sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Gabeira: caminhada hoje e amanhã


24/10


- Oficina de criação de camisas, 14h, leve sua camisa, seu pano e sua criatividade. Buraco do Lume, Rua S. José esquina com Av. Rio Branco (próximo a estação Carioca do Metrô).

- Caminhada pelo centro, 16h30. Saída do buraco do Lume.


25/10


- Caminhada silenciosa de apoio, saída do Leme (em frente a Av. Princesa Isabel), às 10h.

Gabeira: 'Domingo vamos surpreender de novo'


DEU EM O GLOBO


RIO - Num discurso inflamado para uma platéia de quase 500 pessoas, o candidato a prefeito do Rio Fernando Gabeira (PV/PSDB/PPS) participou na noite desta quinta-feira de um dos maiores atos de sua campanha. Ao lado do vereador Alexandre Cerruti, da tropa de choque do prefeito Cesar Maia (DEM), Gabeira falou por cerca de meia hora num clube de Guadalupe, na Zona Norte. Ele afirmou que "problema de saúde não se resolve com propaganda" e pediu que a campanha pelo voto consciente do Tribunal Eleitoral Superior (TSE) seja lembrada no domingo.

Durante o encontro, Gabeira disse ainda que houve uma tentativa de apresentá-lo como um "candidato grã-fino da Zona Sul". Disse também que a vereadora Lucinha (PSDB) está empolgada com a sua campanha. Ele e Lucinha se envolveram numa polêmica, no início do segundo turno, depois que que Gabeira disse que ela "estava de salto alto" e tinha uma "visão suburbana", referindo-se à polêmica construção do aterro sanitário de Paciência. Lucinha já desculpou Gabeira e o apóia.

" Hoje estamos empatados na Zona Oeste e vamos ganhar. Também estamos na frente na Zona Norte e vamos dar uma surra "

- Hoje estamos empatados na Zona Oeste e vamos ganhar. Também estamos na frente na Zona Norte e vamos dar uma surra - disse Gabeira, que comentou o resultado das últimas pesquisas. - Falei de pesquisas que fizemos e da sensação que temos nas ruas, mas já surpreendemos uma vez e vamos surpreender de novo no domingo.

A questão da saúde pública também foi citada por Gabeira durante o encontro organizado pelo vereador do DEM:


- O problema de saúde não se resolve com propaganda - disse Gabeira, referindo-se às Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), uma das principais promessas de campanha do seu adversário, Eduardo Paes (PMDB/PP/PTB/PSL).

Cerruti também discursou. Ele pediu aos convidados do encontro que fizessem uma corrente por celular pedindo votos para Gabeira.

- O Gabeira está fazendo uma campanha limpa. O outro (Paes) é um ingrato. Cuspiu no prato que comeu negando as suas origens. Está fazendo qualquer tipo de acordo para ter o poder - criticou Cerruti, que também já foi administrador regional de Cesar Maia.

À tarde, Gabeira fez corpo-a-corpo em Bonsucesso. Ele estava acompanhado dos vereadores do DEM Índio da Costa e João Cabral. No meio do corpo-corpo, próximo à Praça das Nações, militantes do PMDB seguiram cabos eleitorais de Gabeira, fazendo provocações. Eles acompanharam toda a agenda do candidato do PV no local.

À noite, Gabeira recebeu o apoio do prefeito eleito de São João do Meriti, Sandro Mattos, um dissidente do PR, partido que oficialmente apóia Paes.

Gabeira ainda cita Obama ao rebater críticas de Paes

Gabeira respondeu ainda às críticas de Paes, que o acusa de não ter experiência administrativa.


Gabeira citou o presidente Luiz Ina´cio Lula da Silva, o governador Sérgio Cabral e o candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, como exemplos de pessoas que também não tinham experiência anterior.


- Posso mencionar o caso de Lula e Sérgio Cabral, que não tinham essa experiência e hoje estão aí. Outro exemplo é a história dos EUA, onde a grande crítica é feita a um candidato que está à frente das pesquisas e não tem experiência administrativa. Os candidatos da oposição que ainda não chegaram ao governo sempre sofrem esse tipo de crítica - disse.

