sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Plano de Trump reflete derrota do Hamas para Israel

Por O Globo

Paz duradoura — com dois Estados e reconhecimento mútuo — depende de desmantelamento do grupo terrorista

No Oriente Médio, a realidade áspera dos fatos costuma desafiar projetos ambiciosos. Por isso é preciso toda a cautela diante do acordo assinado por Israel e pelo grupo terrorista Hamas para libertação imediata dos reféns e interrupção dos ataques israelenses na Faixa de Gaza — primeira fase no plano de paz de 20 itens formulado sob os auspícios de Donald Trump. Mas, sim, desta vez, dois anos depois da barbárie perpetrada pelo Hamas que deflagrou a guerra, há motivo concreto para otimismo. O plano de Trump revela sensatez e nada tem a ver com suas primeiras propostas estapafúrdias, que aventavam expulsar os palestinos de Gaza para transformá-la numa “riviera”. Se os reféns forem mesmo libertados no início da semana como promete o Hamas, e se Israel retirar suas tropas de Gaza até o limite pactuado, Trump aparentemente terá obtido êxito antes tido como impossível ao intermediar um conflito historicamente intratável.

Não pode haver dúvida de que o plano de Trump reflete a vitória militar de Israel sobre o Hamas. Todas as condições impostas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foram atendidas, ao menos no papel: libertação de todos os reféns com devolução dos corpos daqueles já mortos; deposição de armas pelos terroristas; desmilitarização e entrega do poder em Gaza a forças externas a cargo de países árabes; exílio das lideranças do Hamas; retirada gradual das tropas israelenses, seguindo cronograma e condições que não ponham em risco a segurança de Israel. Ainda não se sabe, é claro, quanto disso se tornará realidade. De seu lado, os israelenses libertarão prisioneiros palestinos, mas, mesmo nos detalhes — como o pedido pela soltura de figuras de relevo e pelos corpos de próceres do Hamas mortos na ofensiva israelense —, Netanyahu aparentemente levou a melhor.

Reforma tem de fazer escolhas estratégicas. Por Fernando Luís Abrucio

Valor Econômico

O sucesso depende da combinação de um bom diagnóstico dos problemas e do contexto reformista com uma estratégia adequada de implementação

A qualidade da gestão pública é fundamental para a legitimidade da democracia e para o desenvolvimento dos países. Reformas administrativas são muito relevantes e também muito complexas. Seu sucesso se deve à combinação de um bom diagnóstico dos problemas e do contexto reformista com uma estratégia adequada de implementação.

Liderado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), um projeto inicial sobre o assunto foi apresentado na Câmara. Há ideias e intenções boas na proposta, mas ainda há falhas e a falta de uma visão estratégica sobre os caminhos da mudança, da lei à prática.

O mérito primordial do projeto do deputado Pedro Paulo é abrir o debate de várias questões relevantes da gestão pública brasileira e que têm tido pouca atenção do sistema político. Há algumas propostas bem elaboradas e que merecem mudanças institucionais. Entretanto, o conjunto da obra está com muitos excessos e faltas onde não deveria haver.

Excessos de centralização, de uniformização e de instrumentos legais a serem votados, com um número grande de alterações constitucionais. Soma-se a isso a falta de tempo para maior debate e amadurecimento das ideias com atores relevantes que serão influentes no processo legislativo, bem como a ausência de uma visão mais estruturada e realista sobre a implementação de tais reformas.

Nome de gente. Por José de Souza Martins

Valor Econômico

Temos milhares de pessoas registradas no Brasil com nomes ou sobrenomes difíceis de pronunciar e sem nenhuma significação em nossa língua. E os cartórios reagem arbitrariamente

Há umas duas semanas, ocorreu em Belo Horizonte um problema com a recusa do registro de nascimento de uma menina, no cartório instalado na maternidade, do nome escolhido pelos pais para a filha: Tumi Mboup.

A mãe é formada em história, e o pai é sociólogo. Dois intelectuais, portanto, que certamente sabem o que estão fazendo. Ambos são negros. O cartorário alegou que o nome exporia a criança ao ridículo. Um segundo cartório e a própria Justiça confirmaram a interpretação.

