou subir na carreira dando-lhes crédito, as críticas legítimas a Alexandre de Moraes são só as que se poderia esperar em um julgamento desse tamanho, realizado em circunstâncias tão ruins.

Por que o julgamento de Bolsonaro não vai pacificar o país. Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Valores que pareciam hegemônicos estão sendo contestados por novas forças políticas

A condenação de Bolsonaro não pacificará nada. A sociedade seguirá tão ou mais dividida do que estava. Bolsonaro não é apenas um indivíduo popular. Ele é popular porque surfa uma onda, a ascensão de uma nova direita mais radical, profundamente contestatória do establishment, que continuará a fluir mesmo que ele saia de cena.

O colapso do governo francês após um voto de desconfiança ao primeiro-ministro Bayrou tem o mesmo pano de fundo: um bloco de direita nacionalista com o qual o governo não compõe, e que, segundo pesquisas, representa 35% do eleitorado. No Japão, na renúncia do primeiro-ministro Shigeru Ishiba no domingo, a mesma história: seu partido quer recuperar um eleitorado que tem sido perdido para partidos de direita radical, inclusive o Sanseito, fenômeno de popularidade.

Amotinados continuam numa boa. Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Levante de 6 de agosto no Congresso completa um mês relegado a conveniente esquecimento

No sábado (6) fez um mês da violenta ocupação do plenário da Câmara com grave ameaça a Hugo Motta (Republicanos-PB) de interdição no seu trajeto rumo à cadeira da presidência da Casa.

Outro mês ainda vai transcorrer até completarem-se os 60 dias que generosamente o presidente afrontado deu à corregedoria para definir punição aos amotinados.

A julgar pelo silêncio em torno do caso e da vitória que obtiveram ao conseguir colocar a anistia na agenda, nada de mal lhes acontecerá. O episódio está com todo o jeito de que vai ficar por isso mesmo: o dito pelo não dito, os considerados agressivos naquele dia pelos reabilitados no transcurso do tempo.

Tarcísio é um bolsonarista moderado? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Não importa qual interpretação se dê ao termo bolsonarismo moderado, governador de SP erra ao atacar legitimidade do STF para julgar ex-presidente

Tarcísio de Freitas é o bolsonarista moderado que eleitores de direita querem ver surgir em 2026? A turma que acha que sim sofreu um baque após a manifestação do 7 de Setembro, em que o governador paulista lançou ataques diretos ao STF e a Alexandre de Moraes, a quem praticamente chamou de tirano.

Podemos generalizar mais e nos perguntar se faz sentido falar em "bolsonarismo moderado". O problema aqui, creio, é mais linguístico do que propriamente político ou filosófico. É que existem pelo menos duas maneiras de interpretar o binômio "bolsonarismo (ou bolsonarista) moderado", que remetem a universos bastante distintos.