Gabeira disse que não estava comparando a sua campanha com a de Obama.

- Se eu disser isso, todos amanhã vão dizer que sou pretensioso. Minha trajetória é diferente. O que conquistei no Rio foi com o mínimo de recursos. Já Obama teve uma arrecadação milionária e recorde - afirmou o candidato.

Rebeldes do PDT dão apoio ao candidato verde

O espaço da Cinelândia conhecido por Brizolândia, palco de grandes manifestações políticas dos anos 80, foi o ponto de encontro desta quinta entre Gabeira e dissidentes do PDT - o partido apóia o adversário Eduardo Paes. Estavam presentes a deputada estadual Sheila Gama e do ex-deputado por cinco mandatos José Maurício Linhares do diretório nacional do partido.

No encontro, Gabeira falou dos militantes do PDT, que costumavam ir às ruas na época que Leonel Brizola era líder do partido, e lembrou da mobilização em torno de sua campanha para a prefeitura.

- Hoje temos nove mil voluntários na campanha. São pessoas que trabalham sem receber nada. Esse fenômeno só existe, neste momento, nos Estados Unidos, onde há um candidato se mobilizando da mesma maneira - comentou Gabeira.

O prefeito eleito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, foi o primeiro a se manifestar a favor de Fernando Gabeira, contrariando a decisão do partido. Ele foi seguido pelo deputado federal Miro Teixeira, também do PDT.

Destino, vocação e estilo


Nelson Motta
DEU EM O GLOBO


A primeira morte simbólica do Rio de Janeiro foi em 1960, com a mudança da capital para Brasília. A segunda, em 1976, na fusão, forçada pelo governo militar, da metrópole cosmopolita com o Estado do Rio atrasado e dominado pelo coronelismo. A terceira, em 1998, quando Lula, Zé Dirceu e Genoino intervieram no diretório carioca do PT, destituíram a candidatura de Vladimir Palmeira e se aliaram ao brizolista Garotinho, entregando o estado e a cidade para oito anos de atraso e populismo provinciano.

Brizola era gauchíssimo, nunca entendeu o Rio de Janeiro e o espírito carioca. Costeava o alambrado e passava mais tempo em sua fazenda no Uruguai do que na cidade. Se sentia melhor no interior, mais próximo de suas raízes e metáforas rurais, terreno fértil para o crescimento do populismo trabalhista, que se apoderou do espólio do clientelismo chaguista.

O populismo provinciano de Garotinho uniu as bases brizolistas e petistas e conquistou o governo do Estado, com a massa dos votos do interior, porque na cidade do Rio de Janeiro o marido de Rosinha jamais ganhou eleição. Pior: no Rio sempre foi ridicularizado, como na sua famigerada greve de fome. Castigou a cidade com rancor e ressentimento, além de entrar em guerra com a prefeitura e o governo federal. No meio do tiroteio, o Rio pagou o pato.

Que metrópole resistiria a dois governos Brizola e dois Garotinho/Rosinha, com um Moreira Franco no meio? Eles teriam quebrado Tóquio, Madri ou São Paulo. O Rio de Janeiro conseguiu não só sobreviver como continuar lindo.

Não por acaso o seu nome completo é Mui Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e seu padroeiro um santo crivado de flechas. É destino, vocação e estilo.

Porque, depois das três mortes, o destino do Rio é renascer, se reinventar como metrópole, viver sua vocação para a natureza, as artes, a convivência e a inovação. A cidade precisa desesperadamente de um novo estilo de fazer política, de tentar uma nova forma de governar democraticamente, com independência e transparência, criatividade e eficiência. Quem sabe o renascimento começa domingo?

NELSON MOTTA é jornalista.

Quadrilátero da saia-justa


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

De cada ângulo que se olhe, essa eleição municipal revela fatos e consolida evidências que derrubam teorias eleitorais recentemente elaboradas a partir de um único dado: a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva.

A campanha do segundo turno revogou a crença inabalável de políticos e marqueteiros na doutrina “paz e amor” e, no caso das disputas mais excitadas, vai levando ao chão também a tese de que o contraditório é coisa do passado - quando não de gente golpista - e o consenso, sinal de evolução cívica, uma meta a ser perseguida pelos adeptos da “nova política”.