Uma enxurrada de insultos preconceituosos contra os pais, por parte dos leitores de sites, acusava-os de serem responsáveis pela recusa por terem escolhido um nome não brasileiro e de motivação racial.

Em reação, governo e PT dobram aposta nas redes. Por Andrea Jubé

Valor Econômico

Ânimos seguem alterados porque o governo não se compromete com o calendário de pagamento das emendas

No fim de junho, o Congresso impôs derrota acachapante ao governo, revogando os decretos presidenciais que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O placar na Câmara foi expressivo: 383 votos para derrubar a norma, contra 98. Como se 383 deputados bradassem em uníssono: “Estamos descontentes!”

O resultado irritou, em especial, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para além da perda de receita, estimada em R$ 12 bilhões para este ano, a avaliação interna foi de que a edição do decreto é prerrogativa do presidente da República prevista na Constituição, e não havia nódoa de inconstitucionalidade no texto. A peleja foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF).

Só beijos. Por José Sarney

Correio Braziliense

O que temos ouvido depois dos tapas e beijos entre Brasil e EUA tem sido somente beijos, sem deixar marca na cueca, mas, nem por isso, menos significativos do pensamento das chancelarias

Há duas sextas-feiras, escrevi nesta coluna sobre o encontro entre o presidente Lula e o presidente Trump. Ambos se conheceram, se abraçaram e trocaram cortesias no encontro de 38 segundos. A declaração dos dois foi de que o encontro gerou uma química entre eles; química esta que se desdobrou nas semanas seguintes em declarações de simpatia e de amizade que desembocaram num telefonema de meia hora em videoconferência, combinando um encontro pessoal. Afirmaram que a excelente conversa abriu caminho para o início de negociações para encontrarem uma solução para o problema das taxas altíssimas aplicadas ao Brasil e o término de uma conduta de relações ásperas entre os dois países.

Autocandidato ao Nobel, Trump protagoniza o fim da guerra em Gaza. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Chefe do Hamas comemora, enquanto Netanyahu ainda negocia o apoio do seu governo ao acordo de paz entre Israel e Hamas, mediado pelos Estados Unidos

A foto de dois meninos de mãos dadas, um com a camisa azul de Israel e seu quipá, e outro com a bandeira da Palestina e seu lenço quadriculado, que circula nas redes sociais desde o começo da guerra em Gaza, provocada por um ataque terrorista do Hamas, passou a fazer um sentido prático. Mas ainda não será nada fácil ver isso acontecer, com as sequelas de uma guerra que ceifou as vidas de milhares de crianças. Sim, é uma mensagem utópica: a convivência fraterna entre palestinos e israelenses. Entretanto, o processo civilizatório não existiria sem as utopias.

Sucessão no STF será política. Por Vera Magalhães

O Globo

Favoritos para o lugar de Barroso são todos homens, e nomeação de mulher só ocorrerá com mobilização social semelhante à que barrou a PEC da Blindagem

A política dita as conversas, que já correm adiantadas, para a escolha do sucessor de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal, agora que o ministro confirmou sua aposentadoria antecipada. Para que a indicação de uma mulher à Corte passe a ser cogitada por Lula, precisará haver pressão social de tal monta que ele entenda que isso será fator crucial na campanha eleitoral de 2026 — algo que, até aqui, não é considerado.

Por ora, a avaliação que faz a todos que o abordam sobre a questão de gênero na escolha é que “nunca antes neste país” um presidente indicou tantas mulheres para Cortes superiores quanto ele. No atual mandato, foram cinco as designadas a tribunais superiores: Maria Marluce Caldas Bezerra e Daniela Teixeira para o Superior Tribunal de Justiça, Verônica Sterman para o Superior Tribunal Militar e Edilene Lôbo e Estela Aranha para o Tribunal Superior Eleitoral.

