quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Como acontecem os fenômenos


Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS


Não há nada parecido em nossa história eleitoral. Crescer mais de 30 pontos porcentuais em oito dias é o mais rápido e mais forte crescimento que já tivemos em eleições brasileiras

No final da semana passada, logo após a divulgação da mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão em Belo Horizonte, a candidata do PCdoB Jô Moraes deu uma declaração que revelava todo seu desapontamento com o que está acontecendo na cidade. Política experiente, não se conteve na expressão da surpresa perante um fato que, temos que concordar, é mesmo surpreendente.

Segundo suas palavras, era preciso entender “um fenômeno meteórico eleitoral nunca antes visto numa campanha eleitoral”. Estava se referindo, é claro, ao crescimento da candidatura de Márcio Lacerda à prefeitura da cidade. E, embora tentasse fazer uma certa ironia, parodiando o modo de falar de Lula, suas palavras nada tinham de brincadeira.

Nas pesquisas feitas antes do início da propaganda eleitoral pela televisão e o rádio, que começou no dia 19 de agosto, o candidato da coligação capitaneada pela dobradinha PSB/PT, que tem o apoio de Aécio Neves, alcançava modestos 8% a 9%. Era aonde tinha chegado crescendo lentos 3 pontos porcentuais, vindo dos 6% que obtinha na segunda quinzena de julho.

Ou seja, levara quase um mês para ficar ainda abaixo de 10%.

Na primeira pesquisa após o início da propaganda, Márcio Lacerda, de acordo com dados do Datafolha, mais que dobrou esse patamar, saltando de 9% para 21%. Entre os dias 13 e 22 de agosto, subiu 12 pontos, perto de 1,5% ao dia, em média.

Na verdade, como mostram outras pesquisas internas, praticamente todo esse crescimento aconteceu em dois ou três dias, de 19 de agosto em diante. Em outras palavras, a taxa de crescimento esteve mais próxima de 4% ao dia, em média.

Tem, portanto, alguma razão Jô Moraes quando fala em meteorito. Ela, provavelmente, esperava que Lacerda crescesse depois que a propaganda começasse, mas não na velocidade que apresentava.

O problema, para ela, é que Lacerda continuou em forte crescimento. Entre os dias 26 e 28 de agosto, o Ibope fez nova pesquisa, na qual ele chegou aos 40%. Se tomarmos o último dia da pesquisa do Datafolha como referência, ele voltou a dobrar suas intenções de voto, de 21% para 40%, em apenas seis dias, entre 22 e 28 de agosto. Outra vez, sua taxa de aumento ficou próxima de 4% ao dia.

Não há nada parecido em nossa história eleitoral. Crescer mais de 30 pontos porcentuais em oito dias é o mais rápido e mais forte crescimento que já tivemos em eleições brasileiras.

Onde não existe televisão, isso nem sequer é possível. Nas que tivemos em cidades maiores ou em estados, nunca aconteceu, ou, pelo menos, não há registro. O que está acontecendo este ano em Belo Horizonte deixa longe os casos conhecidos de “fenômenos eleitorais”.

A explicação do crescimento de Márcio Lacerda é aparentemente simples e está na ponta da língua dos eleitores da cidade. Todos dizem que “com os apoios que tem”, não há mistério algum.

Mas é mais que isso. Apoio, todo candidato tem ou diz ter. Liderança, muitos políticos têm e a empregam para impulsionar seus correligionários. Todos os governadores têm candidatos, assim como a maioria dos prefeitos.

Aécio e Pimentel estão mostrando que têm mais que isso. Têm a admiração e o respeito de quase toda a cidade, como mostram as pesquisas. Tanta que o candidato que apresentaram merece um crédito sem precedentes, em Belo Horizonte ou qualquer outro lugar.

Jô Moraes só se equivocou em uma coisa: os meteoritos caem.

Márcio Lacerda não dá nenhuma mostra de que vá cair.

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