sexta-feira, 15 de agosto de 2008

DEU NO VALOR ECONÔMICO

CANDIDATOS EXPLORAM APOIO FEDERAL E ESTADUAL
César Felício, Cristiane Agostine, Danilo Jorge e Ana Paula Grabois, de São Paulo, Belo Horizonte e Rio


O horário eleitoral gratuito da campanha municipal começa nesta terça-feira com a busca de referências nacionais por parte dos candidatos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, José Serra, e o deputado federal Ciro Gomes (PSB) estarão presentes nas campanhas dos candidatos tanto de seus partidos como de coligações adversárias. No primeiro caso de forma explícita e no segundo, em citações biográficas. No jargão dos marqueteiros, o que se chama de "uso curricular".

É uma maneira de contornar a restrição legal. Pela lei, um dirigente só pode gravar declaração de apoio para uma candidatura da qual seu partido participa em coligação. Do contrário, há risco de se configurar infidelidade partidária.

Em Fortaleza, Lula e Ciro estarão ladeando a petista Luizianne Lins, candidata à reeleição, mas farão parte também da propaganda da senadora Patrícia Saboya (PDT), que é apoiada pelo PSDB do senador Tasso Jereissati. Segundo o marqueteiro da candidata, Einhart Jácome, que foi seu cunhado, serão aparições "curriculares": quando a trajetória política de Patrícia for exibida, será destacado o fato de ela ser vice-líder do governo no Senado, o que possibilitará o uso da imagem de Lula, e de ter sido primeira-dama do Ceará, aparecendo ao lado de Ciro, seu ex-marido. Na propaganda da petista, sob a responsabilidade de Duda Mendonça, deve haver uso abundante da imagem de Lula e do irmão de Ciro, o governador Cid Gomes.

A dupla Lula e Ciro também estará presente em São Paulo, onde a campanha de Marta Suplicy (PT) planeja usar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já em seu primeiro programa. A campanha de Marta espera a presença de Ciro no sábado, para um evento ao lado da petista, e imagens devem ser gravadas para exibição na televisão. Além de Lula, a propaganda da candidata, tocada por João Santana, o marqueteiro de Lula em 2006, vai explorar a imagem de outros líderes dos partidos que apóiam a candidata, como o presidente do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos. A prevalecer, o que se viu no primeiro debate de TV, a petista deverá ter uma imagem mais circunspecta do que a de outras campanhas.

Já a participação do governador José Serra (PSDB), um aliado do candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), ainda não está definida. A propaganda de Alckmin, conduzida pelo publicitário Lucas Pacheco, deverá deixar claro que Serra e Alckmin são do mesmo partido para se contrapor à exploração, por Kassab, da prefeitura como herança serrista. Pesquisas qualitativas mostram que o eleitor paulistano não acredita que o governador e o candidato tucano são politicamente distantes. Procurada pelo Valor, a equipe que cuida da propaganda de Kassab, comandada por Luiz Gonzalez, se recusou a atender ao pedido de entrevista.

Em Belo Horizonte, a imagem de Lula também será disputada. No comando da campanha do empresário Márcio Lacerda (PSB), que tem ao seu lado o prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), a idéia é divulgar as manifestações públicas de apoio dadas por Lula à aliança que juntou petistas e tucanos na sucessão de BH. "Lula entregou todas as pérolas que permitem classificá-lo como aliado", afirma o publicitário Paulo Vasconcelos, um dos marqueteiros.

Para tentar neutralizar essa ação, os estrategistas da campanha da deputada federal Jô Moraes (PCdoB) buscarão demonstrar que a parlamentar mantém relação com Lula desde os tempos de militância sindical. "Há inúmeras fotografias de Jô e Lula, indicando uma aproximação histórica entre ambos", disse Kerison Lopes, coordenador de comunicação da campanha.

No PMDB, o plano é vincular a candidatura do deputado federal Leonardo Quintão ao Planalto. "Temos seis ministros, que controlam juntos 62% do Orçamento da União e todos eles vão hipotecar apoio ao nosso candidato", diz Maria Elvira, que coordena o conselho político .

No Rio, a campanha de Eduardo Paes (PMDB) vai explorar a possibilidade de alinhamento da prefeitura com os governos estadual e federal e deve abusar da figura do governador Sérgio Cabral, bem avaliado pela população. Muito identificado com a Zona Sul do Rio, o candidato do PV, Fernando Gabeira, terá uma campanha centrada em sua imagem de credibilidade, segundo afirmou o publicitário Lula Vieira. "Queremos mostrar que as pessoas podem confiar nele", afirma. Nos quase 5 minutos de propaganda, Vieira vai usar o apoio de famosos, como o cantor Caetano Veloso e o produtor musical e escritor Nelson Motta.

Alessandro Molon (PT) recorreu a políticos do seu partido, mas não usará a imagem de Lula. O candidato gravou com os ministros Tarso Genro (Justiça), Fernando Haddad (Educação), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Edson Santos (Igualdade Racial), Nilcéa Freire (Políticas para as Mulheres) e com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, além do presidente do PT, Ricardo Berzoini. Solange Amaral (DEM) vai dar ênfase às realizações do atual prefeito Cesar Maia, do mesmo partido, diz o produtor Marcelo Maia, sobrinho do prefeito.

O senador Marcelo Crivella (PRB), que tem como marqueteiro Duda Mendonça, fez segredo. O vice-presidente José Alencar, do mesmo partido de Crivella, já gravou, mas a organização da campanha não sabe se o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, também do PRB, vai aparecer.

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