sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Globo Online

Eleições

Pesquisa do IBPS aponta queda de Crivella na disputa eleitoral; candidato ainda lidera, mas índice de rejeição aumenta

RIO - Pesquisa de intenção de voto divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais (IBPS) revela queda do candidato Marcelo Crivella (PRB) na disputa eleitoral no Rio. Crivella, que vinha liderando as últimas consultas, caiu seis pontos percentuais em relação à consulta de maio, quando tinha 27,6% dos votos. Na sexta pesquisa do IBPS, o candidato obteve 21,3% dos votos, contra 15,8% de Jandira Feghali (PcdoB). A margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos, pode configurar empate técnico entre os candidatos.

Em terceiro lugar, está o candidato Eduardo Paes (PMDB), com 10,5% da intenção de votos. Em seguida, estão Fernando Gabeira (PV-PPS-PSDB), com 9,9%; Chico Alencar (PSOL), com 6,6%; Solange Amaral (DEM), com 6,5%; Alessandro Molon (PT), com 2,2%; Paulo Ramos (PDT), com 1,4%; e Filipe Pereira (PSC), com 0,4%. Votos brancos e nulos somaram 9,3%.

A rejeição ao nome de Crivella aumentou, de 19,2% para 22%. Os demais candidatos têm os seguintes índices de rejeição: Fernando Gabeira (11,6%); Solange Amaral (6,2%), Jandira Feghali (4,8%); Alessandro Molon (2,3%); Chico Alencar (1,5%); Paulo Ramos (1,4%); Eduardo Paes (1,4%); e Filipe Pereira (0,5%).

Na hipótese de segundo turno entre Jandira e Crivella, a pesquisa aponta vitória da candidata, com 44% dos votos, contra 31% de Crivella. O candidato do PRB venceria também Gabeira (38,7% contra 32,6%) e Solange Amaral (36,1% contra 33%). Numa disputa com Eduardo Paes, Crivella seria derrotado, com 33% de votos, contra 37,3% de Paes. Já em um quadro com Jandira e Paes, a candidata venceria com 41% dos votos, contra 28,5% do candidato do PMDB.

O IBPS fez 1.110 entrevistas por telefone entre os dias 27/06 e 03/07. A margem de erro é de três pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na 228ª ZE, com o número RPE 013/2008.

Entrevistados também falaram sobre caso da Providência e Cimento Social

O IBPS também ouviu os eleitores sobre o episódio do Morro da Providência, em três jovens foram mortos por traficantes do Morro da Mineira após terem sido presos por soldados do Exército. Dos entrevistados, 87,2% disseram ter ouvido falar muito do caso; 9,5% ouviram falar pouco; e 2,6% não ouviram falar. Na pergunta espontânea sobre de quem seria a culpa dos assassinatos, 19,1% disseram não saber a quem responsabilizar. Outros 15,6% acham que a culpa é do Exército e 5, 8% culpam os militares em geral. Já 3,8% culparam o governo.

Na opinião de 31,1% dos entrevistados, o projeto Cimento Social, de Marcelo Crivella, é um projeto importante e que deve ser mantido; 27, 7% acham que é um projeto importante, mas que foi utilizado para fins eleitoreiros; 20,7% disseram ser um projeto meramente eleitoreiro; e 15,6% disseram não conhecer o projeto. Outros 59% acham que o Exército deve participar de projetos sociais, contra 32% que acham que essa não é a função dos militares. A pesquisa indica ainda que 53,3% dos eleitores acham que o Exército deve participar do combate à criminalidade. Outros 38,5% se posicionaram contrários à medida.

DEU NO ZERO HORA (RS)

SOCIÓLOGO VÊ EXAGERO POR PARTE DE PROMOTORES E CRITICA MST
Entrevista: Zander Navarro, Sociólogo

O cientista social Zander Navarro, do Departamento de Sociologia da UFRGS, é um dos maiores especialistas brasileiros em Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).Primeiro, por simpatia com a causa da reforma agrária. Como ele mesmo admite, durante toda a década de 80 e parte da de 90 colaborou como pôde com o MST.
De admirador, Zander se tornou crítico da organização. Diz que a direção do movimento se considera uma "vanguarda iluminada" e que manipula a maioria.O sociólogo, por outro lado, também se mostra contrário à proposta de alguns promotores públicos de colocar o MST na ilegalidade.
Veja por que nesta entrevista concedida por e-mail a ZH:
Zero Hora - O senhor criticou atos recentes do Ministério Público (MP), que incluem remoção de acampamentos do MST e até proposta de colocar o movimento na ilegalidade. Nas ações, são citadas inclusive críticas feitas pelo senhor à cúpula dos sem-terra. Por que o senhor está agora contra os promotores?
Zander Navarro - Houve equívocos e um imenso exagero do MP, fundado em leitura alarmista, que não deriva de nada que eu tenha escrito. Não existe ação de guerrilha, muito menos uma estratégia revolucionária por parte do MST. E a Via Campesina, de fato, é uma inconseqüente articulação comandada pelo MST. Se alguns de seus líderes mais doutrinários falam em socialismo, é por burrice política, porque a sua base social não tem a menor idéia sobre o que seria esse prometido paraíso social.
ZH - Na ação que resultou no desalojamento dos sem-terra na área contígua à Fazenda Coqueiros, promotores mencionam que o MST é organização de cunho leninista, por aplicar tática de agir alternadamente "na clandestinidade e na legalidade". O senhor também diz que o MST tem uma estrutura "de anacrônica feição leninista". Não lhe parece que os pontos de vista seu e do MP coincidem?
Zander - O leninismo é um fato histórico e, também, uma metodologia política. A principal característica deletéria do leninismo é a absurda noção de uma "vanguarda iluminada", na realidade apenas significando que um pequeno grupo manipula a maioria. É a ante-sala de práticas não-democráticas, o que é a face principal da estruturação do MST. Por outro lado, o MST não é revolucionário e nunca o será. Para isso precisa de quadros, que não tem, e de um ambiente político que lhe favoreça. As instituições democráticas se consolidaram, e os agricultores sonham em se integrar aos mercados e crescer economicamente.
ZH - De tudo que o senhor conhece do MST, os assentados têm liberdade de escolher seus líderes?
Zander - Nos assentamentos que conheço, especialmente no Sul, onde é forte a presença do MST, evidentemente que não. Os líderes são escolhidos por sua lealdade ao movimento, não por sua capacidade e por escolha livre dos assentados.
ZH - É possível fazer pressão sem invadir terras? Qual seria a alternativa?
Zander - O MST mudou a correlação de forças política em muitas regiões rurais, o que representa sua maior vitória. Praticamente não existe mais imóvel que seja inteiramente protegido de sua ação, bastando que se ocupe a propriedade inúmeras vezes, até que o proprietário "jogue a toalha". O erro do MST foi não se institucionalizar quando estava no auge, no final da década passada, e se transformar na maior organização dos pobres do campo. Usaria outras formas de pressão, sem abandonar as ocupações de propriedade, sua arma principal. As ocupações estão para o MST como as greves para os sindicatos. Mas manter-se como organização semiclandestina é um delírio completo.
ZH - O senhor é filiado a partido? Foi ligado ao MST?
Zander - Servidores públicos servem a todos e deveriam ser proibidos de filiação partidária. É uma posição sonhadora, mas acredito que deveria ser assim, por isso nunca fui filiado. Quanto ao MST, durante toda a década de 80 e parte dos anos 90 colaborei como pude, inclusive com parte do meu salário, e também ocupando terras, quando foi possível. Nunca fui, contudo, um "intelectual orgânico", mas apenas um forte simpatizante, pois julgava essencial a reforma agrária naqueles anos, o que deixou de ser verdade nos anos mais recentes. Os principais problemas sociais do país atualmente são totalmente distintos.