No primeiro turno as urnas já haviam derrubado o mito do “poste”, desmentido assertivas sobre a transferência automática de votos e arquivado a idéia do Palácio do Planalto de transformar o resultado da eleição de prefeitos numa interpretação plebiscitária sobre o governo Lula, com o objetivo de estabelecer desde já as balizas para a armação do jogo da sucessão presidencial em 2010.

Nas capitais dos quatro maiores colégios eleitorais do País, a eleição produziu surpresas e muitas divergências às quais o eleitorado aderiu com tanto entusiasmo que, à exceção de São Paulo onde o quadro é praticamente de definição, a final de domingo será disputada voto a voto.

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador desenham um legítimo quadrilátero da saia-justa para o governo federal. Sejam quais forem os resultados, o Planalto não colherá amenidades. As derrotas serão estrondosas e as vitórias vão requerer uma administração de prejuízos.

Salvador é o caso típico. O governador petista Jaques Wagner trava embate direto com o ministro pemedebista Geddel Vieira Lima em clima de acirramento tal que, ganhe o PT ou o PMDB, o dia seguinte será de lamentações na base governista.

Por mais que o eleitorado faça sua opção entre dois candidatos obviamente aliados ao presidente Lula, o placar de 40% (PT) a 50% (PMDB) nas intenções de voto exibe um eleitor capaz de distinguir entre um e outro. Escolhe pelas diferenças evidentes na vida real, não pelas semelhanças existentes só no jogo da política congressual e palaciana.

Belo Horizonte, na teoria fadada à tranqüilidade da homologação do escolhido pela união entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel, na prática ocorreu na base do supetão.

No início, Márcio Lacerda subiu de 6% para mais de 30% em uma semana, foi atropelado nos últimos cinco dias pelo adversário Leonardo Quintão que começou o segundo turno com 18 pontos porcentuais na frente e, em 10 dias, a vantagem virou desvantagem.

Não houve mágica: governador e prefeito desceram do pedestal, deixaram o candidato aparecer, expuseram o perfil do adversário e explicaram o sentido das escolhas.

O mocinho bonito do PMDB significa a volta das velhas estruturas simbolizadas na figura de Newton Cardoso e o senhor circunspecto patrocinado por eles representa uma aliança administrativa construída ao longo de seis anos com a aprovação de 80% da população.

Caso consigam mesmo consolidar a dianteira, como parece, Aécio e Pimentel só fazem maiores os equívocos do primeiro turno, pois teriam ganhado bonito com um pouco de empenho e atenção ao fato de que ninguém está dispensado de combinar com os russos as regras do jogo.

Em São Paulo, os 17% pontos porcentuais de vantagem de Gilberto Kassab são os mesmos de dez dias atrás, antes de o PT pôr em prática a estratégia mediante a qual seria desconstruída a imagem do prefeito, conquistada a classe média e desmontado o alegado preconceito dos conservadores contra Marta Suplicy.

Não aconteceu nada. As pesquisas não registraram nem sequer o efeito do notório questionário a respeito da ausência de mulher e prole dentro da casa de Kassab. Para a biografia de Marta ficou péssimo e para o ato do voto tanto faz como tanto fez.

Se as pesquisas conferirem com as urnas, a tão falada “baixaria” terá passado ao largo da sensibilidade do eleitor e valido uma equação muito mais simples: a divisão dos tucanos no primeiro turno virou soma no segundo.

Só uma vez o PT conseguiu os votos dos não-petistas: quando Marta - na ocasião uma novidade sem o ranço da antipatia que viria a acompanhá-la - concorreu contra um Paulo Maluf já descendente em 2000.

No Rio acontece o confronto mais interessante. Ali, a força bruta deu resultado. O candidato do PMDB, Eduardo Paes, abriu mão de qualquer delicadeza de caráter e assim conseguiu sustentar um empate, com ligeira vantagem, na base da manipulação de preconceitos, subserviência política e até uma mal ajambrada luta de classes.

Se ganhar, será ao preço do conceito: sai menor do que entrou, enquanto Fernando Gabeira, no caso de ser o perdedor, fica com a marca da grandeza para futuros investimentos.