Uma bomba para Lula. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Votação abriu rombo nas contas do governo para ajudar bets e fintechs a pagarem menos imposto

A oposição lançou uma bomba fiscal no caminho da reeleição de Lula. A nova derrota do governo na Câmara deve abrir um rombo de R$ 46 bilhões nas contas públicas. O dinheiro fará falta no ano eleitoral de 2026.

A derrubada da Medida Provisória mostra que a melhora nas pesquisas não resolveu a vida do presidente no Congresso. Sem base parlamentar sólida, Lula continua exposto a sustos e rasteiras. Na noite de quarta, levou uma das maiores deste terceiro mandato.

Os 251 votos contra o Planalto indicam que a aliança entre Centrão e bolsonarismo continua firme. Em setembro, a dobradinha aprovou a PEC da Blindagem e acelerou a anistia aos golpistas. Agora complica os planos da Fazenda de cumprir a meta fiscal via elevação de receita.

O Brasil dos invisíveis. Por Pablo Ortellado

O Globo

Sob as ruidosas e intolerantes guerras culturais, resiste um substrato majoritário, comedido e independente

No último domingo, O GLOBO publicou uma pesquisa da More in Common que apresenta uma segmentação da população brasileira em seis grupos ideológicos e de valores. Essa segmentação desvela uma estrutura subjacente da opinião que permite olhar a divisão política no Brasil com muito mais nuance e granularidade.

A segmentação usa técnicas estatísticas de aglomeração de padrões de resposta para encontrar grupos ideologicamente coerentes, com um comportamento previsível para mais de 150 perguntas. Esses grupos são chamados de “segmentos”.

Para quem vai a nova toga? Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula embola Justiça, Congresso e 2026 ao preencher a vaga de Barroso no STF

Com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, perdem o Brasil, o Supremo e também o presidente Lula, quando a polarização ainda domina a política e ele parecia navegar de vento em popa, mas a ventania da oposição veio mais rápida e mais forte do que o previsto. A derrubada da MP que aumentaria a arrecadação bateu no bolso, ou melhor, nas contas do governo. Uma derrota e tanto.

Barroso, indicado para o STF por Dilma Rousseff, em 2013, antecipou sua aposentadoria em oito anos e se despediu muito emocionado, deixando um legado de firmeza, convicções, defesa contundente da democracia e, particularmente, de discursos vivos e brilhantes. Ouvi-lo é um aprendizado e um prazer.

O Brasil no centro do planeta. Por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Todas as dificuldades deveriam nos unir na tentativa de conseguir o melhor durante a COP-30, em Belém

Está chegando o momento da COP-30. O evento é um instrumento importante para que o mundo negocie compromissos de redução de emissões e de adaptação às mudanças climáticas. Até agora, temos falado muito sobre os preços assombrosos de hospedagem e de possíveis problemas de organização. Tudo bem. Isso pode ser discutido, mas seria uma lamentável miopia deter-se em aspectos secundários diante do grande problema dos nossos tempos.

O Brasil generosamente se ofereceu para hospedar a COP30 numa metrópole amazônica. Investiu mais de R$ 4 bilhões e designou um competente diplomata para presidir o evento: o embaixador André Corrêa do Lago. É um esforço considerável, sobretudo porque o Brasil assume grandes compromissos num momento difícil para a política ambiental no planeta.

Educação técnica e profissional: desta vez vai? Por Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Com Propag, a oferta de cursos técnicos deve crescer. Mas isso trará os efeitos esperados, tornando este ensino mais difundido, acessível, melhor e mais relevante para quem o procura?

À esquerda e à direita, todos parecem se preocupar com o tema da educação técnica e profissional. Em 1971, o governo militar concluiu que as escolas brasileiras só formavam bacharéis e decidiu que todos os estudantes de nível médio teriam de ter uma qualificação profissional. Depois tivemos o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (Planfor) – governo Fernando Henrique, 1995 –, o Plano Nacional de Qualificação (PNQ) – Lula, 2003 – e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – Dilma, 2011. Nada funcionou direito. Em 2017, tivemos a reforma do ensino médio, com um novo itinerário técnico de nível médio – governo Temer –, que foi reformulado em 2024 antes de entrar em vigor, e agora temos o Programa de Expansão da Educação Nacional de Qualidade (Propag), que permite que os Estados destinem parte dos recursos de suas dívidas com a União ao ensino técnico, com valores que podem chegar a R$ 12 bilhões. Será que agora vai?

