terça-feira, 23 de setembro de 2008

Gabeira diz que tomou a frente no caso do Galeão


Alessandra Duarte
DEU EM O GLOBO


"É melhor ter uma pessoa criativa e independente a ter uma pessoa obediente", diz, referindo-se a Paes

Repetindo a palavra "líder" cinco vezes em seu discurso ontem no Clube de Diretores Lojistas do Rio, o candidato do PV a prefeito, Fernando Gabeira, intensificou sua estratégia de campanha: mostrar-se como alguém que pode construir parcerias com os governos federal e estadual, não por ser "amigo do presidente e do governador"- numa referência ao candidato Eduardo Paes (PMDB) -, mas por sua liderança:

- Ouvimos os candidatos dizerem que são amigos do presidente e do governador. Isso é muito bom, mas não basta. É preciso ser um líder, e é preciso ser independente e criativo. Vejam o caso do Aeroporto do Galeão. Eu entrei em cena, denunciei o processo de decadência do Galeão, pedindo apoio para a recuperação e defendendo a concessão à iniciativa privada. O governador também defende isso. E o presidente aceitou a tese. Trabalhamos juntos, e não somos amigos. É melhor ter uma pessoa criativa e independente a ter uma pessoa obediente e sem capacidade de criação. Por isso, para o próprio Lula e para o próprio Cabral, eu sou o melhor candidato, embora eles ainda não reconheçam isso, porque a cegueira partidária não permite que eles vejam isso.

Gabeira voltou a marcar diferença entre seu discurso e o de Paes, que tem se apresentado como síndico:

- Não acredito que a campanha vai se dar entre um candidato de esquerda versus um de direita. Vai se dar entre um candidato que se propõe a ser síndico e um que se propõe a ser o líder. E, no segundo turno, vai haver um líder político propondo conduzir a cidade, e alguém dizendo que será um bom síndico, o que é importante, mas não é decisivo.

Dança de votos no Rio


Maiá Menezes
DEU EM O GLOBO

Gabeira e Jandira avançam onde Paes perdeu; peemedebista tira votos de Crivella

Líder nas últimas pesquisas, o candidato do PMDB a prefeito, Eduardo Paes, perdeu espaço entre os eleitores mais ricos para Fernando Gabeira (PV) e Jandira Feghali (PCdoB). Caiu de 30% para 21% entre os que ganham mais de dez salários mínimos, enquanto Gabeira foi de 20% para 31%; e Jandira, de 7% para 15%. Se recua por um lado, Paes avança por outro, em terreno associado ao senador Marcelo Crivella (PRB): entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos, oscilou de 27% para 30%; Crivella caiu de 28% para 22%.

A comparação entre os dados das duas últimas pesquisas Datafolha mostra o troca-troca na corrida rumo ao segundo turno das eleições à prefeitura do Rio. E ajuda a explicar as estratégias de Gabeira e Jandira, de olho em uma vaga na disputa: o alvo agora é o eleitorado de Paes, já que acreditam que Crivella está em curva de queda.

- Um candidato com crescimento repentino (como Paes) não tem voto consolidado. Ele não tem nada de sólido - diz o coordenador dos programas de TV de Jandira, Paulo de Tarso, responsável pelas inserções que lembram o discurso duro de Paes, na CPI dos Correios, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois de atrair o chamado voto de opinião, agora o desafio é conquistar o eleitorado popular que oscila de Crivella para Paes. Jandira adotou discurso voltado para áreas de "menor grau de informação e renda". Os ataques serão dirigidos ao peemedebista, a quem chama de "almofadinha".

Paulo de Tarso explica que o alvo é Paes porque Crivella tem "percentual de votos mais consolidado". O senador, no entanto, já deu outra explicação: teria havido um pacto de não-agressão entre os dois, ambos da base do governo Lula.

