quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Coluna do Milton Coelho


Milton Coelho da Graça
DEU NO DIÁRIO DA MANHÃ (GO)

BARÃO DO RIO BRANCO TREME NO TÚMULO

Se alguém fizer uma lista dos 100, 50, 10 ou até apenas 3 dos maiores brasileiros de todos os tempos, sem dúvida nenhuma o Barão do Rio Branco será um deles. Depois de nos metermos em uma carnificina no Paraguai e inspirarmos natural receio pela diferença de tamanho de populaçao e recursos naturais em relação aos outros países da América do Sul, o nosso grande barão construiu as bases de um patrimônio inigualável no resto do mundo: temos fronteiras com dez países e nem um só problema, uma só divergência sobre elas com nossos vizinhos. E tudo resolvido na mais completa paz. Também firmamos na consciência de todos os companheiros de continente a confiança de que o Brasil tem uma política sagrada de não-intervenção nos assuntos internos de cada um deles e colocamos em nossa Constituição a renúncia a qualquer agressão guerreira.

No entanto, de vez em quando, influenciados por idéias, estratégias e interesses de outros países não-sul-americanos, nossos militares têm espasmos de grandeza bélica. Certa vez compramos dois porta-aviões, armas claramente de ataque, numa operação que só se explica como mamata. Durante décadas, mantivemos em Santa Maria, Rio Grande do Sul, talvez a mais poderosa de nossas bases aéreas, com a óbvia intenção de assustar os argentinos.

Nosso Exército até hoje foi incapaz de aproveitar a grande extensão de nosso país e a experiência internacional para formular uma estratégia defensiva apoiada na guerra de guerrilha, capaz de enfrentar e derrotar qualquer um que algum dia resolva nos atacar. Continua basicamente agarrado a grandes bases e fortalezas inúteis em nossas maiores cidades, evidentemente mais preocupado com convulsões internas do que possíveis inimigos externos.

Pois nosso ministro civil da Defesa de repente começa a falar em reequipar as Forças Armadas com o intuito cada vez mais nítido – e até claramente expressado em jornais por alguns admiradores belicosos – de “assustar” os vizinhos envolvidos em disputas políticas internas com a hipótese de uma possível intervenção brasileira.

Por que e para que vamos gastar bilhões de dólares em novos caças supersônicos, muito pouco úteis para proteger nosso país das reais ameaças externas – sejam terroristas, traficantes, falsos missionários ou ladrões de nossa biodiversidade? E por que voltarmos novamente a proteger as indústrias de armamentos, alucinadas por subsídios?

PMDB PREPARA FESTA,TEMPORÃO PAGA CONTA

Os chefões do PMDB já acertaram todo o esquema para ficar com a presidência das duas casas do Congresso: Michel Temer comandará a Câmara Federal, José Sarney, o Senado. O deputado Henrique Alves assume a presidência do partido e o alagoano Renan Calheiros ressuscita e será o líder no Senado, Tudo certinho, mas e o PT, que insiste no tal acordo de Senado para um, Câmara para outro, e quer lançar Tião Viana? Aí já está até embrulhado o presente de consolação: a cabeça do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que não vem “atendendo” bem os pedidos dos parlamentares peemedebistas;

QUEM VAI SE MOLHAR COM OS RESPINGOS?

Um veterano do Itamaraty disse esta semana, durante um jantar em Brasília, que a extrema tolerância do presidente Lula com as maquinações do PMDB parecem inspiradas naquela explicação que o presidente americano Lyndon Johnson deu para manter uma raposa inconfiável como J. Edgard Hoover na direção do FBI:

“Eu sei que, se tirasse o William da nossa tenda, ele iria ficar lá fora mijando aqui para dentro. Prefiro que ele fique aqui dentro mijando lá pra fora.”

DUPLA BIBI-JUCA BAIXA PORRADA NO CONGRESSO

A veterana-eternamente-maravilhosa Bibi Ferreira estrela no Rio, com o teatro sempre lotado, a peça “Às favas os escrúpulos”, de Juca Oliveira. Todos os nossos senadores e deputados deveriam ir assisti-la, não só para aplaudir Bibi, mas principalmente para ver a reação do público – predominantemente de classe média, feminino e meia idade.

A peça conta a história de um senador com fama de honesto e bom chefe de família, mas na verdade trambiqueiro, com milhões de dólares de dólares e derretido por uma secretária boazuda. Bibi, a mulher, descobre tudo e só não conto o resto porque não quero tirar o gostinho das surpresas para brasilienses e goianos quando ela se apresentar no Planalto Central.

Esta notinha é só para registrar o aplauso e o entusiasmo do público com todas as falas severas criadas por Juca, expressando o desprezo e a descrença crescentes do país em relação ao Congresso e – perigosamente – até em relação à democracia representativa.