DEU EM O GLOBO

A SÍNDROME DO 3º MANDATO
Merval Pereira

A propensão a permanecer no poder o maior tempo possível não é uma característica de políticos nem de esquerda nem de direita, nem mesmo de políticos da América Latina, como seria justo pensar-se diante da segunda onda de tentativa de ampliar o número de mandatos presidenciais consecutivos, que começou com Hugo Chávez, na Venezuela, e hoje tem em Álvaro Uribe, da Colômbia, seu novo protagonista. Depois da espetacular ação de resgate da ex-senadora Ingrid Betancourt e outros reféns das Farc, o presidente da Colômbia consolidou sua popularidade em torno de 80% e provavelmente insistirá na tese do terceiro mandato consecutivo, o que só o fará comparável ao adversário Chávez, ofuscando sua fama de estadista moderno, já bastante arranhada com as acusações de compra de votos para a reeleição em 2006, e ligações diretas com grupos paramilitares.

É singular na história política o exemplo de George Washington, que cumpriu um mandato de presidente nos Estados Unidos e, embora podendo se recandidatar sem limitações pela lei de então, retirou-se para sua fazenda, num gesto considerado de "grande estadista" na História contemporânea. Libertando Ingrid Betancourt em uma ação militar exitosa, apesar das pressões internacionais e da família da ex-senadora para negociar com os narcoguerrilheiros, Uribe fortaleceu-se internamente e desmentiu o arquiteto Juan Carlos Lecompte, marido de Ingrid, segundo quem, o presidente não tinha interesse de lutar pela libertação porque a ex-senadora, que quando seqüestrada era candidata à Presidência da Colômbia, seria uma forte competidora na sua tentativa do terceiro mandato.

Ingrid era senadora em 2002 e obteve apenas 0,5% dos votos pelo Partido Oxigênio Verde, mas hoje, não apenas a causa ecológica ganhou maior ressonância, como também ela se transformou em um símbolo de resistência política contra as Farc e pode tornar-se o símbolo de oposição ao governo de Uribe, embora suas primeiras palavras tenham sido de elogios ao governo dele.

Mas o fato é que, além dos países parlamentaristas, cujos primeiros-ministros podem ficar indefinidamente no poder caso seus partidos obtenham a maioria do Parlamento, apenas a França, entre os países democráticos desenvolvidos, permite a reeleição indefinida de presidentes. Aprovada, aliás, da mesma maneira que Chávez pretendia fazer na Venezuela, e como Uribe ainda quer na Colômbia: por meio de referendo convocado em 2000 pelo então presidente Jacques Chirac.

A proposta de reduzir o mandato de sete para cinco anos, mas com direito à reeleição direta indefinida, venceu com o voto de apenas 30% dos eleitores. Desses, mais de 70% aprovaram, mas a forte abstenção, de quase 70%, mostra que o mecanismo é no mínimo controverso.
Também nos Estados Unidos a possibilidade de reeleição indefinida provocou controvérsia e acabou após a morte de Franklin Roosevelt, em 1945, quando exercia o quarto mandato seguido.
O democrata Roosevelt, lembra o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas, no Rio, considerado dos grandes estadistas modernos, operou mudança radical na política dos Estados Unidos com o New Deal, num país em que o Estado cumpria funções mínimas na economia, com tradição liberal forte, que gerou muitos protestos entre os republicanos.

Houve muito conflito em torno do New Deal, e a Suprema Corte ameaçou considerá-lo inconstitucional. Roosevelt ameaçou usar sua maioria parlamentar para aumentar o número de juízes e encher a Corte de democratas. A mesma atitude adotada pelo presidente argentino Carlos Menem nos anos 90, e que Chávez adotou recentemente. Encurralada, a Suprema Corte aceitou a tese de que era um momento político único, admitindo que o Executivo ampliasse os "limites da constitucionalidade".

Mas, com a morte de Roosevelt, tomou-se a decisão, através da emenda constitucional 22, de que nenhum presidente poderia se reeleger mais de uma vez, não havendo nem mesmo a possibilidade de se candidatar a outro cargo qualquer depois da Presidência.

Aqui no Brasil, projetos políticos de perpetuação no poder são comuns, mesmo em tempos democráticos. O grupo político de Fernando Collor quando chegou ao poder, anunciava que ali permaneceria por 20 anos. O principal articulador político do PSDB, Sérgio Motta, dizia que o projeto tucano era de 20 anos. Collor, retirado da Presidência por um impeachment, não teve tempo de revelar se pretendia se perpetuar no poder ou se um seguidor seu o sucederia.