"Havia uma idéia de desperdício de voto"

Defendido pela candidata do PCdoB, o voto útil não é bandeira de Gabeira, que ontem, no programa eleitoral, argumentou: "Agora, as pessoas podem votar no candidato que consideram o melhor e participar de uma campanha vitoriosa". Em agenda ontem, no Centro do Rio, dentro da estratégia de "desconstruir" o discurso do candidato do PMDB, Gabeira fez duras críticas a Paes.

- Havia uma idéia de desperdício de voto. Depois da pesquisa, podemos deixar claro que é possível chegar ao segundo turno. Acredito que isso (votar em Gabeira) vire um movimento - disse o publicitário Lula Vieira, coordenador dos programas de TV de Gabeira, informando que, também de olho no eleitorado perdido por Crivella, está ampliando a participação popular no programa.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 19 pela TV Globo, Paes aparece com 26%; Crivella, com 18%; Jandira com 13%; Gabeira com 11%; Solange Amaral (DEM) com 5%; Alessandro Molon (PT) com 4%, Chico Alencar (PSOL) com 3%; e Paulo Ramos (PDT) com 2%. O percentual de indecisos, que não variou em setembro, foi de 6%.

Para Paes, o que importa é que tem mantido um equilíbrio em todas as faixas de renda. Ele afirma que manterá a linha propositiva, sem reagir a ataques dos adversários.

Crivella alega que há erros na metodologia da pesquisa mas reconhece que, em algumas regiões da cidade, enfrenta "oscilações". No fim de semana, ele criticou o governador Sérgio Cabral, padrinho de Paes.

O cientista político Eurico Figueiredo vê instabilidade nos números de Crivella:

- Ele ainda tem gordura a perder.


E prevê mais pedras na direção de Paes:


- Todos vão atacá-lo. Como a subida dele foi rápida e forte, não deu tempo de cristalizar o eleitor.

O fim do mundo


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. "Se não aprovarem o pacote até sexta-feira, não teremos segunda-feira", comenta um executivo financeiro brasileiro diante das negociações que se desenrolam no Congresso em Washington. Esse é o tom catastrófico, com a previsão do fim do mundo, que está sendo usado pelas autoridades econômicas dos Estados Unidos na tentativa de colocar contra a parede a maioria democrata, de cuja adesão depende a aprovação das medidas. O Partido Democrata está em uma sinuca de bico. Se não aprovar o pacote de U$700 bilhões do governo, que tem o objetivo de reorganizar o mercado financeiro, mas ninguém sabe que resultado terá, será culpado pela crise que inevitavelmente virá, com conseqüências imprevisíveis, até mesmo não termos uma segunda-feira no dia 29 de setembro.

Se, no entanto, aprová-lo nos termos em que foi para o Congresso, os democratas estarão se submetendo ao rolo compressor republicano, o que já se mostrou altamente prejudicial quando ajudaram a aprovar o Patriotic Act, em conseqüência dos atentados de 11 de setembro de 2001, e depois foram acusados de terem dado suporte a atitudes radicais do governo, inclusive escutas ilegais e torturas a presos políticos.

Aprovar poderes ilimitados para o secretário do Tesouro, mesmo que tenham perspectiva concreta de poder a partir de 15 de janeiro do ano que vem, sem que os cidadãos comuns que não conseguem pagar suas hipotecas tenham algum tipo de alívio, seria dar um aval ao governo republicano que causou toda essa tragédia econômica.

Aprovar um socorro aos bancos e banqueiros que quebraram, sem limitar seus ganhos daqui para frente seria o mesmo que admitir que ninguém tem que ser punido pela ganância e pela irresponsabilidade que o candidato democrata Barack Obama aponta como as verdadeiras razões da crise.

O pacote de socorro que o governo republicano montou no último fim de semana tornou-se o ponto central da campanha presidencial, e nem mesmo o candidato oficial, o republicano John McCain, encontra ambiente político para dar um aval cego à administração Bush.

Ele criticou o governo por não ter se adiantado à crise, e disse que não é possível dar um poder tamanho ao secretário do Tesouro Henry Paulson, que, pelo projeto apresentado, poderia definir unilateralmente o que fazer com o dinheiro aprovado pelo Congresso e seria inimputável em qualquer instância judicial.