PRESUNTOS E EUCALIPTOS EM NOSSA CRISE

Esse é um ângulo novo e brasileiro na crise financeira, que provavelmente também surgirá em outros países com políticas monetária e cambial iguais ou parecidas com a nossa. Indústrias exportadoras com diretores financeiros metidos a espertos mergulhavam nas operações de jogatina da Bolsa, para obter lucros extras com os dólares das exportações. Faziam mais ou menos assim: exportavam presuntos (Sadia) e resmas de papel (Aracruz) e, em vez de simplesmente meterem os dólares na caixa, iam à Bolsa e apostavam que o dólar não cairia.

O diabo é que o dólar caiu. E muito. Agora está pintando aquela velha história: enquanto estavam ganhando, os lucros eram deles - dos acionistas e controladores das empresas metidas nesse pagode. Mas, na hora dos prejuízos, o socialismo é a doutrina favorita, em alguns corredores do poder a idéia de que o Estado brasileiro deve socorrer suas empresas em perigo. Presidente Lula, cuidado para não cair no conto da Bolsa-Presunto ou da Bolsa-Eucalipto!

E AINDA NÃO HAVIA GELADEIRA NEM TIRA-GOSTO

Josef Reichholf, historiador alemão, defende uma nova versão para o homem primitivo ter deixado de ser nômade e se tornar agricultor: a descoberta da cerveja, amigos, é que fez o homem construir uma casa, ficar quietinho e começar a cantar “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

Parece doido, mas o catedrático da Universidade Técnica de Munique (logo onde!) tem argumentos sérios. O homem teria se estabelecido inicialmente no Oriente Médio, onde havia muita caça. Portanto, ele começou a plantar, um trabalho muito mais duro do que caçar, não para comer, mas sim porque descobriu a cevada e para o quê ela servia nas horas de lazer. E tome loura, mesmo quente, com qualquer churrasco, de camelo ou pássaro distraído. Dêem uma boa olhada nos bares, nas noites de sexta-feira. segundo Reichholf, vocês verão diretos descendentes daquele homem cabeludo que aderiu ao descanso bem irrigado.

NA HORA DA SOMA, CADA UM FAÇA A QUE QUISER

Está difícil determinar qual realmente foi o partido que mostrou mais força nas eleições municipais. Segundo resultados oficiais do TSE, foi o PMDB quem teve mais votos: 18.422.732 (18,6% do total de válidos), com 2.543 candidatos, dos quais 1143 já se elegeram prefeitos e outros 11 foram para o segundo turno. O PT, com 1609 candidatos, 545 eleitos mais 15 no segundo turno. foi o segundo em votos: 16.486.025 votos (16,6%). E o PSDB, também considerando o total de votos “oficiais”, foi o terceiro – 14.454.949 – obtidos por 1702 candidatos, dos quais 778 já eleitos e mais 10 ainda no páreo.

Mas a classificação se complica se levarmos em consideração a relação entre número de candidatos e eleitos: O PMDB já elegeu 47% dos candidatos, o PSDB 46% e o PT apenas 34%.

E se complica ainda mais se considerarmos que os votos foram somados aos partidos em que os candidatos estão inscritos e que nem sempre foram os principais nas coligações que os apoiaram. Por exemplo, Gilberto Kassab foi incluído no total do DEM e Gabeira no do PV. Mas, nos dois casos, receberam forte apoio dos tucanos. Mas, na conta do Tribunal, o PSDB ficou com os votos de Geraldo Alkmin, derrotado e afastado do segundo turno.

Confuso. E mais confuso ainda o caso de Belo Horizonte, em que os votos de Márcio Guerra estão no total do PSB, mas, na verdade, a grande maioria veio do apoio do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT)? E como calcular exatamente o número de votos espalhados por candidatos de todos os partidos da frente governista unicamente pela altíssima aprovação popular do presidente Lula?

Cada um pode fazer sua conta e escolher o partido vencedor das eleições.

ENTRE OS VEREADORES, A COISA É MAIS SIMPLES

O PMDB é o campeão dos vereadores no Brasil, elegeu 23% de seus 36.482 candidatos, com 11.977.196 votos. O PSDB derrotou o PT por escassa diferença de votos – 10.714.393 x 10.539.880 – elegendo 21% (5.894) de seus 28.681 candidatos, enquanto o PT só conseguiu emplacar 14% (4186) do total de 29.882 candidatos.

Mas, na área municipal, outros partidos chegaram mais perto dos Três Grandes, tanto em número de eleitos como de votos: DEM (4815, 7.999.337), PP (5.122, 7.233.167), PDT (3.509, 6.717.625), PTB (3.929, 6.315.928). O resto teve menos de 6 milhões de votos e de 3 mil eleitos

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