O PSDB patrocinou a implantação da reeleição no país, o que lhe valeu denúncias de compra de votos nunca comprovadas, transformando Fernando Henrique Cardoso no primeiro presidente reeleito na História do país, e namorou a idéia do terceiro mandato consecutivo do presidente, ou a implantação do parlamentarismo. Fernando Henrique poderia fazer o que Vladimir Putin realizou agora na Rússia, passar de presidente a primeiro-ministro sem perder o poder.

A primeira onda de tentativa de permanência estendida no poder estava a pleno vapor, com Fujimori, no Peru, e Menem, na Argentina, tentando manobras para viabilizar um terceiro mandato. Fujimori teve de fugir do país, naturalizando-se japonês, e hoje está preso no Peru. Menem desistiu do terceiro mandato, mas foi preso, acusado, entre outras coisas, de venda ilegal de armas.

Assim como naquela época a companhia de Fujimori e Menem e a crise econômica tornaram a idéia de um terceiro mandato inviável politicamente, hoje a companhia de Chávez e, sobretudo, a derrota do governo venezuelano no referendo, faz com que o governo Lula se afaste formalmente da idéia de um terceiro mandato, que, no entanto, encanta setores do PT e da base aliada, que por enquanto não têm candidatos viáveis à sucessão.

Resta saber o que acontecerá com a voracidade de Uribe, e até que ponto os EUA apoiarão essa aventura, que é antidemocrática no seu cerne, apesar dos êxitos do governo no combate ao narcoterrorismo e a recuperação da segurança pública nas grandes cidades.

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A CIDADE MARIVILHOSA VIROU UMA IMENSA FAVELA
Villas-Bôas Corrêa

Esta semana, minha mulher, eu e um filho fomos com um casal amigo a uma solenidade no Centro da cidade, nas proximidades da Praça 15 de Novembro e que terminou antes das 22 horas.

Para aproveitar o friúme da noite e esticar as pernas entorpecidas pelas horas de imobilização forçada, resolvemos caminhar até para pegar o táxi na Avenida Rio Branco.

E descobrimos o que só eu já sabia, que o centro da Cidade Maravilhosa "cheia de encantos mil", cantada em prosa e verso, repisando o mote da atração de Copacabana, a Princesinha do Mar que atraia e ainda seduz turistas de todo o mundo tinha se transformado, em poucos anos de descaso de sucessivos governos federais e estaduais, numa imensa favela.

O choque é de disparar as batidas cardíacas com risco de infarto. Pelas ruas principais e suas transversais o quadro é o mesmo. Em meio à imundície que empesta as calçadas, com lixo empilhado nos cantos ou no meio da rua, uma população de mendigos de todas as idades, desde crianças que andam em grupos ou bandos praticando pequenos e médios assaltos. Agem com a habilidade de profissionais, cercando os desavisados transeuntes para a limpeza dos bolsos e bolsas de incautos, com especial preferência pelos relógios arrancados do pulso na marra e pelos celulares da moda aos adultos que sacam as armas, das facas e estoques aos revolveres com a rapidez do raio.

É um cenário não apenas comparável, mas idêntico aos dos bolsões de miséria do mundo. Nada fica dever ao que as fotos exibem nos jornais e revistas ou que, com os detalhes da degradação da condição humana, as televisões mostram nos noticiários ou em reportagens especiais.

O motorista do táxi que nos levou para casa advertiu-nos para o risco que corremos com a nossa ignorância. Testemunha todas as noites e madrugadas, com os colegas do ponto, uma média de cinco a 10 assaltos. Praticados pelos mesmos grupos que parecem donos do ponto, distribuídos nos acertos de cavalheiros.

Só quem não sabe de nada ou não quer saber para não esquentar a cabeça são as autoridades que hoje batem cabeça com a operação, típica de véspera de eleição, da ocupação de favelas selecionadas para a realização de obras que não constam do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC da madrinha, a ministra Dilma Rousseff. E que mereceram o privilégio da visita do presidente Lula, cercado por um esquema de segurança com todos os compreensíveis requintes que as circunstâncias exigiam.

É difícil – ou, quem sabe – fácil demais, entender a lógica cerebrina das cucas oficiais. Como se permitiu que em tão pouco tempo, a degradação da antiga capital do país, fosse ocupada pelas gangues do tráfico, que disputam a bala os pontos nas mais de mil favelas que incham todos os dias e noites com novos barracos em áreas de risco, que despencam nas chuvaradas do verão, com a cota de vítimas fatais e de famílias que perdem o pouco que tinham e não abandonadas à mendicância?

Nada aconteceu de repente ou de surpresa. A migração interna do campo para as cidades obedeceu à lógica da redução dos postos de trabalho na zona rural com a mecanização da lavoura e da produção do leite. Uma escavadeira faz o trabalho de uma centena de enxadeiros. A mecanização da ordenha acabou com o tirador de leite da lembrança de quantos conheceram a vida da fazenda nas férias escolares.

A simples providência da demarcação de áreas para construção de casas populares teria garantido um mínimo de controle na ocupação dos morros.

Perdemos a hora e estamos perdendo a ex-cidade maravilhosa. E temos de apostar a última ficha no PAC, que promete milagres até as eleições de outubro.

DEU EM O GLOBO

O CERCO ÀS AGÊNCIAS REGULADORAS
Jarbas Vasconcelos

As recentes denúncias de tráfico de influência na venda da Varig e da VarigLog expuseram, outra vez, a face mais atrasada do governo do PT. Essas sérias acusações trazem o DNA do escândalo do mensalão, quando, há exatos três anos, o país descobriu que o governo comprava votos de parlamentares distribuindo recursos públicos.

Naquela ocasião, ficou evidente que o PT utilizou empresas públicas para atingir seus objetivos, arrastando para a lama estatais como Furnas, Banco do Brasil, Eletronuclear, Petrobras, Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Todas, de uma forma ou de outra, utilizadas como fontes de financiamento espúrio da base governista.

Já eram públicas e notórias as divergências do governo do PT para com o papel independente das agências reguladoras, criadas na gestão do presidente Fernando Henrique. Essas agências foram formadas para fiscalizar e regulamentar setores da economia que foram abertos ao setor privado, como telecomunicações, energia e petróleo.