A longa espera de três dias


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


De hoje até a noite de domingo, com os resultados oficiais das eleições para prefeitos e vereadores, quem tiver um pingo de juízo fecha ou fiscaliza a boca para não cair no atoleiro das cobranças.

Se o presidente Lula nem sempre é bom exemplo de sabedoria e bom senso e andou perdido nas contradições e erros táticos grosseiros na reta final da campanha antes de recolher-se à clausura do seu gabinete no Palácio do Planalto, esta semana caiu na realidade – que é dos tombos mais perigosos com os riscos de escoriações e fraturas – fechou a torneira dos palpites e seguiu a receita de "trabalhar, trabalhar e trabalhar".

Deve estar exausto, mas de alguma maneira aliviado, pois a campanha parece empenhada em desmentir ou enlouquecer os institutos de pesquisa com as cambalhotas dos índices em pelo menos três das grandes capitais.

A começar pelo Rio – a nossa abandonada ex-Cidade Maravilhosa, que passa pela mais grave crise de inchaço caótico, com a superpopulação que transborda para as favelas dominadas pelas gangues do tráfico, trânsito infernal, o centro invadido pelos trombadinhas e, à noite, pelos catadores de papel e pela mendicância, e que chega às vésperas do voto mais atordoada do que ao longo da enganosa coerência do favoritismo do candidato Fernando Gabeira, do anêmico Partido Verde.

E com o Eduardo Paes, o candidato duplamente oficial, o único a merecer a entronização solene no gabinete presidencial, com a presença de Lula, do governador Sérgio Cabral e do ungido, com a cobertura da sua equipe, para levar ao eleitorado, nos horários de propaganda eleitoral gratuito, pagos com o nosso dinheiro, a louvação das vantagens da sintonia dos três níveis de governo, com o presidente, o governador e o prefeito juntos no mutirão para salvar o Rio da decadência.

Fernando Gabeira foi a novidade que encantou o Rio e liderou as pesquisas com o favoritismo consensual até anteontem, quando o Ibope e o Datafolha, em números quase iguais, o que sugere a cautela de uma prévia troca de informações, registram a queda de Gabeira de três pontos percentuais e a subida de um ponto e a ascensão de Eduardo Paes de três e quatro pontos.

Como o que mais importa é a tendência do eleitorado, mais do que os voláteis índices percentuais, uma análise isenta acolchoada pelas cautelas da prudência, aponta para o favoritismo do candidato do presidente Lula e do governador Sérgio Cabral. O que, se confirmado pelas urnas, será uma das grandes surpresas da campanha.

O mesmo não se pode dizer do infortúnio eleitoral da candidata do PT, Marta Suplicy, à prefeitura de São Paulo. Nem os socorros de Lula, comparecendo a comícios para os improvisos da vigorosa eloqüência, taparam os buracos abertos na rota pelos escorregões dos sapatos altos da elegante candidata petista. O prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, alvejado pela ironia da candidata e dos seus batedores pela torpeza de insinuações sobre seu estado civil de solteirão, disparou a chega à véspera das urnas com 17 pontos de vantagem sobre a sexóloga dissidente.

Mas é em Minas que a mais surpreendente reviravolta desafia a análise dos especialistas. O candidato a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, apoiado pelo governador tucano Aécio Neves e pelo atual prefeito, Fernando Pimentel, um petista das arábias, virou o jogo nas três últimas semanas e chega à reta final com um ponto à frente de Leonardo Quintão, candidato do PMDB.

A diferença é insignificante, mas a inversão da tendência do voto não pode ser desprezada. Candidato à sucessão de Lula, o governador Aécio Neves apostou o seu cacife no candidato Márcio Miranda e espera a hora de soltar o suspiro de alívio.

Ora, com tais dúvidas e sinais de possíveis surpresas, até a última palavra dos números, a cautela recomenda evitar exageros do fanatismo, pois os números não mentem jamais...

Rumo a 2010 com o freio de mão puxado


Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O adversário número 1 do candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessão, em 2010, é governador de Estado. O número 2 também. Numa crise financeira que leve o país a pôr o pé no freio, brecam todos. Se a retração econômica for forte o suficiente para gerar um eleitor insatisfeito, não é em direção a governantes que soprarão os ventos da mudança em 2010.

