quinta-feira, 23 de outubro de 2008

GABEIRA NA ZONA OESTE


Gabeira e Luiz Paulo tiveram uma extensa agenda na Zona Oeste na terça e quarta-feira.

Começaram pela comunidade de Antares, na terça, e dormiram em Bangu, seguindo na quarta para o Jabour, Rebu, Miguel Gustavo e Vila Vintém.

Por onde passavam, a alegria das crianças encantava e estimulava o trabalho do corpo-a-corpo.

É a cidade unida que aplaude seus candidatos!

Contas não fecham


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Faltando exatamente 12 dias para as eleições presidenciais, sendo que em vários estados a eleição antecipada já começou, com um amplo comparecimento, a disputa agora está resumida aos estados que não têm uma posição definida, os chamados "estados campos de batalha", onde qualquer um dos dois partidos tem condição de se impor. O democrata Barack Obama tem aumentado sua votação em quatro estados que são considerados fundamentais - Nevada, Carolina do Norte, Ohio e Virginia -, estados em que George W. Bush venceu em 2004.

Um ponto importante para análise de tendências é a indicação de que Barack Obama está tendo uma votação crescente nos subúrbios pelo país, sinal de que está conseguindo erodir a liderança tradicional dos republicanos nesses nichos eleitorais. Os subúrbios dos Estados Unidos e suas derivações representam hoje cerca de 50% da população, e os seus eleitores foram considerados decisivos para a vitória de George Bush em 2004. Hoje, eles representam a parcela da classe média mais atingida pela crise, tanto pelo preço da gasolina quanto pela falta de crédito.

Mesmo cidades em áreas rurais, mas ligadas às grandes metrópoles por auto-estradas, transformaram-se em redutos dessa classe média que se refugiou no campo em busca de uma melhor condição de vida, com menos estresse e mais segurança.

A população desses centros é majoritariamente branca, de trabalhadores de classe média com uma renda anual abaixo de US$75 mil, sendo que somente 17% têm renda acima de US$100 mil.

O colunista do "New York Times" David Brooks, que publicou um livro sobre essas comunidades intitulado "On paradise drive" ("No paraíso do automóvel", em tradução livre), registrou em recente coluna no jornal a transformação por que passam esses subúrbios, com os moradores mais preocupados com a má distribuição da renda e compreendendo melhor a necessidade de uma transformação da sociedade americana.

Os eleitores americanos, incluindo aí os suburbanos, diante da crise financeira, estariam mais inclinados a aceitar ações governamentais que visem a uma ajuda aos necessitados, mesmo que isso represente um aumento da ação do Estado.

Talvez esteja aí o grande obstáculo para uma reação de McCain, pois esses são redutos eleitorais considerados como apoios certos pela candidata a vice Sarah Palin, que se descreveu como uma "hockey mom" dos subúrbios, aquela que vai acompanhar o filho no jogo de hóquei no fim de semana.

O "populismo econômico", traduzido por uma política fiscal mais frouxa, de gastar mais e tributar mais os mais ricos, tem sido a marca dos democratas nas últimas eleições congressuais.

E é devido a ele que chegaram à maioria do Congresso, que devem ampliar largamente nas eleições deste ano.

Já o "populismo social", a marca dos republicanos, atribui ao cidadão a responsabilidade de produzir riqueza para a sociedade, sem que o governo interfira.

Foi uma explicação de Obama baseada no "populismo econômico", de usar os impostos dos que ganham mais para espalhar a riqueza pela sociedade, que fez Zé, o encanador, se rebelar contra os democratas e se tornar o emblema da campanha de McCain nas últimas semanas.

Mas, assim como o Zé não era nem encanador, também os eleitores conservadores parecem estar aceitando mais algumas medidas "socialistas" para amenizar a crise financeira.