Ao assegurar regras estáveis para esses setores, as agências reguladoras não beneficiam apenas os investidores, como afirmavam os petistas. É um modelo que funciona bem em outros países, onde as regras de regulação são seguidas por todas as partes envolvidas - a começar do próprio governo - com o objetivo de proteger principalmente os consumidores.

A verdade é uma só: o governo do PT incorporou a defesa do livre mercado, mas se prende a algumas teses ultrapassadas quando as regras vão contra seus interesses. O ataque petista começou ideológico, criticando o "neoliberalismo" das agências. Com o tempo, ficou patente que as razões eram bem menos nobres do que os princípios socialistas do passado petista.

As agências reguladoras foram criadas para que a ligação entre o governo e esses setores econômicos não fosse de compadrio, de submissão. Mas de isenção, independência e imparcialidade. São órgãos de Estado e não deste ou daquele governo em particular. As agências reguladoras não eram de Fernando Henrique e não deveriam ser de Luiz Inácio Lula da Silva.

No entanto, o recente escândalo em torno da Varig revela o aparelhamento, o uso e abuso da coisa pública em benefício deste ou daquele grupo, deste ou daquele interesse menor. Problemas desse tipo se tornaram, infelizmente, uma marca do PT. A raiz de todos os escândalos envolvendo o governo Lula decorre exatamente dessa imensa dificuldade que o PT tem em separar o público do privado. O problema é que os petistas acreditam ser os escolhidos, aqueles que levarão o Brasil à redenção. Esse discurso messiânico não combina com o caminho que desejamos para o nosso país.

O cerco do governo às agências reguladoras começou antes mesmo da primeira posse do presidente Lula, em janeiro de 2003. Durante o período de transição, todo dia saía algum "recado" na imprensa, dando conta de que o novo governo pretendia mudar o modelo criado pelo governo FHC.

Já no poder, o PT adotou uma nova estratégia para asfixiar as agências: não repassar recursos.

Em 2005, as seis principais agências do setor de infra-estrutura foram contingenciadas em mais de R$4,4 bilhões dos R$5,2 bilhões previstos, o que representava 84% do total. Esse mesmíssimo problema voltou a ocorrer há poucos dias.

A etapa seguinte deste desmonte começou a tomar forma com o término dos mandatos dos dirigentes das agências. A partir daí, o governo tomou conta dessas entidades, aparelhando-as, conduzindo-as ao bel-prazer dos interesses econômicos e políticos do PT e de sua base de apoio no Congresso. Para comandar as agências foram escolhidas pessoas, muitas vezes, sem condições técnicas. Contanto que estivessem sintonizadas com o PT e seus satélites. Essa interferência não poderia dar em outra coisa, que não má gestão e escândalos. O setor aéreo, por exemplo, foi vítima dos dois problemas.

As agências reguladoras precisam de autonomia política, financeira e de gestão para cumprir as suas missões. Ao esvaziá-las, o governo compromete o papel dessas entidades - e prejudica não apenas os investidores, mas também os consumidores. Ou será que o governo acredita piamente que os seus interesses são os mesmos interesses da maioria dos brasileiros?

Como afirmou, apropriadamente, a jornalista Míriam Leitão: as agências reguladoras devem "defender o mercado da ingerência indevida do governo; defender a sociedade das distorções criadas pelo mercado e defender as empresas participantes do abuso de poder de mercado de empresas dominantes". Isto só é possível se o governo não aparelhar as entidades e não submetê-las aos interesses deste ou daquele grupo.

A relação institucional do governo federal com os demais poderes seria muito mais produtiva se houvesse o mínimo de respeito. O problema é que a arrogância do governo não tolera a independência de ninguém. O governo quer submissão voluntária de todos. O próprio presidente da República, nos palanques do PAC por este país afora, já atacou o Senado Federal, o Tribunal de Contas da União, o Tribunal Superior Eleitoral. É um péssimo exemplo.

Quem não aprende com os erros do passado corre o sério risco de repeti-los. O governo, pelo seu comportamento, dá demonstrações de que não leva esta máxima em consideração.

Ao Congresso Nacional cabe o papel de fiscalizar a fundo este problema.

Não apenas o recente escândalo envolvendo a Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, no caso da Varig. Problemas já ocorreram na Agência Nacional do Petróleo (ANP), com o seu presidente colocando os pés pelas mãos, ao antecipar a descoberta de novas reservas de petróleo. Já a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) se prepara para homologar uma das maiores fusões do mercado brasileiro do setor de telefonia.

Talvez seja a hora de o Senado Federal prestar mais atenção ao que ocorre nas diversas agências reguladoras, de forma a defendê-las do aparelhamento político e da vocação autoritária do governo federal.

JARBAS VASCONCELOS é senador (PMDB -PE).

DEU EM O GLOBO

BC EUROPEU ELEVA JUROS PARA SEGURAR A INFLAÇÃO
Da Bloomberg News*

Taxa básica agora é de 4,25%, maior em quase 7 anos. Objetivo do banco é reduzir o índice de preços à metade

FRANKFURT e NOVA YORK. O Banco Central Europeu (BCE) elevou ontem sua taxa básica de juros de 4% para 4,25%, a maior desde setembro de 2001, numa tentativa de controlar a escalada de preços. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, minimizou a possibilidade de haver novos aumentos, afirmando que essa alta de 0,25 ponto percentual vai ajudar a levar a inflação abaixo dos 2%. Em junho, o índice anualizado atingiu 4%.

- A política monetária após a decisão de hoje vai contribuir para atingir nosso objetivo de estabilidade de preços. A partir de agora não tenho viés. Não temos pré-compromisso a médio prazo - afirmou Trichet, acrescentando que a decisão foi unânime.

No mês passado, Trichet dissera que alguns dos 21 membros da diretoria do BCE eram contra um aumento no custo dos empréstimos.

Para analista, Trichet soou "mais pacífico"

Foi a primeira alta desde junho de 2007. A decisão animou os mercados, devido à expectativa de não haver novas elevações. Em Frankfurt, o DAX avançou 0,77%, enquanto o FTSE, de Londres, e o CAC, de Paris, subiram 0,93% e 1,11%, respectivamente.