Num cenário de tantas condicionalidades, o cerco dos policiais civis ao Palácio dos Bandeirantes ofereceu uma conjuntura de rara concretude. Ainda não se sabe o tamanho da crise, mas é líquido e certo que, para enfrentá-la, será preciso conter gasto com pessoal e investimento. A manifestação dos policiais grevistas em São Paulo é apenas uma amostra da avalanche de reivindicações que podem vir a eclodir. Num Estado em que os salários são mantidos congelados numa conjuntura de crescimento, é de se imaginar que se mantenham no gelo em tempos de retração.

No governo federal, a generosidade das medidas provisórias que concederam reajustes escalonados ao funcionalismo até 2010, tinham tudo para dar uma trégua às ameaças de greve. Para ficar numa única carreira, o de advogado-geral da União, o salário inicial em dezembro de 2002 era de R$ 4 mil. Seis anos de governo Lula depois, o piso da categoria passou a R$ 14 mil, um aumento nominal de 250%, a partir da MP 441 que já está em vigor.

Em um grande número de carreiras, as gratificações por desempenho, que não eram incorporadas ao benefício dos inativos, passaram a sê-lo. O impacto fiscal dos reajustes concedidos a ativos e inativos até 2010 pode chegar a R$ 100 bilhões.

A certeza de que não seria difícil absorver esse aumento de folha num país que bate recordes sucessivos de arrecadação foi atenuada pelo discurso do contingenciamento que já arrebatou até o incorrigível otimismo do presidente da República.

As medidas provisórias do funcionalismo que ainda tramitam no Congresso abrigam dispositivos que permitem ao governo adiar os reajustes previstos para os próximos anos. Se optar por esta saída, Lula comprará uma briga sem fim com a burocracia estatal sem a qual não se governa.

Além do setor público, o presidente também jogou, nesses seis anos de governo, para acumular cacife no movimento sindical do setor privado, com iniciativas como a lei do salário mínimo. Pelo crédito que também dispõe junto ao setor financeiro, pode se gabar de sua equação singular de poder que o leva a circular com galhardia entre metalúrgicos e banqueiros.

Poucos dias antes da passeata que levou dois mil policiais às colinas do Morumbi, onde o PSDB ganhou a tradução de Pior Salário Do Brasil, o governador de São Paulo, José Serra, havia deixado seus aliados em Brasília de cabelo em pé com suas críticas ao Banco Central pela condução da política monetária.

A crise é grande mas não a ponto de se imaginar que o governador paulista pretenda equilibrar-se numa equação às avessas. A hipótese de que esteja em curso uma campanha para desmoralizá-lo em pleno curso de uma vitória eleitoral quase assegurada em São Paulo, é tão provável quanto uma chapa presidencial com Henrique Meirelles na cabeça e Paulo Pereira da Silva na vice.

Antes que a preferida de Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, venha a demonstrar dotes de negociadora tão reconhecidos quanto os de José Serra, o agravamento da crise obrigará Lula a testar seu cacife no movimento sindical. E também emparedará governadores que, a exemplo de Serra, não têm gordura para queimar em sua relação com o funcionalismo e suas entidades.

Nos Estados, não bastasse o agravante de um grau de liberdade orçamentária menor do que o da União, há a pressão por novos gastos como o decorrente do piso nacional dos professores, outra categoria com forte poder de mobilização que também já andou atanazando o governo paulista.

Ainda é desconhecido o impacto da crise sobre a arrecadação, mas o que se sabe é que dois dos setores que mais têm contribuído para os recordes da Receita - bancos e montadoras - também deverão estar entre os mais afetados.

O Ministério da Fazenda tem em mãos estudo encomendado ao FMI e não divulgado com projeções muito pessimistas para a arrecadação numa conjuntura em que a economia nacional cresça menos que 4%.

É na escassez que cresce a necessidade de negociação. Os governantes que serão obrigados a lidar com receitas decrescentes, também terão a chance de identificar as lacunas de setores do sindicalismo acomodados tanto pela bonança econômica quanto da cooptação desmobilizante exercida pelo governo federal.