Segundo as últimas pesquisas, Barack Obama teve ganhos em duas cidades que podem trazer os votos de Nevada e Carolina do Norte para os democratas, de acordo com o levantamento do site Politico/Insider Advantage. Os eleitores de Washoe County estão escolhendo Obama por 50% a 40%, e em Wake County ,na Carolina do Norte, onde estão Raleigh e seus subúrbios, Obama vence de 52% a 43%.

Os dois são os mais populosos condados de suas regiões. Para se ter uma idéia do que isso representa, George W. Bush venceu em ambos os condados em 2000 e 2004, apesar de que na reeleição a vitória tenha sido bastante apertada, já antecipando uma mudança de comportamento do eleitorado suburbano.

Esses dois estados tradicionalmente republicanos ainda estão em disputa, mas a boa performance dos democratas é um indício de que alguma coisa está mudando por lá. Mesmo com a atuação de Sarah Palin, ou talvez por causa dela, Obama está sendo o preferido das mulheres nesses dois condados.

Iowa, Novo México e Colorado, todos estados em que Bush venceu em 2004, já estão sendo dados por perdidos pela campanha de McCain. As contas estão sendo feitas pelos republicanos para tentar vencer a eleição sem esses estados tradicionais, mas, a cada colégio eleitoral que perdem, fica mais difícil a substituição dos votos para chegar aos mágicos 270 votos que dão a vitória no Colégio Eleitoral.

Mesmo perdendo Colorado, é possível ganhar, mas será preciso substituir os tantos votos eleitorais do estado por outros de um estado tradicionalmente democrata como Pensilvânia, com seus 21 delegados.

Ou vencer em Minnesota e Wisconsin, onde está perdendo por larga margem. E não perder em Virginia, Nevada e Florida, estados "vermelhos" (republicanos) que estão a ponto de se tornarem "azuis" (democratas).

A conta está ficando cada dia mais difícil de fechar para McCain.

Uma leve compressão


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, corre para desmentir qualquer interpretação de que a disputa entre PT e PMDB na eleição de Salvador possa ter conseqüência sobre a aliança nacional que sustenta o governo Luiz Inácio da Silva.

Nega com veemência que haja a mais remota intenção de pressionar o presidente quando pediu que ele e seus ministros ficassem longe da Bahia no primeiro turno e permanecessem distantes da capital na etapa final, para não dar ao eleitor a impressão de que só o candidato Walter Pinheiro, do PT, poderia assegurar benefícios federais à cidade.

“Conheço o meu lugar e não quero parecer chantagista. Ele é o juiz das suas decisões”, diz.

Mas, e se o presidente não atendesse e desembarcasse em Salvador para defender o candidato do PT?

“Eu faria minhas malas e iria embora do ministério, porque, nesse caso, não seria um deputado do PMDB, mas um ministro dele que estaria sendo desautorizado.”

Como se vê, quem conclui pela existência de pressão parte de uma premissa sem fundamento.

E já que está tudo ótimo, na maior leveza e santa paz, reformulemos o raciocínio para denominar de “leve compressão” a reação do ministro diante da conduta do parceiro de coligação nacional nessas eleições municipais, particularmente em Salvador: “O PT sinaliza que em 2010 tudo é possível”.

Refere-se a projetos eleitorais e mudanças de rumo, evidentemente, mas não dá passo maior do que lhe permitem as pernas agora: “Trabalho pela manutenção do PMDB na aliança do presidente Lula”, avisa, ressalvando que não representa todo o partido, cujos interesses são múltiplos. E voláteis, como está registrado na trajetória recente da substanciosa agremiação.

Na visão do ministro da Integração Nacional, as críticas à conduta do PMDB são duras na proporção inversa da tolerância com que são vistos os gestos do PT. “Salvador é o símbolo da falta de compromisso com os aliados.”