McCain está propondo que uma comissão de "notáveis", mesmo que partidários, tenha a incumbência de acompanhar e fiscalizar as decisões da Secretaria de Tesouro durante os dois anos estimados para a limpeza do mercado financeiro.

Obama também não está disposto a dar "um cheque em branco" para a administração Bush, e leva a discussão para a proteção aos mutuários da casa própria. O que retirará de sua candidatura a ameaça de ser considerada co-responsável por qualquer medida impopular que venha a ser tomada pelo governo na defesa dos interesses de Wall Street, que Obama coloca como contrários aos interesses da "Main Street" (rua principal), ou seja, a população de maneira geral, que não tem dinheiro aplicado, mas sofre com as conseqüências da crise na economia real.

Há também um consenso entre os candidatos de que uma nova regulamentação do mercado financeiro deverá surgir dessa crise, com um acompanhamento mais próximo e mais firme de agências reguladoras, novas ou mais provavelmente as já existentes, mas com poderes reforçados e, mais importante até, falando entre si, para que o acompanhamento do que acontece no mercado tenha mais transparência. E as informações possam ser consultadas pelos participantes do jogo, sejam os investidores pessoas físicas, sejam as empresas.

Uma das razões por que os próprios bancos pararam de emprestar dinheiro entre si, na semana passada, foi que não havia informações confiáveis no mercado sobre que instituições tinham crédito podre, e em que quantidade.

Parece inevitável que o mercado financeiro não seja mais o mesmo daqui para frente, e que alguns investimentos desapareçam, por falta de ambiente propício a alavancagens estratosféricas como vinha acontecendo.

Um tema que já se discute abertamente, mas não agrada aos participantes do mercado financeiro, e muito menos aos candidatos, é a conseqüência de todo esse movimento de salvamento na economia real.

O próximo presidente, a ser eleito em novembro, receberá o país com o enorme déficit fiscal ocasionado pela guerra do Iraque e aumentado pelo pacote que está em debate no Congresso.

O programa de impostos que os dois candidatos apresentaram já não tem mais nada a ver com a realidade, nem os cortes prometidos por Obama para as classes mais baixas, nem o aumento apenas para os mais ricos.

Também McCain não poderá manter sua promessa de permanecer na política de Bush de incentivar as classes produtoras cortando impostos, e nem garantir que não aumentará os impostos de ninguém.

Parece inevitável, embora dificilmente o tema venha a ser puxado por qualquer dos candidatos, que um aumento de impostos em 2010 aconteça diante do aumento dos gastos públicos já contratados.

Como o orçamento de 2009 já estará aprovado pelo Congresso com base na proposta do atual governo, a calibragem desse aumento terá que ser feita no segundo ano da próxima administração, quando já teremos uma idéia de como o novo governo estará lidando com a "herança maldita" recebida da gestão Bush.

Isso na suposição de que o pacote será aprovado ainda esta semana, e que o fim do mundo não chegará na próxima segunda-feira.

E ainda abanamos o rabo


Clovis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Um grande craque do mundo financeiro, com experiência nos dois lados do balcão (governo e iniciativa privada), escreve para corrigir uma informação da coluna: foram seis de oito, e não três de cinco, as financeiras independentes de banco que quebraram nos Estados Unidos.

Poderia ter acrescentado que foram todas as oito, agora que a Morgan Stanley e a Goldman Sachs tomaram a iniciativa de abandonar a independência (e a conseqüente regulação bem mais frouxa, quando não inexistente) para se tornarem bancos também. O "New York Times" diz que o pedido é o reconhecimento de que "seu modelo de finanças e investimento tinha se tornado demasiado arriscado e que necessitavam do colchão de depósitos bancários".

