sexta-feira, 4 de julho de 2008

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

AS FARC MORRERAM? VIVAM AS FARC!
Eliane Cantanhêde

BOGOTÁ - As Farc capazes de delimitar território, criando um Estado dentro do Estado colombiano no governo Andrés Pastrana, já não existem mais. A falta de direção política e de apoio internacional causaram desorientação, fraturas nas lideranças, sucessivas derrotas e a morte de seus nomes mais consagrados. O resgate de Ingrid Betancourt e de 14 outros reféns, anteontem, foi um xeque-mate, com requintes de humilhação.

Pelo relato factual, os reféns que mais interessavam (a jóia da coroa, os três americanos e os 11 policiais e militares colombianos) foram reunidos e retirados espetacularmente, sem um único tiro e sem uma gota de sangue, num helicóptero sugestivamente branco. Simples assim? Como foi possível?

É certo que houve infiltração de experts em inteligência nas Farc e participação decisiva dos EUA, mas falta um elo: a cooptação de líderes de primeira grandeza.

Manuel Marilanda, o "Tirofijo", morreu; Raúl Reyes explodiu no Equador; Nelly Ávila, a "Karina", se entregou; um guarda-costas assassinou Ivan Ryos. Sobram peões, alçados à condição de reis e rainhas já sob a "ideologia" do narcotráfico e que bem podem trair. Serão os próximos a cair.

Ou a entregar.

E Álvaro Uribe, que acabou com a brincadeira e com as áreas desmilitarizadas, como vai agir?

Se depender do comando maior, Ops!, dos aliados norte-americanos, chegou a hora de estraçalhar o que resta da guerrilha, mesmo sob risco de 500 reféns, 25 deles políticos. Mas Brasil, Argentina, Venezuela e Equador preferem outro caminho: o da vitória negociada, também sem tiros e sem sangue. Derrubar o rei, não incendiar o tabuleiro.

Depende igualmente do que sobra das Farc. Se ideologia e unidade se esfacelaram, ainda restam interesses poderosos e muito dinheiro. As Farc viraram "narco-guerrilheiras". Agora, vão-se os guerrilheiros, fica só o narcotráfico. E ainda por muito e muito tempo.

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