Na opinião dele, o comportamento dos petistas na capital não foi até agora corretamente analisado. “O PT participou da prefeitura do João Henrique (ex-PDT, candidato à reeleição pelo PMDB) durante 40 meses e, de uma hora para outra, resolveu ter candidato próprio e atacar a administração como se não tivesse nada a ver com ela.”

E mais: “Passou a se comportar como se só ele fosse aliado do governo federal, como se o presidente fosse dar tratamento privilegiado aos municípios onde o PT fizesse o prefeito, como se os outros partidos, ganhando, ficassem reduzidos a pão e água”.

A única maneira de o eleitor não tomar a insinuação como verdade absoluta, defende-se o ministro, seria evitar a presença do presidente e dos ministros. Com Lula lá, a disputa ficaria “injustamente” desequilibrada.

E não porque a Bahia seria exceção à regra que pelo País afora não confirmou o fenômeno da transferência automática de votos. “O problema está na mensagem nem sempre sutil de que ou o eleitor vota no PT ou a cidade fica sem nada.”

Passemos batido pelo caso do Rio de Janeiro, onde o candidato Eduardo Paes faz campanha dizendo que a cidade só “sai do isolamento” em relação ao repasse de verbas federais se o eleitorado escolher o PMDB.

Guerra é guerra. A questão é saber se depois de segunda-feira ela fica restrita ao âmbito municipal ou se sobrarão espaço e confiança para recomposições federais firmes o suficiente para resistir a ataques e contra-ataques nas disputas pela Presidência da República e os governos de 27 Estados. Um jogo bem mais poderoso que as batalhas de província ora prestes a se encerrar.

“Em 2010 tudo é possível”, disse acima o ministro sobre o efeito futuro da atual conduta petista; o que tanto pode significar abandono da aliança quanto a permanência ao lado de Lula, mas sem resquício de compromisso com os projetos do PT.

Adaptação

Se vai ser candidato e quer mesmo presidir a República, o governador José Serra precisará adquirir mais agilidade - e por que não dizer, um quê de virtualidade política - no trato de movimentos reivindicatórios se não quiser pagar sempre a fatura no final.

No ano passado, quando a reitoria da USP foi invadida por estudantes, ficou olhando a cena de longe, tal como acabou de fazer por mais de 30 dias com a greve da Polícia Civil de São Paulo até ser pressionado pela baderna produzida nas cercanias do Palácio dos Bandeirantes por sindicalistas e políticos eleitoralmente engajados.

Independente da justeza dos movimentos ou da razão da passividade - na USP, o receio do governo era ferir a autonomia universitária e, no caso da polícia, estava em jogo a pressão armada sobre uma autoridade -, aos olhos da opinião pública a responsabilidade não aceita nuances: recai sobre o chefe do Executivo, junto com o desgaste.

Ademais, se um tucano for eleito terá o PT na oposição, o que indicará tempos de muitos blocos na rua.

Fadiga de material


Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Nada como uma eleição depois da outra para confirmar a máxima de que resultado, só depois de contados os votos. Em São Paulo, o "demista" Gilberto Kassab começou o processo eleitoral na lanterna das preferências de voto; no segundo turno, vai para a eleição ostentando grande diferença nas pesquisas em relação à candidata que no início da campanha eleitoral era a favorita, Marta Suplicy (PT). Em Minas, havia uma certeza quase arrogante, confirmada pelas pesquisas depois do início da campanha eleitoral gratuita, de que o eleitor de Belo Horizonte seguiria cegamente os seus dois líderes, o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT), e elegeria ainda em primeiro turno o candidato Márcio Lacerda (PSB), apoiado por ambos. Houve segundo turno e, em bom momento do processo eleitoral, o deputado Leonardo Quintão (PMDB) esteve na frente nas pesquisas. A vitória de Lacerda, se ocorrer, não será mais um passeio. No Rio, a certeza de que o voto evangélico é majoritário elevou as apostas no candidato-bispo Marcelo Crivella (PRP), que sequer foi para um segundo turno que está sendo disputado, voto a voto, por Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV).

