quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Debates

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS



À medida que a comunicação eleitoral foi se profissionalizando e se tornando mais e mais parecida com a propaganda de produtos e serviços, os debates na televisão se tornaram uma das poucas maneiras através das quais os eleitores comuns podem ver os candidatos mais parecidos com o que são na vida real

Nas cidades onde se disputa o segundo turno das eleições municipais, os últimos dias estão sendo marcados por uma sucessão de debates entre os candidatos nas emissoras de televisão, na base de dois ou mais por semana. O número é maior que no fim do primeiro turno, mas nem tanto. Naqueles dias, como agora, cada uma organizou o seu.

Debates entre candidatos, transmitidos ao vivo, fazem parte da vida democrática moderna. Alguns foram memoráveis, alterando tendências de eleições que pareciam consolidadas ou afirmando lideranças novas, que os eleitores aprenderam a respeitar. Quem estuda a história política se lembra dos célebres debates entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960, nos quais aquela eleição americana se definiu.

Em nossa própria experiência, tivemos alguns decisivos, seja em eleições estaduais ou presidenciais. De todos, talvez o mais crucial foi o que aconteceu no fim do segundo turno da eleição de 1989. Há quem considere que foi nele que Collor assegurou sua vitória sobre Lula, que teve, naquela noite, seu pior momento de todas as eleições que disputou.

Os eleitores, de uma maneira geral, dizem se interessar muito por eles e considerá-los uma das melhores oportunidades para tomar suas decisões de voto, colocando-os, nas pesquisas, entre as principais formas para conhecer e avaliar os candidatos. Mesmo quem não se interessa muito por política acha que são relevantes.

As razões são previsíveis. À medida que a comunicação eleitoral foi se profissionalizando e se tornando mais e mais parecida com a propaganda de produtos e serviços, os debates na televisão se tornaram uma das poucas maneiras através das quais os eleitores comuns podem ver os candidatos mais parecidos com o que são na vida real. Fora dos estúdios, sem poder ler o que dizem, menos produzidos, ficam mais naturais (ou menos artificiais).

Por tudo isso, é pena que os debates entre candidatos na televisão continuem a sofrer os problemas que atualmente têm e que exista tão pouca disposição para resolvê-los. Enquanto sobra, em nossos legisladores, vontade para enfrentar questões sem nenhum significado (minúcias irrelevantes sobre o que se pode ou não fazer nas campanhas, por exemplo), ninguém se preocupa em criar condições para que algo tão importante e tão valorizado pelos eleitores possa cumprir suas finalidades.

A mais urgente é acabar com o falso igualitarismo que obriga as emissoras a convidar todos os que se registram na eleição, entre os quais há de tudo. Dele apenas decorre que os eleitores ficam privados de conhecer melhor os verdadeiros candidatos, vendo desfilar bizarrices que não possuem qualquer base na sociedade.

É claro que isso muda no segundo turno, mas o desejável é que debates verdadeiros aconteçam desde cedo.

A segunda questão é, uma vez estabelecido que apenas os que significam algo vão participar, desengessar as regras que se tornaram padrão nos nossos debates, com tantas filigranas que até os jornalistas que fazem sua mediação volta e meia se confundem. Debate é debate, sem limitações exageradas de tempo e amarras de réplicas, tréplicas, direitos de resposta e coisas parecidas.

Outra questão a tratar é a subordinação de uma instituição tão relevante às disputas de audiência e imagem entre as emissoras comerciais. A líder quer sempre fazer o “último debate”, para preservar um papel de pretensa centralidade no processo eleitoral. Todas as outras querem fazer “o seu”.

Isso é bom? Agora, na reta final, termos tantos debates, organizados na última hora, cada um mais rígido que o outro? Não existem soluções melhores?

Que tal analisar o exemplo americano, ao qual chegaram depois de passar por problemas parecidos com os nossos? Debates em rede, agendados com antecedência, com jornalistas de renome, regrados com bom senso, mais longos, cada um em torno de um tema central? Pode não ser a opção para o Brasil, mas que é melhor que o que temos, não resta dúvida.

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