Será que agora o Brasil e seus analistas vão abandonar o complexo de vira-lata (apud Nelson Rodrigues) e deixar de abanar o rabinho ante as miçangas oferecidas pelos colonizadores, no caso, os colonizadores financeiros? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um orgasmo quando o Brasil foi alçado a "investment grade", palavra que ele disse nem saber pronunciar direito. Mas era a "declaração", segundo Lula, de que o Brasil "é um país sério".

Bobagem, Lula. O pessoal que diz quem é e quem não é "investment grade" não viu (ou viu, mas ficou quieto, o que é suspeito) todas essas grandes e históricas firmas financeiras deixarem de ser sérias até o ponto de quebrarem.

Outra coisinha: foi o pessoal da Goldman Sachs quem inventou a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) para designar as supostas potências mundiais do ano 2020. Se não enxergaram os riscos que corriam em 2007/2008, serão capazes de enxergar lá longe? A crise deixou evidente que acreditar nessa gente é acreditar em duendes. Prefiro jogar os búzios ou consultar cartomantes.

Marcação homem a homem


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os dois até usam a mesma expressão. O presidente Luiz Inácio da Silva e o governador José Serra prometem mergulhar “de cabeça” no segundo turno para tentar eleger os respectivos candidatos à Prefeitura de São Paulo.

É possível que nenhum dos dois tenha a intenção explícita de medir forças - o governador certamente não tem -, mas, uma vez iniciado o embate da reta final, será inevitável a “leitura” antecipada do embate presidencial de 2010.

Serra é o candidato mais cotado entre os nomes apresentados ao eleitor nas pesquisas e Lula, o mais lembrado nas citações espontâneas, já avisou mais de uma vez aos oponentes que não perderá a chance de eleger o sucessor.

Portanto, nada mais óbvio: lutando na mesma praça em regime de exclusiva dedicação ostensiva, ambos roubarão a cena principal oficialmente reservada a Marta Suplicy e ao adversário a ser definido nas próximas duas semanas - Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab.

Ainda que procurem fugir dos temas nacionais, durante as três semanas de campanha entre o primeiro turno e a etapa final, presidente e governador terão suas ações examinadas sob a ótica da política nacional e da disputa federal daqui a dois anos.

Com a popularidade de Lula chegando aos píncaros (77,7% na pesquisa CNT/Sensus de ontem), o governador José Serra é o menos interessado em confrontos diretos.

Tanto que a idéia de Serra é ficar dentro do cardápio local. Argumenta que por onde anda ninguém lhe cobra a abordagem de assuntos de caráter nacional - políticos muito menos - e diz que o eleitor não se lembra de falar no presidente quando o diálogo é com o governador.

Se, como afirma, escuta a voz da rua, Serra também se pauta pelas pesquisas. E estas não o aconselham a confrontos. Mostram o eleitorado refratário a brigas partidárias e indicam que uma parcela significativa de adeptos do governo Lula hoje é bastante sensível à perspectiva de amanhã votar em Serra para presidente.

Por isso mesmo, no seu discreto roteiro do primeiro turno, o governador seguiu os passos da agenda presidencial em São Paulo. Osasco, São Bernardo, Suzano, Guarulhos e Diadema são alguns exemplos de municípios onde Lula esteve e Serra viu-se obrigado, por pressão dos correligionários, a visitar logo depois.

Apenas para marcar presença, sem ataques contraproducentes. No segundo turno, a idéia da marcação homem a homem persiste, bem como a intenção de atuar sem extrapolar o limite da fidalguia taticamente mais conveniente.

Só que não jogará como quiser; terá de levar em conta as circunstâncias, cujas condições serão impostas pelo presidente Lula. Se a ele convier a amenidade, o ambiente será ameno. Mas se considerar a eleição de Marta como ponto de honra e achar para isso oportuno partir “para cima”, o governador terá de escolher entre revidar ou ouvir calado.

Lembrando que não é Lula e sim seus adversários que precisam se preocupar com eventuais desgastes resultantes de conflitos. A confortável situação do presidente dispensa tais precauções. Ele transita em patamar muito acima dos oponentes e dispõe de salvo-conduto para pintar e bordar em seus discursos sem o menor risco.