Já o euro recuou 1,2% frente ao dólar, para US$1,5699, tendo sido negociado a US$1,5682, seu menor patamar desde 26 de junho. Em 22 de abril, a moeda única européia registrou a máxima de US$1,6019. Em relação à libra, o euro recuou 0,7%, para 0,79 libra. Frente à moeda japonesa, a queda foi de 0,4%, para 167,56 ienes.

- Trichet soou claramente mais pacífico - disse Emanuele Ravano, diretor-gerente de Estratégia da Pacific Investment Management Co. (Pimco) em Londres. - É uma mudança na posição do BCE.

O BCE está avaliando o risco de que juros mais elevados possam exacerbar a desaceleração econômica, contra o perigo de que a maior inflação em 16 anos afete preços e salários.

Segundo Dario Perkins, economista do banco ABN Amro, Trichet deu a entender que, no momento, não há planos de elevar a taxa de juros de novo:

- É claro que vai depender do que aconteça com a inflação e, mais importante, com as expectativas sobre a inflação.

Trichet também terá de lidar com as preocupações dos países cujas economias foram afetadas pela crise no mercado imobiliário, iniciada nos Estados Unidos. A ministra de Finanças francesa, Christine Lagarde, afirmou ontem que os juros maiores podem afetar a competitividade da Europa ao puxar a cotação do euro frente ao dólar, já que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mantém sua taxa básica hoje em 2%.

- É difícil acreditar que nenhum representante de banco central dos 15 países membros tenha manifestado sua oposição (à alta dos juros), especialmente com o crescente pessimismo em alguns países - disse Kenneth Broux, economista do banco Lloyds TSB Corporate Markets. - Isso significaria que Irlanda e Espanha concordaram com a alta, apesar da crise em seus mercados de construção civil e imobiliário.

O BCE ainda vê "crescentes riscos de alta" à estabilidade dos preços, disse Trichet. Ontem, ele não usou as expressões "alerta elevado" ou "forte vigilância", comuns em altas anteriores, mas ressaltou que isso não significa nada.

Os sindicatos europeus já estão pressionando por reajustes salariais, e o petróleo vem batendo recordes. Segundo as projeções do BCE, o crescimento da zona do euro pode desacelerar de 1,8% este ano para 1,5% em 2009. Ano passado, a expansão foi de 2,6%.

EUA cortaram 62 mil postos de trabalho em junho

Bancos centrais de vários países, como Rússia e Brasil, têm elevado os juros à medida que a inflação substitui a crise do crédito como principal preocupação global. Na Suécia, a taxa está em 4,5%, o maior patamar em 12 anos.

Já o Fed vem reduzindo sua taxa de juros desde setembro do ano passado, a fim de combater a desaceleração da economia. Os juros americanos passaram de 5,25% para os atuais 2%. Isso tem levado à desvalorização do dólar e, segundo analistas, à escalada dos preços do petróleo.

O governo americano informou ontem que foram eliminados 62 mil postos de trabalho em junho, devido à crise no mercado imobiliário. Foi o sexto mês consecutivo de cortes, a maior seqüência desde 2002. O índice de desemprego ficou estável em 5,5%.

- Os mercados estão começando a questionar a credibilidade da inflação do Fed e do Banco da Inglaterra. O BCE deu um sinal de que é sério em sua luta contra a inflação - disse Perkins, do ABN.

(*) Com agências internacionais

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

AS FARC MORRERAM? VIVAM AS FARC!
Eliane Cantanhêde

BOGOTÁ - As Farc capazes de delimitar território, criando um Estado dentro do Estado colombiano no governo Andrés Pastrana, já não existem mais. A falta de direção política e de apoio internacional causaram desorientação, fraturas nas lideranças, sucessivas derrotas e a morte de seus nomes mais consagrados. O resgate de Ingrid Betancourt e de 14 outros reféns, anteontem, foi um xeque-mate, com requintes de humilhação.

Pelo relato factual, os reféns que mais interessavam (a jóia da coroa, os três americanos e os 11 policiais e militares colombianos) foram reunidos e retirados espetacularmente, sem um único tiro e sem uma gota de sangue, num helicóptero sugestivamente branco. Simples assim? Como foi possível?

É certo que houve infiltração de experts em inteligência nas Farc e participação decisiva dos EUA, mas falta um elo: a cooptação de líderes de primeira grandeza.

Manuel Marilanda, o "Tirofijo", morreu; Raúl Reyes explodiu no Equador; Nelly Ávila, a "Karina", se entregou; um guarda-costas assassinou Ivan Ryos. Sobram peões, alçados à condição de reis e rainhas já sob a "ideologia" do narcotráfico e que bem podem trair. Serão os próximos a cair.

Ou a entregar.

E Álvaro Uribe, que acabou com a brincadeira e com as áreas desmilitarizadas, como vai agir?

Se depender do comando maior, Ops!, dos aliados norte-americanos, chegou a hora de estraçalhar o que resta da guerrilha, mesmo sob risco de 500 reféns, 25 deles políticos. Mas Brasil, Argentina, Venezuela e Equador preferem outro caminho: o da vitória negociada, também sem tiros e sem sangue. Derrubar o rei, não incendiar o tabuleiro.

Depende igualmente do que sobra das Farc. Se ideologia e unidade se esfacelaram, ainda restam interesses poderosos e muito dinheiro. As Farc viraram "narco-guerrilheiras". Agora, vão-se os guerrilheiros, fica só o narcotráfico. E ainda por muito e muito tempo.

DEU EM O GLOBO

LULA CONDENA LUTA ARMADA PARA OBTER PODER
Luiza Damé

Presidente elogia Colômbia e diz que Farc têm de agir dentro dos parâmetros democráticos e libertar todos os reféns

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, depois da libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt e de mais 14 pessoas, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) têm que agir dentro dos parâmetros democráticos e libertar todos os reféns. O presidente condenou o uso da luta armada para qualquer grupo chegar ao poder na América do Sul.

- Eu espero que as Farc tenham sensibilidade de participar do jogo democrático e liberar todos os reféns que ainda existem na mão das Farc. Eu acho que foi uma coisa extremamente importante para a Humanidade. Quem sabe isso agora esteja mexendo com a cabeça das Farc para que tomem a atitude de liberar todos os reféns - afirmou.

