domingo, 7 de setembro de 2008

Coisas do Senado


Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


A disputa pela presidência da Casa vai esquentar ainda mais porque em 2010 haverá renovação de dois terços dos mandatos dos senadores e a maioria deles, hoje, está em risco eleitoral
A alta política brasileira transita pelo Senado Federal, venerável e vetusta Casa política que surgiu no Império. É um reduto conservador, que já deu muitas dores de cabeça aos governantes, quase sempre quando o parlamento foi afrontado pelo Executivo. É composto por ex-governadores, ex-ministros e lideranças em ascensão, embora tenha uma legião de suplentes sem-votos, que em alguns casos assumiram os mandatos por terem financiado a campanha do titular.

Patronos

Toda vez que se fala em reforma constitucional, surgem propostas para acabar com o sistema bi-cameral e extinguir o Senado. Nada ocorre, entretanto. De dimensões continentais, dele o Brasil não pode prescindir para conter o poder centralizador da União e garantir certa autonomia aos estados. Foi para equilibrar essas relações, aliás, que surgiu a “política de conciliação” no gabinete de Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês de Paraná, em 1953. Depois de décadas de confronto, saquaremas (por causa da hegemonia dos políticos fluminenses) e luzias ( devido à revolta liberal mineira da Vila de Santa Luzia do Rio das Velhas, em 1842) chegaram a um entendimento. Vem daí a expressão jocosa de que “todo luzia é um saquarema no poder”.

A galeria dos políticos que já passaram pelo Senado e deixaram o nome na história do Brasil por seu talento e coragem é vasta. Feijó, Cairú, Caxias, Pinheiro Machado, Nereu Ramos, Juscelino Kubitschek, Josaphat Marinho, Teotônio Vilela, Nilo Coelho, Afonso Arinos e Mário Covas são alguns deles. O grande patrono, porém, é um político derrotado, cujo nome virou sinônimo de inteligência e cultura, o baiano Rui Barbosa de Oliveira. Advogado, jornalista, jurista, diplomata, sucedeu Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras. Foi o principal autor da Constituição de 1891, que Floriano Peixoto afrontou em 1893, com seu presidencialismo golpista, centralizador e autoritário. Rui foi obrigado a se exilar, mas retornou em 1895 e assumiu o mandato no Senado, para o qual sempre foi reeleito. Candidato a presidente da República, foi derrotado nos pleitos de 1910, 1914 e 1919 pelas oligarquias regionais. Faleceu em 1923.

Submundo

A vida no Senado não se restringe aos grandes momentos e grandes personagens. A pequena política e o submundo, com seus atores menores, também tecem a trama política. São as memórias dos políticos, muito mais do que os anais da Casa, que contam seus bastidores. A vida mundana também engendra grandes acontecimentos históricos. Basta ler os relatos do ex-chefe da segurança do Senado, Francisco Pereira da Silva, no livro O Índio sai da sombra, escrito pelo jornalista Carlos Chagas (Editora Dom Quixote). É de rolar de rir. Tem um olhar diferente da crônica política, mas é revelador de como certas coisas funcionam e da personalidade de muitos políticos. Alguns até já morreram, mas outros estão vivíssimos.

A propósito, a disputa pela Presidência do Senado vai esquentar ainda mais porque em 2010 haverá renovação de dois terços dos mandatos dos senadores e a maioria deles, hoje, está em risco eleitoral. Vem aí uma nova safra de ex-governadores, majoritariamente governistas. Dependendo do resultado das eleições municipais, o governo terá força para abrir uma brecha na lei da fidelidade partidária e promover um novo troca-troca partidário. A meta é conseguir maioria absoluta no Senado. Completaria o triunfo político do governo Lula.

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