O presidente pode vir a alterar seus planos no segundo turno em virtude das implicações nacionais futuras, mas até o presente momento não dá sinal de compartilhar da política de boa vizinhança. Ao contrário.

No fim de semana Lula esteve em São Paulo para mais um ato público de ajuda à sua candidatada e tripudiou sobre as agruras do campo adversário.

Chamou os adversários de Marta de “hipócritas”, fez piada do mote “com Lula tudo bem” consagrado pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, chamou de “oportunista” o DEM e ainda fez pouco do partido de Gilberto Kassab, por fazer oposição a ele no Congresso e se fingir de governista nos palanques.

Ambos engoliram calados os desaforos, produzidos no afã do presidente de conclamar o eleitorado a eleger a candidata do PT no primeiro turno.

Hipótese fora de cogitação no PT, mas a única em que Lula e Serra poderiam preservar com segurança o clima de cordialidade atual, evitando o risco de freqüentar o mesmo ambiente em posições francamente opostas antes do início oficial da campanha de 2010.

O astro


Mal saiu a pesquisa CNT/Sensus indicando o nome do presidente Lula como o mais lembrado para a próxima eleição presidencial, Brasília já pôs em sua agenda de boatos a retomada da proposta de mudança na Constituição para dar a ele a chance de mais uma eleição consecutiva.

Conviria ir devagar com o andor antes de interpretar esse resultado como um aval ao terceiro mandato. A pesquisa não pergunta o que pensa o eleitor sobre a mudança na regra do jogo. Além disso, se esses números fossem reproduções fiéis das vontades, os 1,9% dados a Dilma Rousseff na mesma lista enterrariam desde já a candidatura da ministra.

As tropas de Napoleão


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Tudo faz sentido. Nos EUA, onde as pessoas perdem suas casas e são chamadas a pagar a conta da crise financeira, Bush vai ladeira abaixo. Já no Brasil, o Ipea informa que 13,8 milhões pularam de faixa social entre 2001 e 2007. A aprovação do governo beira os 70%, e a popularidade de Lula bate recordes, a caminho dos 80%. O efeito Lula nas eleições municipais é óbvio. E a capacidade dele de transferir votos em 2010 e emplacar o sucessor? Pelo andar da carruagem e das pesquisas, a tese do terceiro mandato vai recrudescer e ele terá dois caminhos: ou se render às pressões da companheirada e à própria coceira continuísta, ou tentar se transformar no principal, talvez decisivo, cabo eleitoral.

Dilma Rousseff, potencial beneficiária dessa herança, teve apenas 1,9% das manifestações espontâneas da pesquisa CNT-Sensus de ontem, mas isso quer dizer pouco a dois anos da eleição. O importante, por ora, é que ela é a primeira entre os presidenciáveis lulistas, atrás só dos tucanos José Serra, favorito, e Aécio Neves, em segundo.

Comparação: em Belo Horizonte, a candidata Jô Moraes, do PC do B, disparou nas primeiras pesquisas, mas, com a propaganda eleitoral e a força do governo do Estado e da prefeitura, passou a comer poeira.

Márcio Lacerda, PSDB-PT-PSB, assumiu a liderança.

Outra: em Recife, dez entre dez transeuntes apostavam que o ex-governador Mendonça Filho, do DEM, estava virtualmente eleito.

Mas o poder de Lula, do governador Eduardo Campos (PSB) e do prefeito João Paulo (PT) são irresistíveis, e o petista João da Costa, um desconhecido, já prepara a posse.

Dilma está hoje como Lacerda e Costa no início da campanha, tranqüilona, esperando sentada a chegada das tropas de Napoleão. Sentada, diga-se, em cima do pré-sal, do PAC, do Bolsa Família e dos quase 80% de Lula. Para pânico da oposição, ou ele se elege, ou pode eleger até um poste. Mais um, ou uma.