China limita venda de terras raras, vitamina da tecnologia de ponta. Brasil bobeia. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Empresas terão de pedir permissão para negociar produtos e tecnologia relacionadas

Comércio do produto está no centro do conflito econômico entre americanos e chineses

China vai fechar a porteira da venda e do uso de terras raras e de tecnologias relacionadas. Empresas e indivíduos, em especial estrangeiros, terão de pedir permissão para negociar terras raras e produtos que contenham terras raras chinesas. Ou que sejam produzidos no exterior e utilizem "tecnologias originárias da China para mineração, fundição e separação de terras raras, fundição de metais, fabricação de materiais magnéticos ou reciclagem de recursos secundários de terras raras".

É o que diz um comunicado desta quinta do Ministério do Comércio da China. Vendas para uso militar desses produtos serão vetadas; para a fabricação de chips, estarão sujeitas à análise caso a caso.

Donald Trump deixa Bolsonaros e Tarcísio pendurados na brocha. Por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Apontado como intransigente ao defender soberania, Lula buscou negociação e ganha pontos, enquanto governador se desgastou

Presidente dos EUA mudou de página ao sentir o cheiro de queimado do bolsonarismo e os efeitos negativos na economia de seu país

conversa de Donald Trump com o presidente Lula enxotou da sala o bode bolsonarista que tentava se impor pelo mau cheiro entreguista e deixou os subalternos Eduardo Bolsonaro, deputado desertor, e Tarcísio de Freitas, governador Maga de São Paulo, pendurados na brocha –para usar a sugestiva imagem popular...

Trumpistas e direitistas radicais, com simpatias moderadas, estavam vibrando com a ofensiva da Casa Branca para salvar golpistas e culpar o Supremo pelas ameaças à democracia brasileira.

Um Nobel para Trump? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano já se voluntariou para receber comenda da Paz

Se plano para Gaza se mostrar mais do que um cessar-fogo, Agente Laranja terá realizado uma proeza

Escrevo estas linhas menos de 24 horas antes da divulgação do prêmio Nobel da Paz. Donald Trump voluntariou-se para a comenda, mas será que ele a merece?

Não creio que os noruegueses sejam loucos o bastante para galardoar Trump por uma iniciativa de paz que pode não durar mais do que alguns dias, mas, se o plano do presidente americano para Gaza se mostrar mais sólido do que um cessar-fogo com troca de reféns por prisioneiros, então não há dúvida de que seria uma façanha digna de Nobel.

Uma derrota anunciada. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Há meses a oposição avisara que não aprovaria mais nada que implicasse cobrança de novos tributos

Quando o governo insistiu em apostar na arrecadação, assumiu o risco de perder no Congresso

derrubada da medida provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) era uma fava contada. Surpreendente foi o governo acreditar que pudesse ganhar.

Os sinais da derrota estavam à vista de todos. A começar pelo aviso dado meses atrás de que o Congresso não aprovaria mais nada que implicasse novas cobranças de tributos. Tanto que em junho invalidou o decreto de aumento do IOF, depois parcialmente recuperado no Supremo Tribunal Federal.

Os três 'culpados', segundo o governo pela queda da MP e a volta à prancheta. Por Míriam Leitão

O Globo

Em conversas com integrantes do governo, a avaliação é de que a derrubada da Medida Provisória 1303 pode ser atribuída a três pessoas: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o secretário Gilberto Kassab, presidente do PSD, e também o senador Ciro Nogueira.

— Há digitais dos três por todo o Congresso —disse essa fonte.

A articulação da oposição junto a parlamentares teve como argumento central o impacto da medida nas receitas do governo em 2026, ano eleitoral. Isso mostra que não houve análise técnica — e que 2026, para o jogo político, já começou.