Lula condenou o seqüestro de pessoas, afirmando que esse é um ato abominável, e elogiou a atuação do governo colombiano. Para ele, o resgate dos 15 reféns há anos nas mãos das Farc foi uma vitória do governo colombiano e de todos que lutam pela liberdade e pela paz.

O presidente disse ter ficado "extremamente satisfeito" com o resgate dos reféns. Ele afirmou que vai conversar com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. O presidente disse que na América do Sul não há espaço para a luta armada:

- Eu acho que é preciso ter um fim. Aqui na América do Sul, na América Latina não existe nenhuma razão para alguém querer chegar ao poder pela via armada, porque a democracia reina neste continente, todas as forças políticas se organizam em partidos políticos. É uma coisa do passado achar que a via armada é a solução para alguma coisa, sobretudo em regime de liberdade.

Algumas horas apenas após a libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) apresentou e conseguiu aprovar no plenário um requerimento convidando a colombiana para participar de uma sessão do Senado Federal. A idéia de Suplicy, que foi apoiada por mais de 20 senadores, é que Ingrid Betancourt possa relatar os seis anos de cativeiro em que ficou em poder das Farc e expor ainda seus planos para ajudar na pacificação de seu país. A Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado deverá designar uma comitiva de parlamentares para entregar pessoalmente o convite à ex-senadora.
MEU COMENTÁRIO:
Mas, na frase em negrito, fica evidente as duas almas do presidente: justifica os amigos "aloprados"que sequestraram, e defederam a luta armada quando não tinha "o regime de liberdade".
A ESQUERDA LUNÁTICA
(Conferência proferida por Pilar Rahola na Convenção da AIPAC em Washington DC, Junho/2008)

Bom dia. É uma honra para mim estar entre vocês. O título de minha conferência é: A esquerda lunática.

Matem esse porco infiel!!!

Com essa simples ordem, enviada por um imã, a vida de um professor francês, Robert Redeker, mudou para sempre em 19 de setembro de 2006. A Internet multiplicou a ameaça em dezenas de webs islâmicas, e o endereço de sua casa, seus números de telefone, os dados de seus filhos, foram publicados.

Desde aquele dia, toda sua família vive sob proteção policial, e teve queabandonar seu trabalho, seu domicílio e mudar de vida.

Seu crime: ter escrito um artigo no jornal francês Le Figaro intitulado:What should the free world do while facing Islamist intimidation? (O quedeveria o mundo livre fazer para enfrentar a intimidação islamita?).

Nesse artigo, Redeker defendia a liberdade das democracias e alertava sobre o perigo do Islã radical. E por defender a liberdade de nossa sociedade, perdeu sua própria liberdade. Em seu recente livro "Atreva-se a viver", explica sua vida na clandestinidade. Uma vida condenada ao exílio interior, em seu próprio país. Por exemplo, não pode anunciar a morte súbita de seu pai, por medo de ser descoberto. Membro da revista da elite da esquerda Lê Temps Modernes, fundada por J. P. Sartre, viu-se abandonado pelos líderes da esquerda franceses, que atacaram sua crítica ao Islã. E assim como Salman Rushdie, como Talisma Nasreem, como Ayan Hirsi Ali, também Robert Redeker,descobriu que uma parte da esquerda européia está traindo a liberdade. Ele fala dos perigos do fascismo islâmico, que ameaça, aterroriza, escraviza e mata. E seus companheiros de esquerda o acusam de islamófobo e racista. Ele denuncia a passividade do mundo ante à escravidão da mulher, a ablação do clitóris, o uso de crianças bombas, o fanatismo terrorista. E seus companheiros da esquerda o acusam de não ser respeitoso com outras culturas.

Ele, como eu, e como muitos, defende um Islã livre de fanáticos, ditadores, terroristas e totalitários. E nossos companheiros da esquerda nos deixam sós ante essa defesa. Ele assume, pois, a responsabilidade moral de defender a Carta de Direitos Humanos, ante o assédio do islamismo radical, que é a nova ideologia totalitária quer o mundo enfrenta. E os companheiros da esquerda, traem esse mesmo compromisso moral.

Quer dizer, estamos num momento da história que exige uma defesa firme da liberdade. A esquerda teria que liderar essa defesa. E, no entanto, infelizmente, não está à altura do momento histórico que vive a humanidade.

Por quê? Que patologias profundas distanciam a esquerda européia de seu compromisso moral?
Por que não vemos manifestações em Paris, ou em Londres, ou em Barcelona contra as ditaduras islâmicas?

Por que não o fazem contra a ditadura birmanesa?

Por que não há manifestações contra a escravidão de milhões de mulheres, que vivem sem nenhum amparo legal? Por que não se manifestam contra o uso de crianças bombas em conflitos onde o Islã está envolvido?

Por que nunca lideraram a luta a favor das vítimas da terrível ditaduraislâmica do Sudão?

Por que nunca se comoveram com as vítimas dos atos de terrorismo em Israel? Por que não consideram a luta contra o fanatismo islâmico uma de suas causas principais?

Por que não defendem o direito de Israel a existir e defender-se?

Por que confundem a defesa da causa palestina com a justificativa doterrorismo palestino?

E a pergunta do milhão: Por que a esquerda européia, e globalmente toda a esquerda, só têm obsessão na luta contra duas das democracias mais sólidas do planeta, Estados Unidos e Israel, e não contra as piores ditaduras?As duas democracias mais sólidas e as que sofreram os mais sangrentos atentados do terrorismo mundial.

E a esquerda não está preocupada com isso.

Da minha perspectiva de livre pensadora, vinculada historicamente aopensamento da esquerda racional, vejo-me obrigada a acusar uma parte da esquerda, a que faz mais barulho nos jornais e nas ruas, de serprofundamente reacionária, anti-moderna e anti-ocidental. E, por tudo isso, cúmplice do avanço do totalitarismo no mundo.