Enquanto a Esplanada dos Ministérios está apinhada de sindicalistas, a única pasta do governo de São Paulo que, pela lei da gravidade, deveria ser ocupada por um deles, a Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho, é comandada por um ex-dirigente de associações patronais. Guilherme Afif Domingos tem tudo para, depois de domingo, rumar para uma bem-sucedida candidatura ao governo paulista, mas não parece talhado para segurar a batata quente dos trabalhadores paulistas em tempos de crise.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

A ditadura não morreu


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MADRI - Nicolas Sarkozy, o presidente francês, é difícil de ser enquadrado nas casinhas que tradicionalmente usamos para definir os políticos, tipo "direita", "esquerda", "populista", "liberal" e por aí.

A única que definitivamente se aplica a ele é hiperativo.

A sua mais recente frase de efeito é de ontem -e é daquelas que faz a alegria de qualquer editor de jornal incumbido de produzir títulos. "A ditadura do mercado sobre os poderes públicos está morta, com a crise", decretou.

Até gostaria que fosse verdade, não por amor ao Estado ou por ódio ao mercado, mas porque ditadura é ruim em qualquer circunstância, qualquer que seja ela. E Sarkozy tem razão ao dizer que os mercados se impuseram de forma absoluta sobre os poderes públicos nos últimos muitos anos. Mas, se o diagnóstico está correto, não quer dizer que a situação vá evoluir no rumo imaginado por Sarkozy. Pode até ser que, no susto, os poderes públicos recuperem capacidade de ação e tratem de promover uma melhor distribuição de poderes.

Mas o que se está vendo, até agora, continua sendo a ditadura dos mercados. Os governos estão, sim, agindo, estão, sim, intervindo (mais até do que gostariam), mas o fazem sob pressão dos mercados, para salvá-los.

Se você duvida, anote aí o que disse ontem um dos comissários europeus, Günther Verheugen: "Não será fácil para os políticos explicar aos trabalhadores porque centenas de bilhões de euros estão disponíveis para o sistema bancário, mas não estão quando uma indústria inteira está com problemas" (refere-se à indústria de autos).

Não é preciso ser especialmente esperto para aumentar a lista de setores com problemas. E seria demagógico dizer que os trabalhadores de todos esses setores têm problemas ainda maiores -e nenhum pacote à vista?

ESTE É O LULA

Que crise? Pergunta para o Bush
(16/9/2008)

Até agora, graças a Deus, a crise não atravessou o Atlântico
(22/9/2008)

Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar
(4/10/2008)

Não posso assumir o compromisso de que, se houver uma crise econômica que abale o Brasil, a gente vá manter todo o dinheiro dos ministérios
(21/10/2008)

Nós não estamos dando dinheiro para qualquer empresa e qualquer banco. E não vamos dar dinheiro. É importante saber que quem errou pagará pelo seu erro
(23/10/2008)

Da marola ao tsunami


Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


A cortina de fumaça não paralisou o BC, que tomou medidas para lidar com a liquidez dos bancos menores

A CRISE financeira mundial chegou ao Brasil com todo o seu impacto destrutivo. Em setembro, os primeiros ventos dessa tempestade já podiam ser sentidos no âmbito mais restrito do mercado financeiro. A volatilidade dos ativos brasileiros, negociados aqui e no exterior, começou a aumentar de forma desordenada. Mas esses sentimentos não chegavam ao lado real da economia, que vivia ainda as doces brisas de um longo verão de crescimento.

A posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou muito para preservar esse entusiasmo. Qualificando a crise financeira como uma questão dos países do Primeiro Mundo, ele reforçava a impressão de que as dificuldades enfrentadas eram coisa de ricos. Mas essa cortina de fumaça rósea desapareceu agora em outubro.

Primeiro, a questão pontual das empresas que especularam com o real tornou-se um problema bancário sério. Depois, a consolidação do cenário de recessão global trouxe a crise financeira às economias emergentes. Com a velocidade e a força de um tsunami, foram atingidos nos últimos dias os papéis da dívida externa (privada e pública) de vários países, trazendo de volta os fantasmas das crises asiática em 1997 e da Rússia/Brasil em 1998.

