domingo, 7 de setembro de 2008

Qual é sua Proposta?

Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS

Seja por alguma identidade prévia, seja por sentimento partidário, seja porque chegou a uma decisão pelo que sabe dos candidatos e suas alianças, o eleitor escolhe

No senso comum a respeito do comportamento eleitoral, existem coisas verdadeiras e outras não. Uma das mais comuns é dizer que as eleições se travam entre “propostas”, através de seu confronto e avaliação.

Pergunte-se a qualquer eleitor, candidato ou aos profissionais que levam uns aos outros, os marqueteiros, e todos serão unânimes. É preciso apresentar “propostas”, mostrar aos cidadãos que aqueles que pretendem governar têm soluções para os problemas que afligem as pessoas.

Parece a coisa mais óbvia, que dispensa considerações. Sem boas “propostas”, como alguém teria chances em uma eleição, conseguiria convencer os eleitores de que está mais preparado que os demais? Afinal, os eleitores não precisam conhecer o que pensam todos, antes de fazer suas escolhas?

Verdade? Claro que não, como, no fundo, ninguém ignora, do eleitor mais humilde ao Presidente da República. Mas todos gostamos de fingir que é assim que se tomam as decisões de voto, talvez porque acreditar nisso produz em nós uma ilusão de racionalidade.

A idéia de que as “propostas” são a base de uma campanha eleitoral é uma daquelas coisas que os eleitores fingem que é verdade e os candidatos (e seus marqueteiros) fingem que acreditam. Tem tanta substância como qualquer lenda, mas teima em aparecer toda vez que estamos em época de eleição.

Nesta, está presente até demais. O figurino do bom candidato a prefeito em 2008 exige dúzias de “propostas” para exibir na propaganda eleitoral, como belas gravatas ou lindos complementos, jóias, bonitos penteados. É de mau tom aparecer na televisão sem elas.

Em algumas cidades, está em curso um campeonato de propostas. Em Recife, há quem já apresentou mais de cem, apenas nos primeiros dias da propaganda eleitoral. Em São Paulo, Marta, Alckmin e Kassab travam uma batalha diária para saber quem empilha mais propostas na frente do eleitor. Em cada aparição no horário eleitoral, nenhum mostra menos que 10. País afora, o mesmo se repete, com direito a todo tipo de bizarrice. Só de metrôs se diria que vamos ter mais de 100.

Os eleitores confirmam que é isso mesmo, que é assim que escolhem. Quem quiser ouvir o coro que fazem, basta se sentar nas salas de observação de grupos focais, usados em pesquisas qualitativas. Parece coisa ensaiada. Do Oiapoque ao Chuí, só dá “proposta”.

É fácil, no entanto, ver quão pouco a sério os próprios eleitores se levam nesse assunto. Se perguntarmos que propostas conhecem dos candidatos a prefeito de suas cidades, dificilmente teremos mais que uma pequena minoria conseguindo acertar alguma.

Não é difícil explicar o porquê. Com diversos candidatos (11 em São Paulo, 12 no Rio, por exemplo) se sucedendo na telinha, cada um dizendo que vai fazer 10 coisas a cada dia, só um eleitor de memória prodigiosa seria capaz de se lembrar delas no dia seguinte.

Salvo do candidato em quem já decidiu que vai votar. Seja por alguma identidade prévia, seja por sentimento partidário, seja porque chegou a uma decisão pelo que sabe dos candidatos e suas alianças, o eleitor escolhe. Daí em diante, presta atenção, de fato, nas “propostas”, mas apenas nas de seu candidato. Mais para ter argumentos com os quais justificar a opção que fez.

Nem as “propostas” estão no fundamento das escolhas nem são motivo para levar o eleitor a desistir de uma candidatura.

Tudo isso, é claro, para os eleitores normais. Talvez exista quem faça, de verdade, o que os demais apenas dizem fazer: Sentar-se na frente da televisão, atentamente, anotando tudo que dizem os candidatos, para chegar a uma comparação racional da viabilidade, custo e vantagem de cada proposta. Ao cabo disso, escolher.

Mas não é assim que as coisas se dão no mundo real.

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