É difícil estabelecer um padrão para as eleições das capitais dos três maiores Estados do país, mas existem algumas coincidências. Em São Paulo, a campanha de Marta concentrou-se na tática de nacionalizar a disputa, na tentativa de quebrar os índices de rejeição que a candidata ostenta com a aprovação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfruta. Enquanto a aprovação de Lula ultrapassava os 80% nas vésperas do primeiro turno, Marta não conseguiu superar os 37%, uma marca que parece ter se tornado o seu teto. As características pessoais da candidata que desagradam o paulistano e a mantêm com alto índice de rejeição não foram reavaliadas pelo eleitor em função do apoio direto e militante de Lula à petista. Da mesma forma, o eleitor de Belo Horizonte rejeitou votar simplesmente por procuração - e, enquanto na propaganda eleitoral Lacerda abria mão de apresentar-se como um candidato com qualidades próprias, contentando-se em ser um projeto de criatura de dois criadores, Quintão subiu nas pesquisas expondo-se ao eleitorado. No caso das duas capitais, o voto foi pessoal e intransferível: Lula, ao que parece, não transferiu votos para Marta; assim como Lacerda não se tornou automaticamente o depositário das escolhas da maioria dos eleitores belo-horizontinos - está tendo que despender esforços para isso. No Rio, Eduardo Paes, embora apoiado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), que por sua vez é da base de apoio de Lula, emergiu do nada no primeiro turno mais pelo fato de ser uma novidade do que propriamente pelo padrinho que tem; no segundo turno, a ansiedade do carioca por novas lideranças parece estar favorecendo Gabeira. Os dois disputam voto a voto não pelo que os vincula aos velhos líderes, mas pelo que deles estão separados.

O que une as três capitais nesse segundo turno, ao que parece, é o fato de que as questões nacionais e estaduais não estão tendo quase influência na decisão de voto; os padrinhos políticos tiveram pequeno poder de transferência; e há uma tendência a privilegiar atores políticos com menor experiência e, em consequência, também com uma rejeição menos consolidada. Em São Paulo, embora Kassab seja o prefeito, é a primeira vez que disputa uma campanha para cargo executivo (é prefeito porque era vice de Serra, quando este saiu para disputar o governo do Estado), isto é, tinha antes uma exposição pequena, que lhe garantiu inclusive um índice de rejeição muito inferior ao de Marta. Em Minas, Quintão e Lacerda são novidades, mas Quintão, em algum momento, pareceu novidade maior que Lacerda - agora ele tem de provar que a novidade é ele. No Rio, Gabeira é mais novidade, já que nunca antes exerceu cargo político, é oposição e entrou nessa sem padrinhos, mas terá que provar que é mais novidade que seu adversário.

Talvez sejam sobre esses dados que os partidos devem refletir até a próxima eleição. O país vive, nesse momento, uma exaustão das lideranças que se formaram durante a ditadura e no período pós-redemocratização; os políticos que se tornaram competitivos às custas de terem se exposto a várias competições eleitorais seguidas estão dando sinais de desgaste. Os partidos não estão conseguindo manter uma taxa de renovação apropriada, tornando-se redutos dos mesmos políticos. Se a renovação não for feita em profundidade, pelos mecanismos partidários, será feito mais à frente, pelo voto, e a despeito dos partidos.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Corre, mundo, corre


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


MADRI - Na segunda-feira, 13, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva puxou uma cadeira de ferro no jardim do "Cigarral de las Mercedes", o mais luxuoso salão de festas de Toledo, onde almoçara, pronto para uma entrevista coletiva.

Comecei perguntando se seu governo entraria na onda de estatizações de bancos então recém-inaugurada na Europa e nos Estados Unidos e fechei com uma provocação, ao lembrar que era isso, mais ou menos, o que o PT de antigamente defendia. Lula sorriu, mas não caiu na provocação.