A ofensiva fiscalista dos governadores


Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Passadas as eleições, os governadores estaduais devem desencadear uma ofensiva sobre o Congresso e o Judiciário para influir na votação de mais de 40 projetos que aumentam os gastos públicos. Na mira dos governadores estão inclusive leis já aprovadas e sancionadas, como aquela que estabelece o piso salarial dos professores.

A aprovação do piso salarial dos professores da rede pública já havia acionado a luz amarela no gabinete dos governadores, mas uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à TV Brasil, na última semana, levou os Estados a acionar seus mecanismos de defesa.

"Se for aprovado no Congresso um acordo entre os líderes, certamente que não vetarei", disse Lula em referência ao projeto que acaba com o fator previdenciário, em tramitação no Senado.

São dois os projetos que alteram regras atuais da Previdencia sob a análise dos congressistas. Um deles indexa os benefícios ao salário mínimo. O outro acaba com o fator previdenciário.

Segundo cálculos das assessorias técnicas dos governadores, a despesa previdênciária deve atingir 7,11% do PIB em 2008 e 11,23% em 2050, de acordo com os números e as regras atuais. Se a extensão da regra do reajuste do salário mínimo a todos os benefícios previdenciários for aprovada, esse percentual passará para 18,17% do PIB em 2050.

Considerando-se apenas o projeto que revoga o fator previdenciário e altera a regra do período base de cálculo do salário-de-benefício (elimina média longa desde julho de 1994 e restringe à média curta dos últimos 36 meses), o impacto será de 16,35% do PIB em 2050.

São duas medidas do tipo que podem levar ao rebaixamento do Brasil pelas agências de classificação de risco (muito embora elas não estejam com o prestígio muito em alta atualmente, quando seus palpites são favoráveis, sempre merecem os aplausos do governo federal).

O que alarma governadores é que o chamado espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal parece estar desencarnando da União, como demonstram o aumento dos gastos com pessoal e declarações como a de Lula à TV Brasil.

Bem ou mal os Estados se adaptaram à LRF. Até a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, acabou de apresentar o primeiro orçamento equilibrado de seu conturbado governo. Alagoas parecia um caso perdido, mas aos poucos procura se ajeitar. Aécio Neves acertou as contas deixadas por Itamar Franco. São Paulo, que já estava arrumado, pode agora apresentar suas melhores planilhas de investimentos dos últimos anos.

Dos mais de 40 projetos com impacto fiscal, os que causam maior impacto nos Estados são o do piso dos professores e o que regulamenta o que é gastos com Saúde nos Estados. Só em São Paulo, esse projeto da saúde, se aprovado, teria um impacto equivalente a R$ 1,450 bilhão. Isso sem falar que a exclusão do gasto com inativos como despesa de saúde abre precedente para medidas parecidas na educação.

No caso dos professores, o que está em jogo não é propriamente o piso de R$ 950. Estados mais ricos, como São Paulo, já pagam mais que esse valor a seus professores. O que está em jogo são alguns penduricalhos colocados no Congresso - mas sancionados por Lula - ao projeto do governo, como a invasão de competências estaduais e municipais e, o que é mais grave, a reintrodução na economia do veneno da indexação.

Ocorre que a lei prevê o reajuste anual automático do piso nacional pela variação do valor mínimo por aluno do Fundeb. Procuradores estaduais e secretários de Educação, reunidos, concluíram que a norma é inconstitucional, pois invade a competência de Estados e municípios e contraria a norma constitucional de que só lei específica pode determinar aumento de salários dos servidores públicos.

O salário dos professores, portanto, foi indexado ao piso. O governo resolveu então enviar um outro projeto ao Congresso que substitui esse critério de reajuste pela variação do INPC, o que à primeira vista parece mais razoável, mas tem o inconveniente de reintroduzir no setor público e na economia brasileira o veneno inflacionário da indexação de preços e salários. A emenda saiu pior que o soneto: indexa o salário dos professores ao piso e indexa o piso ao INPC.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras