quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Nem é oposição nem o partido do governo


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


É compreensível que os dirigentes e demais abrigados na barraca do PT tentem passar para o eleitor que o sortilégio da legenda que curtiu o calvário da oposição conta com o apoio da imensa maioria da população.

Pena que a esperta versão seja metade verdade e a outra banda uma conversa de esperto para enganar os trouxas. Pois, a evidência que passa pelo raciocínio que não fatiga os neurônios é que na bagunça do quadro partidário, em que se encaixa o flagrante da campanha para prefeitos e vereadores, não há oposição com o mínimo de consistência nem o PT é o grande partido que se apresenta como o favorito na maioria das capitais e municípios.

No caso da tresloucada oposição, o seu martirológio começou antes da posse de Lula para o primeiro mandato, em 2002, quando foi montado no Congresso o balcão para a compra e aluguel de votos para a composição da maioria parlamentar – que é acachapante na Câmara e com os seus riscos no Senado, no pobre Senado dos senadores de garupa, que se "elegem" sem um único voto, como suplentes dos verdadeiros donos dos mandatos.

Com a crise ética que assola o Legislativo e contamina os três poderes, caiu a máscara no descaro dos acertos no toma-lá-dá-cá da cooptação do PMDB e dos avulsos que se bandearam em grupos ou no varejo das unidades.

A fragilidade da oposição pode ser conferida no flagrante das rachaduras e contradições da campanha municipal. Minoritária e dividida na sopa de letras das siglas que não se entendem nos Estados e batem cabeça nos municípios, os líderes dos partidos desistiram da elementar providência de fechar em torno de um candidato para evitar os atritos internos. Nem em Minas foi possível carimbar a popularidade do governador Aécio Neves, como a solução natural, enquanto em São Paulo o governador José Serra não se entende com o antecessor Geraldo Alckmin que, por sua vez, mirou no prefeito Gilberto Kassab (DEM), um aliado que virou alvo.

Na largada da campanha para a sucessão de Lula, o instinto de sobrevivência deverá tanger a oposição para o apoio ao candidato único, com os lanhos das brigas internas.

O governo é o presidente Lula, com a popularidade disparando com a velocidade das sondas espaciais para o recorde de 62% de aprovação e a liderança inquestionável sobre o PT e os demais 15 partidos ou filhotes de siglas que desfilam na parada do apoio ao governo. Uma aliança amarrada com todas as embiras dos interesses atendidos e do empenho de senadores e deputados federais em renovar o mandato, um dos melhores empregos do mundo, que rende mais de R$ 100 mensais com os subsídios, vantagens, benefícios do balaio generoso que escancara o saque ao cofre da viúva.

As especulações de sempre sobre os resultados das eleições de prefeitos em 5.562 municípios e de cerca de 400 mil vereadores (que desperdício!) ajudam a passar o tempo e a aquecer o debate no Congresso.

Desde a restauração do regime democrático, com a derrubada do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945, com a interrupção dos quase 21 anos da ditadura militar do rodízio dos generais-presidente, e a nova temporada de eleições para valer, a partir da eleição indireta de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985 – o presidente que não tomou posse – de José Sarney a Lula em seus dois mandatos, raras eleições não tiveram os seus resultados antecipados pela nítida preferência das ruas.

Mas, nunca com a certeza de que o presidente elegeria quem ele quisesse. E Lula quer a ministra-candidata Dilma Rousseff. O PT vai a reboque.

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