quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O vento rondou


Nas Entrelinhas: Por Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

A crise financeira mundial volatilizou o otimismo e disseminou a incerteza. Esse “fator psíquico” pouco influiu no resultado das eleições municipais, mas pode ser determinante na sucessão do presidente Lula

É temerário antecipar resultados eleitorais, mesmo com pesquisas idôneas nas mãos. Principalmente quando a eleição está muito polarizada e há um candidato com uma linha ascendente, ainda que esteja atrás do favorito. O imponderável, na reta final das campanhas, é o voto dos eleitores que se mantiveram indiferentes ao debate político e entram no processo às vésperas do pleito: escolhem um candidato e desequilibram a disputa. Muito do que está acontecendo no segundo turno se deve à ocorrência desse fenômeno.

As capitais

Feita a ressalva, vamos aos prognósticos. Em São Paulo, é previsível a vitória do prefeito Gilberto Kassab (DEM) contra Marta Suplicy (PT) apesar do empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor da petista. No Rio, Fernando Gabeira (PV) mantém vantagem em relação a Eduardo Paes (PMDB), um cristão novo do governismo. Em Belo Horizonte, o prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador Aécio Neves (PSDB) tentam reverter a dianteira de Leonardo Quintão (PMDB) sobre Márcio Lacerda (PSB), mas está difícil. O prefeito José Fogaça (PMDB) caminha para se reeleger em Porto Alegre, derrotando a petista Maria do Rosário. Em Salvador, João Henrique (PMDB) também marcha para a reeleição, com vantagem em relação a Walter Pinheiro (PT).

Amazonino Mendes (PTB), em Manaus, atropelou o prefeito Serafim Corrêa (PSB), que está conseguindo a proeza de perder a reeleição. Em Belém, Duciomar Costa (PTB) e José Priante (PMDB) estão em empate técnico. Já em São Luís, José Castelo (PSDB) manteve o favoritismo em relação a Flávio Dino (PCdoB). Em Cuiabá, Wilson Santos (PSDB) deve se reeleger, derrotando Mauro Mendes (PR). Camilo Capiberibe (PSB) também confirma seu favoritismo contra Roberto Góes (PDT), em Macapá. E Dario Berger (PMDB), cujo adversário é o ex-governador Esperidião Amin (PP), provavelmente será mais um prefeito reeleito, em Florianópolis.

Nessas capitais, o foco dos debates foi a administração local. Não houve “nacionalização” do voto do eleitor. O fato de Kassab e Gabeira liderarem as pesquisas não significa que o povo está mandando um recado malcriado para o presidente Lula. Para o bem ou para o mal, a relação dos candidatos com os governadores José Serra (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB), respectivamente, teve mais peso nas eleições. A tese de que qualquer poste pode ser eleito se tiver apoio das máquinas de governo também foi rejeitada pelos eleitores. O candidato, mesmo ungido por poderes federal, estadual e/ou municipal, precisa provar que tem talento político e vocação eleitoral.

O rumo

Por tudo isso, é chover no molhado mitigar o papel do presidente Lula nas eleições municipais. Seu prestígio foi devidamente capitalizado pela base governista, mas não foi suficiente para garantir a vitória dos candidatos do PT em qualquer circunstância. O PMDB, por exemplo, soube faturar melhor a participação no governo e está sendo o partido mais bem-sucedido nas eleições. Manteve sua histórica implantação nos pequenos e médios municípios e voltou a disputar o poder em grandes cidades. Neste segundo turno, deve fazer de quatro ou cinco prefeituras de capitais.

Entre o primeiro e o segundo turnos, o que mudou não foi o eixo do debate eleitoral, mas a conjuntura econômica. Por causa da crise financeira, o real sofreu uma desvalorização, o crédito ficou mais difícil, os investimentos subiram no telhado. A economia crescerá menos e o fantasma do desemprego ronda comércio e indústria. Lula faz o que pode para manter o discurso do “nunca antes neste país”, mas crise é maior do que o seu carisma. A capacidade de absorvê-la dependerá mais do crédito oficial e do gasto público direcionado corretamente.

Na verdade, a crise financeira mundial volatilizou o otimismo e disseminou a incerteza. Esse “fator psíquico” pouco influiu no resultado das eleições municipais, mas pode ser determinante na sucessão presidencial em 2010. Tudo vai depender do ambiente econômico e do perfil dos candidatos para enfrentá-lo. Por enquanto, a crise já abalou a expectativa de poder em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que mergulhou na “marolinha”. Ao mesmo tempo, alimenta as articulações petistas para recuperar das cinzas, como fênix, a candidatura do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) à Presidência da República. É que o vento rondou e já não se sabe para que lado soprará.

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