Novamente, por quê? Estas são as patologias do pensamento que detecto nos intelectuais e líderes mais barulhentos da esquerda, de Noam Chomsky até José Saramago, de Michael Moore, até Hugo Chávez ou Evo Morales: não superação da herança dogmática stalinista; simplismo anti-americano; ódio exacerbado a Israel; anti-semitismo inconsciente. Ou seja, hoje nos jornais, nas universidades, em algumas chancelarias e em muitos livros, não temos líderes de esquerda comprometidos com a liberdade. Temos líderes de uma esquerda lunática capaz de minimizar o terrorismo, banalizar a Shoá, ignorar o sofrimento da mulher e justificar ditaduras terríveis.
Esses líderes eessa corrente de opinião explicam o ódio que hoje Israel sofre no mundo, e especialmente na Europa. Um ódio que vai da mão do ódio que sofrem, por sua vez, os Estados Unidos.

1. Permitam-me analisar a primeira patologia, a herança dogmáticastalinista e o anti-americanismo. Mesmo que o muro de Berlim tenha caído, e com ele a maioria das ditaduras comunistas, ainda não caiu o muro que muitos militantes da esquerda mantém em seu próprio cérebro. Assim, alguns grandes dogmas stalinistas estão intactos e condicionam as análises de seus herdeiros. Não é casualidade que, durante décadas, o stalinismo criminalizou Israel, e a esquerda atual o continue fazendo. Não é uma casualidade que, durante décadas, consideraram as organizações palestinas terroristas, como forças de libertação, e a esquerda atual continue minimizando o terrorismopalestino e desprezando as vítimas judias. Não é uma casualidade que,durante décadas, consideraram os Estados Unidos como o paradigma da maldade política, e a esquerda continue obsessiva com os Estados Unidos. De fato, a maioria das atitudes anti-americanas se devem aos anteolhos com que a esquerda lunática vê o mundo. São anteolhos furibundamente anti-americanos.

De maneira que, se alguém é amigo dos EUA, é meu inimigo, e se alguém é inimigo dos EUA, é meu amigo. E assim, tipos de extrema esquerda acabam sendo amigos do Irã. Une-os o ódio aos Estados Unidos, o ódio a Israel e o desprezo genético para com os valores ocidentais. Ou seja, o que os une é o desprezo profundo à liberdade.

Sem dúvida, o paradigma da imbecilidade desta esquerda dogmática chama-se Hugo Chávez. Mas na Europa muitos professores universitários, escritores de prestígio e grandes intelectuais, pensam igual a Chávez. Só se distinguem por ser mais sutis na expressão de seus preconceitos.

Certamente, a crítica às políticas dos Estados Unidos ou Israel, sãolegítimas e algumas, muito necessárias. Mas o fenômeno atual vai muito mais além das críticas razoáveis. Trata-se de uma brutal criminalização do direito de Israel à sua existência e à sua defesa, acompanhada de uma visão terna do terrorismo palestino. E no caso dos Estados Unidos, tampouco abunda a crítica razoável. Sobra o preconceito, o maniqueísmo e a obsessão. Na Europa e na América Latina, este fenômeno é especialmente virulento.

2. A segunda patologia, o antiisraelismo sem complexos, e oanti-semitismo inconsciente. Sem dúvida, o ódio exacerbado a Israel marca as pautas dos jornais do mundo. Nenhum outro conflito sofre uma distorção informativa como este; Israel é o único país do mundo que tem que pedir perdão por existir, perdão por defender-se e perdão por não desaparecer.

Suas ações militares são elevadas à categoria do horror. Suas vítimas são depreciadas e seus inimigos são considerados heróis. A chave está na frase que disse o Prêmio Nobel Imre Kertesz, judeu húngaro que sofreu o Holocausto: Quando vejo na televisão os tanques israelenses, um pensamento atravessa minha alma: Meu Deus, que bom que eu possa ver a estrela judaica sobre os tanques israelense e não costurada sobre minha roupa como em 1944.

Não sou imparcial nem posso sê-lo: deixo a imparcialidade aos intelectuais europeus que jogam esse jogo de forma tão malvada...? Assim é. Longe de ser a histórica vítima judaica que se arrastava pelos guetos, era perseguida como um rato e era assassinado, hoje o judeu ergue um país do nada,pesquisa, inventa, ganha prêmios internacionais e vence todas as guerras que lhe estabeleceram. E essa imagem do judeu vitorioso, apesar de séculos de perseguição e extermínio, é insuportável para muitos. O primeiro pecado de Israel, é não sucumbir. Essa força que lhe permitiu sobreviver a guerras letais e a milhões de inimigos, é o que mais indigna a esquerda lunática.

Por quê? Porque é geneticamente anti-semita.

É claro, ninguém dessa esquerda reconhece que é anti-semita. Falam desolidariedade com o povo palestino, de crítica racional a Israel, decompromisso com a liberdade. Vejamos os conceitos. Primeiro conceito:solidariedade, palavra totem da esquerda européia e internacional.Entretanto, é uma solidariedade torta, que chora com um único olho, somente pelas vítimas palestinas, mas que aplaude o massacre numa escola judaica, ou num ônibus, ou na Universidade Monte Scopus. E se solidariza com a causa palestina, nunca o fez com a causa judaica. Essa esquerda aplaudiria o desaparecimento de Israel, e nunca se sentiu cômoda com sua existência.

Portanto, não é solidariedade com as vítimas. É ódio a Israel.

Outro conceito: crítica racional. Não existe na prática totalidade dasanálises. Longe de encontrar reflexões equilibradas, só encontramos uma redução extrema e maniqueísta do conflito, que transforma Israel num ente malvado, e os palestinos, em puras vítimas. Assim, durante anos a maioria dos analistas converteram Arafat numa espécie de Che Guevara árabe, herói da luta dos povos. Sua corrupção, seu autoritarismo, sua violência nunca foram objeto de crítica, e a ninguém interessou saber o que faziam os palestinos com os bilhões de dólares que chegam à Autoridade Palestina, de todos os lugares do mundo. Cada palestino recebeu, per capita, o dobro que os europeus pelo Plano Marshall. E há pobreza! Por quê?

A ninguém interessou formular esta pergunta, porque é mais fácil culparIsrael dos males palestinos, que tentar saber que responsabilidade têm os palestinos, em sua própria miséria.

