sábado, 26 de julho de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL


GOVERNO E CAMPANHA SOLTOS
Villas-Bôas Corrêa

NESTA FASE NEBULOSA em que a campanha eleitoral não encorpa e o governo cai na defensiva, com a inflação a arranhar a porta e a engolir nacos do Bolsa Família, o megaescândalo do Opportunity, a derramar o lixo para todos os lados veio mesmo a calhar a jogada um tanto constrangida do presidente Lula de recolher as velas e interromper o oba-oba das visitas às obras do Projeto de Aceleração do Crescimento, o sumido PAC, enquanto torce para que as coisas melhorem ou parem de piorar.

Na já longa militância política, iniciada nos tempos de ascensão do maior líder operário da história deste país e o salto para o degrau de fundador e candidato único do PT à Presidência em três tentativas malogradas até a vitória em dose dupla dos dois mandatos, Lula pagou o preço da inexperiência e da improvisação. Mas aprendeu com caneladas de erros e empurrões dos acertos. E mandou o recado de que não participará da campanha, com exceções de São Paulo e São Bernardo do Campo. E é de se tirar o chapéu o veto sumário e seco à participação da ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e candidata à sua sucessão nos até agora murchos palanques da mofina campanha municipal para a eleição de prefeitos e vereadores. Para dourar a pílula, estendeu a proibição ao ministro das Relações Internacionais, José Múcio Monteiro, que deve limitar a sua área de atuação a Pernambuco.

Os demais ministros estão liberados para comícios e demais atos de campanha. O caso de Dilma já não tão poderosa, mas ainda a candidata única do governo para a sucessão de Lula em 2010, a conversa é outra. Nas primeiras avaliações cautelosas, exercícios que não vão além de palpites, esta campanha municipal está prometendo ser a mais medíocre desde o fim da ditadura do rodízio dos generais-presidente.

Ainda há tempo para a reviravolta, com a massificação da campanha com o horário de propaganda eleitoral em rede nacional das emissoras de rádio e televisão. Mas será uma grata surpresa a revelação de lideranças ­ poucas, não convém alimentar ilusões para não cair na fossa ­ no deserto em que tantos já perderam o rumo de casa. Em vez de confirmar candidaturas para a cadeira de Lula, muitas ambições apresentam escoriações e lanhos que podem ser fatais.

A sorte pode ser ingrata, mas não se mostrou tendenciosa na primeira fase de caminhada. Basta olhar o panorama com a isenção de quem busca entender o que está acontecendo. E começar cravando evidências: nem o governo e nem a oposição têm o seu candidato natural, apoiado pelos partidos da sopa aguada de siglas que confunde o eleitor. A oposição chamusca os seus candidatos nas fogueiras das intrigas e vaidades regionais, como nos exemplos de Minas e São Paulo. E o presidente Lula foi obrigado a acudir antes que a única candidata que não foi torrada na temporada de escândalos e grossa roubalheira das dezenas de denúncias que se perdem na burocracia judiciária, caia no mundéu do envolvimento nos sangangus do segundo escalão.

A ministra-candidata vai hibernar por algum tempo, até que as coisas melhorem e a poeira assente. E Lula mudou o modelo da agenda de viagens. Ampliou o roteiro para passar ao lago das áreas de turbulência e distraiu-se com o exotismo de civilizações bizarras nos cafundós da Ásia e da África, além da atenção permanente na consolidação do projeto de liderança continental. Escorado na proibição constitucional e com a ministra-candidata em quarentena, evitará as visitas às obras e lançamentos de projetos do PAC, com todas as evidências de campanha eleitoral. Mas não faltaram motivos para aborrecimentos.

Não é apenas o projeto da ministra-candidata que reclama cuidado: o PT é um manancial de amofinação. Ainda agora, o serviço de inteligência federal confirma que o ex-deputado petista, José Greenhalgh é um dos lobistas suspeitos de ligação com o banqueiro Daniel Dantas e que teria exigido US$ 260 milhões para viabilizar a fusão entre a Brasil Telecom e a OI.

Tudo poderia ser varrido para debaixo do tapete se a inflação não tivesse rompido a cerca e voltasse a ameaçar novo surto, com a elevação do preço dos gêneros de primeira necessidade da alimentação dos pobres e remediados e a ronda das maquinetas da remarcação dos preços nos mercados.

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