A flutuação irracional dos preços tem causado prejuízos imensos em todos os segmentos do mercado financeiro. Em razão desse estado de coisas, os bancos brasileiros reduziram de forma agressiva a concessão de crédito. Os números deste mês mostram claramente um fenômeno de descontinuidade no mercado de crédito, no momento em que a atividade produtiva da economia e a febre de consumo de milhões de brasileiros atingiam seu ponto mais alto.Os ventos externos -agora gelados e fortes- chocaram-se com o ar quente do otimismo de todos. Podem estar certos os leitores da Folha que o impacto sobre as empresas e os consumidores vai ser muito duro e duradouro.

Felizmente para todos nós, a cortina de fumaça não paralisou o Banco Central. Enquanto o ministro da Fazenda seguia o tortuoso e perigoso caminho de negar os problemas reais, o Banco Central agiu.

Tomou medidas agressivas para lidar com a questão da liquidez dos bancos de médio porte, reduzindo o compulsório e criando incentivos para a venda de carteiras de crédito dos bancos em dificuldades. Disponibilizou dólares de sua reserva para destravar as operações de financiamento ao comércio exterior. Injetou liquidez nos mercados de câmbio, agindo nos mercados "spot" e de derivativos.

Por fim, criou mecanismos legais no caso de ser necessária uma infusão de capital nas instituições com problemas de solvência. Apesar da grita contra uma possível estatização de prejuízos, não existe no momento uma alternativa para evitar a quebra de bancos e o aprofundamento da crise. Enfrentamos hoje os mesmos resmungos ouvidos nos Estados Unidos e na Europa há poucos meses. Sugiro a leitura da revista inglesa "The Economist" desta semana para que se possa digerir com menos dificuldades a medida provisória nº 443, assinada na terça-feira.

Aqui, como no exterior, vamos ter de usar o Estado para evitar o mal maior de uma recessão profunda. O que a sociedade deve exigir é que esse movimento, se necessário, seja feito com transparência e fiscalização externa. Como nos Estados Unidos, o Congresso Nacional deve criar uma comissão para acompanhar a utilização desse mecanismo extraordinário.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Crise: PPS e PSDB rebatem Lula e afirmam em nota que quem torcia pelo pior era PT na oposição


DEU NO PORTAL DO PPS

O PPS e o PSDB emitiram nota conjunta repudiando as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atribuiu à oposição uma torcida para que as medidas relativas à crise financeira não funcionem. “Nunca torcemos por crises”, afirma o documento, assinado pelos presidentes dos dois partidos, Roberto Freire, e Sérgio Guerra. A nota lembra que quando militava na oposição, Lula e o PT “apostaram várias vezes no quanto pior melhor”.

Os dois partidos, afirma o texto, querem que o governo trabalhe com seriedade. A nota condena ainda “abordagens equivocadas sobre a extensão da crise, assim como as afirmações demagógicas sobre problemas graves e concretos”. A afirmação refere-se às várias negativas do presidente Lula sobre os efeitos da crise no Brasil. (Leia a íntegra da nota abaixo).

“Nota à Imprensa

O PSDB e o PPS repudiam a declaração do presidente Lula em relaçâo à responsabilidade da oposição diante da crise.

Trata-se de uma declaração que não se coaduna com a responsabilidade de um presidente da República. Nunca torcemos por crises, muito menos crises profundas.

No passado, quando era oposição, o presidente Lula e seu partido apostaram várias vezes no quanto pior, melhor. Não é o nosso caso.

Desejamos que o presidente e seu governo trabalhem sério e condenamos, sim, abordagens equivocadas sobre a extensão da crise, assim como afirmações demagógicas sobre problemas graves e complexos.

Medidas estruturantes serão apoiadas sempre que fizerem sentido para o interesse nacional.

O presidente deve parar de escamotear suas responsabilidades e tratar com seriedade os problemas que se apresentam, uma vez que a crise internacional ainda pode trazer sérias consequências para a economia brasileira - no presente e nos próximos anos."

Roberto Freire – presidente do PPS

Sérgio Guerra – presidente do PSDB