Demorou um tempão até chegar à seguinte frase: "Depende, depende, depende se tiver um banco numa situação que avaliarmos que precisa". Mas, antes, o governo estimularia outros bancos a comprar a carteira de quem estivesse em apuros e/ou atuaria via redesconto do Banco Central.

Bom, ontem, apenas nove dias depois da conversa em Toledo, o "depende" acabou. É mais uma demonstração de que a crise é de uma velocidade e de uma voracidade assustadoras. Prova-o o fato de que, na mesma entrevista, Lula jurou que "tudo vai ser mantido", sendo o "tudo" as obras e investimentos programados pelo governo. Anteontem, acabou admitindo que nem "tudo" vai ser mantido.

A velocidade pede que Lula seja otimista, como deve ser, mas menos vezes por dia. Não desgastaria a sua palavra e o seu otimismo.

Título da coluna de Martin Wolf ontem reproduzida pela Folha: "Mundo desperta do sonho do descolamento". Wolf é o mais badalado colunista do mais badalado jornal financeiro do planeta, o "Financial Times".

Título da modesta Folha em 24 de janeiro de 2008, nove meses antes portanto: "Tese do descolamento tem enterro de luxo em Davos". Pena que a Folha seja escrita em português.

Surfando na "marolinha"


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O Brasil vai sediar na próxima segunda uma reunião extraordinária de ministros do Exterior e da Economia de dez países da América do Sul. São dois objetivos.

Um, econômico: discutir a crise financeira internacional e o que cada um está fazendo para tentar se safar. Outro, político: ratificar sua posição de líder no continente.

O Brasil como a Inglaterra; Lula como Gordon Brown, primeiro-ministro inglês. A Inglaterra saiu à frente, injetando bilhões de euros para salvar e estatizar bancos em dificuldades, sendo seguida em grande estilo pela União Européia -aliás, como o Prêmio Nobel Paul Krugman sugerira em artigos. Agora é o Brasil quem sai à frente, com uma medida provisória que, na prática, permite ao governo sair estatizando tudo e toda empresa que passar pela frente, via Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Essa MP, publicada no "Diário Oficial" da União que circulou ontem, deverá ser a estrela do encontro de segunda, com participação de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Equador, Bolívia, Chile, Peru e Colômbia. Ou seja, desde os amigos brasileiros mais à esquerda até os dois mais à direita.

Se o momento é tenso no mundo inteiro, não seria diferente por estas bandas de acá. E com particularidades que interessam diretamente à política, à economia e à diplomacia brasileiras.

Numa pincelada, porque o espaço é curto: 1) a crise pega a Argentina de jeito, muito mais desequilibrada economicamente do que o Brasil; 2) a Venezuela à beira de um ataque de nervos, com o preço do petróleo pela metade (e ele está para Hugo Chávez como os cabelos para Sansão); 3) Equador e Bolívia só tratam as empresas brasileiras nos cascos, como se os créditos internacionais estivessem fartos e fáceis; 4) o governo do Paraguai ainda engatinha e afia as garras.

Bela chance, pois, para Lula surfar na "marolinha" antes de "cruzar o Atlântico" e se reunir com o G-8.

Da “marolinha” ao corte do Orçamento

Jarbas de Holanda

Os efeitos da crise internacional começam a manifestar-se em múltiplos segmentos da economia, forçando o presidente Lula a trocar a desqualificação deles no Brasil pela admissão explícita ontem (em solenidade comemorativa dos 60 anos da SBPC) da necessidade de corte das dotações dos ministérios no Orçamento da União de 2009. Também ontem, o relator da proposta do Orçamento, senador Delcídio Amaral, defendeu um corte de até 20%, ou R$ 12 bilhões, nas despesas de custeio do governo e a utilização da economia numa Reserva de Estabilização Fiscal, que seria criada como resposta à crise.

