Plano de Trump reflete derrota do Hamas para Israel
Por O Globo
Paz duradoura — com dois Estados e
reconhecimento mútuo — depende de desmantelamento do grupo terrorista
No Oriente Médio, a realidade áspera dos
fatos costuma desafiar projetos ambiciosos. Por isso é preciso toda a cautela
diante do acordo assinado por Israel e pelo grupo
terrorista Hamas para libertação imediata dos reféns e interrupção dos ataques
israelenses na Faixa de Gaza —
primeira fase no plano de paz de 20 itens formulado sob os auspícios de Donald Trump.
Mas, sim, desta vez, dois anos depois da barbárie perpetrada pelo Hamas que
deflagrou a guerra, há motivo concreto para otimismo. O plano de Trump revela
sensatez e nada tem a ver com suas primeiras propostas estapafúrdias, que
aventavam expulsar os palestinos de Gaza para transformá-la numa “riviera”. Se
os reféns forem mesmo libertados no início da semana como promete o Hamas, e se
Israel retirar suas tropas de Gaza até o limite pactuado, Trump aparentemente
terá obtido êxito antes tido como impossível ao intermediar um conflito
historicamente intratável.
Não pode haver dúvida de que o plano de Trump reflete a vitória militar de Israel sobre o Hamas. Todas as condições impostas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foram atendidas, ao menos no papel: libertação de todos os reféns com devolução dos corpos daqueles já mortos; deposição de armas pelos terroristas; desmilitarização e entrega do poder em Gaza a forças externas a cargo de países árabes; exílio das lideranças do Hamas; retirada gradual das tropas israelenses, seguindo cronograma e condições que não ponham em risco a segurança de Israel. Ainda não se sabe, é claro, quanto disso se tornará realidade. De seu lado, os israelenses libertarão prisioneiros palestinos, mas, mesmo nos detalhes — como o pedido pela soltura de figuras de relevo e pelos corpos de próceres do Hamas mortos na ofensiva israelense —, Netanyahu aparentemente levou a melhor.