sexta-feira, 4 de julho de 2008

DEU EM O GLOBO

BC EUROPEU ELEVA JUROS PARA SEGURAR A INFLAÇÃO
Da Bloomberg News*

Taxa básica agora é de 4,25%, maior em quase 7 anos. Objetivo do banco é reduzir o índice de preços à metade

FRANKFURT e NOVA YORK. O Banco Central Europeu (BCE) elevou ontem sua taxa básica de juros de 4% para 4,25%, a maior desde setembro de 2001, numa tentativa de controlar a escalada de preços. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, minimizou a possibilidade de haver novos aumentos, afirmando que essa alta de 0,25 ponto percentual vai ajudar a levar a inflação abaixo dos 2%. Em junho, o índice anualizado atingiu 4%.

- A política monetária após a decisão de hoje vai contribuir para atingir nosso objetivo de estabilidade de preços. A partir de agora não tenho viés. Não temos pré-compromisso a médio prazo - afirmou Trichet, acrescentando que a decisão foi unânime.

No mês passado, Trichet dissera que alguns dos 21 membros da diretoria do BCE eram contra um aumento no custo dos empréstimos.

Para analista, Trichet soou "mais pacífico"

Foi a primeira alta desde junho de 2007. A decisão animou os mercados, devido à expectativa de não haver novas elevações. Em Frankfurt, o DAX avançou 0,77%, enquanto o FTSE, de Londres, e o CAC, de Paris, subiram 0,93% e 1,11%, respectivamente.

Já o euro recuou 1,2% frente ao dólar, para US$1,5699, tendo sido negociado a US$1,5682, seu menor patamar desde 26 de junho. Em 22 de abril, a moeda única européia registrou a máxima de US$1,6019. Em relação à libra, o euro recuou 0,7%, para 0,79 libra. Frente à moeda japonesa, a queda foi de 0,4%, para 167,56 ienes.

- Trichet soou claramente mais pacífico - disse Emanuele Ravano, diretor-gerente de Estratégia da Pacific Investment Management Co. (Pimco) em Londres. - É uma mudança na posição do BCE.

O BCE está avaliando o risco de que juros mais elevados possam exacerbar a desaceleração econômica, contra o perigo de que a maior inflação em 16 anos afete preços e salários.

Segundo Dario Perkins, economista do banco ABN Amro, Trichet deu a entender que, no momento, não há planos de elevar a taxa de juros de novo:

- É claro que vai depender do que aconteça com a inflação e, mais importante, com as expectativas sobre a inflação.

Trichet também terá de lidar com as preocupações dos países cujas economias foram afetadas pela crise no mercado imobiliário, iniciada nos Estados Unidos. A ministra de Finanças francesa, Christine Lagarde, afirmou ontem que os juros maiores podem afetar a competitividade da Europa ao puxar a cotação do euro frente ao dólar, já que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mantém sua taxa básica hoje em 2%.

- É difícil acreditar que nenhum representante de banco central dos 15 países membros tenha manifestado sua oposição (à alta dos juros), especialmente com o crescente pessimismo em alguns países - disse Kenneth Broux, economista do banco Lloyds TSB Corporate Markets. - Isso significaria que Irlanda e Espanha concordaram com a alta, apesar da crise em seus mercados de construção civil e imobiliário.

O BCE ainda vê "crescentes riscos de alta" à estabilidade dos preços, disse Trichet. Ontem, ele não usou as expressões "alerta elevado" ou "forte vigilância", comuns em altas anteriores, mas ressaltou que isso não significa nada.

Os sindicatos europeus já estão pressionando por reajustes salariais, e o petróleo vem batendo recordes. Segundo as projeções do BCE, o crescimento da zona do euro pode desacelerar de 1,8% este ano para 1,5% em 2009. Ano passado, a expansão foi de 2,6%.

EUA cortaram 62 mil postos de trabalho em junho

Bancos centrais de vários países, como Rússia e Brasil, têm elevado os juros à medida que a inflação substitui a crise do crédito como principal preocupação global. Na Suécia, a taxa está em 4,5%, o maior patamar em 12 anos.

Já o Fed vem reduzindo sua taxa de juros desde setembro do ano passado, a fim de combater a desaceleração da economia. Os juros americanos passaram de 5,25% para os atuais 2%. Isso tem levado à desvalorização do dólar e, segundo analistas, à escalada dos preços do petróleo.

O governo americano informou ontem que foram eliminados 62 mil postos de trabalho em junho, devido à crise no mercado imobiliário. Foi o sexto mês consecutivo de cortes, a maior seqüência desde 2002. O índice de desemprego ficou estável em 5,5%.

- Os mercados estão começando a questionar a credibilidade da inflação do Fed e do Banco da Inglaterra. O BCE deu um sinal de que é sério em sua luta contra a inflação - disse Perkins, do ABN.

(*) Com agências internacionais

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