sábado, 5 de julho de 2008

A CÚPULA DOS IMPOTENTES
Clóvis Rossi

TÓQUIO - A capa da revista "The Economist" desta semana aproveita a cúpula do G8 a iniciar-se amanhã no Japão para discutir "quem dirige o mundo". Com a habitual competência, decreta que o G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Rússia) "parece velho e impotente" (a melhor tradução para "old" seria antiquado, não velho, que não é defeito, pelo menos não aos olhos de quem o é, claro).

Acrescenta que não é o único grupo com essas desagradáveis características. Passa em seguida a perguntar se seria melhor reduzir o G8 a um G4, abrigando as superpotências econômicas (EUA, União Européia, China e Japão). Outra hipótese, inversa, seria ampliá-lo para 12, com a incorporação da indefectível China mais Índia, Brasil e Espanha.

Nada contra a constatação de que todos os sete donos do mundo se tornaram impotentes (a Rússia está no G8 menos por sua força real e mais como prêmio por ter trocado o comunismo por um desvairado capitalismo). Mas falta dizer que impotentes estão quase todos os governos do planeta, sobrepujados pela avassaladora força dos mercados, em especial os financeiros.

As evidências são muitas, mas fico apenas no âmbito do G8: na cúpula anterior, na Alemanha, a chanceler Angela Merkel queria extrair de seus pares algum tipo de regulação dos mercados financeiros para tentar controlar o cassino. Não conseguiu. Foi antes da crise das hipotecas "subprime", que revelou um formidável déficit de regulação. E antes da disparada mais aguda dos preços do petróleo e dos alimentos, para a qual contribui uma boa dose de especulação nos mercados futuros.

Nem assim a proposta alemã de 2007 voltou à mesa em 2008. Do que se conclui que os países do G8 são impotentes não em relação a outros países, mas em relação a um ente interno a cada um deles, mas de atuação global, os tais mercados.

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