E finalmente, o conceito de compromisso com a liberdade. Ouço essa expressão em todos os foros pró-palestinos europeus. "Somos a favor da liberdade dos povos!", dizem com ardor. Não é correto. Nunca preocupou-lhes a liberdade dos cidadãos da Síria, do Irã, do Iêmen, do Sudão, etc.? E nunca preocupou-lhes a liberdade destruída dos palestinos que vivem sob o extremismo islâmico do Hamas. Só lhes preocupa usar o conceito de liberdade palestina, como míssil contra a liberdade israelense.

Uma terrível conseqüência deriva destas duas patologias ideológicas: amanipulação jornalística.
Finalmente, não é menor o dano que faz a maioria da imprensa internacional.Sobre o conflito árabe-israelense NÃO SE INFORMA, SE FAZ PROPAGANDA. A maior parte da imprensa, quando informa sobre Israel, fere todos os princípios do código deontológico do jornalismo. E assim, qualquer ato de defesa de Israel se torna um massacre e qualquer enfrentamento, um genocídio. Foram ditas tantas barbaridades, que a Israel já não se pode acusar de nada pior. Em paralelo, essa mesma imprensa nunca fala da ingerência do Irã ou da Síria a favor da violência contra Israel; da inculcação do fanatismo em crianças; dacorrupção generalizada na Palestina. E quando fala de vítimas, eleva àcategoria de tragédia qualquer vítima palestina, e camufla, esconde oudespreza as vítimas judaicas.

Termino com um apontamento sobre a esquerda espanhola. Muitos são os exemplos que ilustram o antiisraelismo e o anti-americanismo que definem o DNA da esquerda global espanhola.

Por exemplo, um partido de esquerda acaba de expulsar um militante, porque criou uma pagina na internet de defesa de Israel. Cito frases da expulsão:

"Nossos amigos são os povos do Irã, Líbia e Venezuela, oprimidos peloimperialismo. E não um estado nazista como o de Israel". Outro exemplo, a prefeita socialista de Ciempozuelos trocou o dia da Shoá, pelo dia do Nakba palestino, desprezando, assim, mais de 6 milhões de europeus judeus assassinados. Ou na minha cidade, Barcelona, onde a prefeitura socialista decidiu celebrar, durante o 60º aniversário do Estado de Israel, uma semana de 'solidariedade ao povo palestino'. Para ilustrá-lo, convidou Leila Khaled, famosa terrorista dos anos 70, atual líder da Frente de Libertação da Palestina, que é uma organização considerada terrorista pela União Européia, e que defende o uso das bombas contra Israel. E etc. Este pensamento global, que faz parte do politicamente correto, impregna também o discurso do presidente Zapatero. Sua política exterior cai em todos os tópicos da esquerda lunática e, em relação ao Oriente Médio, sua atitude é inequivocamente pró-árabe. Estou em condições de assegurar que, em particular, Zapatero considera Israel culpado do conflito, e a política doministro Moratinos vai nessa direção. O fato de que o presidente colocou uma kefiah palestina, em plena guerra do Líbano, não é uma casualidade. É um símbolo. A Espanha sofreu o atentado islamita mais grave da Europa, e Al Andaluz? Está no alvo de todo o terrorismo islâmico.Como escrevi faz tempo, "mataram-nos com celulares via satélite, conectados com a Idade Média".

E, entretanto, a esquerda espanhola está entre as mais antiisraelenses do planeta.

E diz ser antiisraelense por solidariedade!

Esta é a loucura que quero denunciar com esta conferência.

CONCLUSÃONão sou judia, estou vinculada ideologicamente com a esquerda e soujornalista. Por que não sou antiisraelense, como a maioria de meus colegas?

Porque, como não judia, tenho a responsabilidade histórica de lutar contra o ódio aos judeus, e, na atualidade, contra o ódio a sua pátria, Israel. Aluta contra o anti-semitismo não é coisa de judeus, é obrigação dos nãojudeus. Como jornalista, sou obrigada a buscar a verdade, mais além dos preconceitos, das mentiras e das manipulações. E sobre Israel não se diz a verdade. E como pessoa de esquerda, que ama o progresso, sou obrigada a defender a liberdade, a cultura, a convivência, a educação cívica das crianças, todos os princípios que as Tábuas da Lei tornaram princípios universais.
Princípios que o islamismo fundamentalista destrói sistematicamente. Quer dizer, como não judia, jornalista e de esquerda tenho um triplo compromisso moral com Israel. Porque, se Israel fosse derrotado, seriam derrotadas a modernidade, a cultura e a liberdade.

CONFIRA COMUNICADO DO PDA DA COLÔMBIA

EL POLO DEMOCRÁTICO ALTERNATIVO MANIFIESTA:

1. La puesta en libertad de Íngrid Betancur, de tres ciudadanos norteamericanos y de 11 miembros de las Fuerzas Armadas que se encontraban secuestrados por la guerrilla de las FARC, es un acontecimiento que todo Colombia y la Comunidad Internacional, tienen que celebrar con inmensa alegría.

2. Un suceso de tanta trascendencia tiene que llevar a las FARC y a los demás grupos insurgentes que aún quedan en el país, a reflexionar sobre la esterilidad de la lucha armada y la necesidad de abandonar ese camino tortuoso que les ha llevado a cometer crímenes –como el secuestro- universalmente repudiables, y a pensar que sólo la lucha democrática puede conducir a la construcción de una sociedad más justa.

3. El éxito de este operativo no puede llevar a la conclusión ligera de que el rescate militar es el método eficaz y seguro para liberar a los secuestrados, sin riesgo para su vida e integridad, y de que debe desecharse la posibilidad de un acuerdo humanitario como paliativo a las consecuencias del conflicto armado mientras éste subsista.

4. Los países de la Comunidad Internacional que han jugado un papel tan importante en la coadyuvancia de un proceso de paz, para Colombia, no pueden ahora cejar en su empeño de que un inmenso grupo de ciudadanos, innominados unos y conocidos otros, pero sin la relevancia de los liberados, queden abandonados a su propia suerte.

5. Al manifestar su inmensa complacencia por el suceso que acaba de darse, el Polo Democrático Alternativo reitera que sus enérgicas críticas al Gobierno por su injerencia en órbitas de otros poderes y el desdibujamiento del Estado social de derecho, mantienen toda su validez.

Carlos Gaviria Díaz,
Presidente Polo Democrático Alternativo, Bogotá, julio 2 de 2008