Algumas das muitas evidências dos reflexos da crise: - apesar de o Banco Central já ter injetado US$ 22,9 bilhões no mercado de câmbio, o dólar segue valorizando-se (ontem em cerca de 5%, para mais de R$ 2,30), enquanto o risco-Brasil, mantém-se acima dos 500 pontos; - férias coletivas das montadoras de automóveis; -a decisão da Petrobras de alongar seus investimentos, diluindo-os do período 2009/2013 para até 2020, anunciada pelo presidente Sérgio Gabrielli, de par com o reconhecimento de que a piora do cenário também prejudicará os planos para a exploração do pré-sal; – o adiamento para o final de novembro do leilão pela Aneel da linha de transmissão das hidrelétricas do rio Madeira.

Quanto à percepção dos meios empresariais sobre as conseqüências da crise já este ano e em 2009, o primeiro indicador significativo, da CNI, foi divulgado ontem-ontem. Da Folha de S. Paulo, com o título “Confiança de empresários despenca: “A crise fez a confiança dos industriais brasileiros cair ao pior nível desde julho de 2005 e já indica pessimismo em relação ao desempenho da economia. O indicador geral ficou em 52,5 pontos, uma queda de 5,6 pontos em relação à pesquisa de julho e de 7,9 pontos na comparação com outubro do ano passado”. “Quando indagado sobre as condições atuais, os empresários não mudaram de opinião(positiva). Mas a percepção sobre as condição nos próximos seis meses caiu de 55,4 para 46,7 pontos. Segundo a metodologia da CNI, valores abaixo de 50 pontos indicam pessimismo”.

Na disputa das grandes cidades do Centro-Sul, Lula procura compensar fracasso do PT nas capitais

Paralelamente ao embate maior em torno da eleição dos prefeitos em dez capitais (inclusive as cinco mais importantes – São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador)) é intensa a batalha que se trava pelas prefeituras de 20 grandes cidades das Regiões Metropolitanas e do interior que também terão 2º turno no próximo domingo. Batalha que é especialmente acirrada nas que se localizam no Sudeste e no Sul por caracterizar-se pelo confronto entre candidaturas representativas do lulismo (do PT ou de aliados próximos) e dos partidos oposicionistas, inclusive o PMDB antipetista de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Dessas grandes cidades que estão sendo palco de forte confronto entre o lulismo e lideranças regionais e nacionais da oposição destacam-se Contagem, Juiz de Fora, Petrópolis, Santo André, São Bernardo do Campo, Guarulhos, São José do Rio Preto, Londrina, Ponta Grossa, Joinville, Pelotas e Canoas.

Para o presidente Lula, a conquista dos municípios em que se dá esse confronto compensaria a fragilidade evidenciada mais uma vez pelo PT no Sudeste e no Sul, mesmo com a intensa instrumentalização de sua alta popularidade. E atenuaria o impacto dos prováveis resultados adversos, no próximo domingo, das eleições de São Paulo e Porto Alegre (emblemáticas para o petismo e o lulismo) e também da de Florianópolis; bem como em Belo Horizonte e no Rio, de números finais que ele não poderá capitalizar, quaisquer que sejam, pois os ganhadores serão outros (restando Vitória como a única capital do Sudeste que elegeu um petista). Daí, o empenho com que o Palácio do Planalto está atuando em favor dos candidatos lulistas nesses municípios, empenho do qual os exemplos mais eloqüentes são mostrados em São Bernardo, Santo André e Guarulhos, em Contagem e Juiz de Fora, em Londrina e em Joinville, este último com embate entre o PT e o DEM, os demais entre o PT e o PSDB. E nas cidades do ABC paulista e de Guarulhos, com a intervenção pessoal de Lula, tendo em vista uma espécie de cerco (reforçado por Osasco, com prefeito reeleito do PT) à São Paulo antipetista que deverá eleger o candidato do governador José Serra, Gilberto Kassab.