quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Memórias de um intelectual comunista

Fernando Perlatto
Fonte: Gramsci e o Brasil

Konder, Leandro. Memórias de um intelectual comunista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. 264p.

Nesse tempo de pragmatismo extremado, estou longe de ser um winner. De fato, sou um loser. Contudo, valeu a pena ter brigado pelas coisas nas quais eu acreditava, mesmo que o preço fosse o fracasso. A ética me consolou nas derrotas políticas. E eu sempre me lembrava de que, afinal (mal comparando), Antonio Gramsci e Walter Benjamin também foram losers. O conceito que cada loser faz de si mesmo depende da avaliação que ele faz do que pretende fazer. Se não pretende fazer nada, já está objetivamente acumpliciado com os winners.

Trata-se de um grande desafio o exercício de escrever sobre si mesmo. A dificuldade de manter uma certa distância daquilo que se passou é permanente, e o risco de se escrever um texto autovalorativo não se esvai facilmente, sobretudo quando a vida narrada foi permeada por diversos acontecimentos significativos. Visando superar estes desafios, inerentes a qualquer autobiografia, Leandro Konder foi buscar inspiração em diversos textos do gênero — produzidos sobretudo por outros militantes comunistas, como Dias Gomes, Gregório Bezerra, Octávio Brandão, entre outros — para escrever suas memórias. O autor consegue escrever uma obra clara, direta, permeada de sinceridade e afeto — como bem destacado por Ferreira Gullar na orelha do livro —, discorrendo sobre diversos acontecimentos e sentimentos que mobilizaram sua vida, no âmbito pessoal, acadêmico ou político.

A obra é composta pelas lembranças de Konder desde a infância, passando pela juventude e chegando à vida adulta, refletindo uma trajetória marcada pela proximidade dos seus familiares e amigos, pela reflexão e produção de uma considerável obra acadêmica e jornalística, assim como pela militância política. Diversos espaços de sociabilidade tiveram impacto considerável na formação de Leandro, como a casa familiar — e neste sentido a influência do seu pai, Valério Konder, importante dirigente comunista, foi considerável —, o PCB, o CPC da UNE, o Iseb, a universidade, as viagens que fez no decorrer da vida, entre outros. O trabalho jornalístico e a atuação como advogado sindical também cumpriram papel importante para sua constituição intelectual. Todas estas experiências são narradas com carinho nesta obra, que, em determinados momentos, presta uma homenagem a grandes amigos do biografado, como Carlos Nelson Coutinho e Milton Temer.

Ler esta biografia é usufruir da oportunidade de retomar o contato com toda a diversificada produção bibliográfica de Konder, desde seus primeiros artigos, publicados em diversos jornais e revistas, e seu livro inicial — Marxismo e alienação, de 1965 —, até a sua 27a. obra, dedicada ao amor. O percurso por toda esta produção reforça a idéia de Leandro como um autor interdisciplinar, dedicado às questões relacionadas à filosofia, à história, às ciências sociais, à educação e à literatura, percorrendo, para tanto, a obra de diversos autores, ainda que se mostrando mais apaixonado por alguns, que merecem capítulos de destaque em seu livro, como Lukács, Benjamin, Hegel, Brecht, além, obviamente, de Marx, considerado como seu principal interlocutor. Ao lado desta vasta produção acadêmica, Leandro publicou duas obras de ficção — Bartolomeu e A morte de Rimbaud —, consubstanciando de outra forma sua paixão pela literatura, que o acompanha desde a adolescência.

Sabedor de que a batalha das idéias desempenha papel fundamental na disputa pela hegemonia, Konder sempre buscou conciliar sua reflexão acadêmica com a intervenção em jornais e revistas de maior circulação, conferindo dimensão pública à sua atividade. Neste sentido, convém ressaltar sua enorme importância para a “filosofia da práxis” — como a denominava Gramsci, outro autor da preferência de Leandro —, configurando uma obra que, conforme destacado por Carlos Nelson Coutinho, constitui “um dos capítulos mais significativos da história do marxismo no Brasil”. Suas produções, versando sobre diversos assuntos, conseguem tocar em questões essenciais e polêmicas, tanto do debate acadêmico quanto do político, em uma linguagem transparente e simples, sem recair, contudo, na superficialidade.

Diferentes personalidades do mundo intelectual, sejam elas nacionais ou internacionais, desfilam pela biografia de Konder, evidenciando as diversas relações que este pensador construiu no mundo acadêmico. Muitos destes laços foram, conforme se constata no livro, fortalecidos em momentos difíceis, como quando de sua experiência de exilado na Alemanha. Leandro descreve as diversas sensações vivenciadas por aquele que se encontra nesta situação, que, distante do seu país, repleto de frustrações, angústias e desejos, desconhece se poderá algum dia voltar para sua pátria. Mesmo no exterior, não obstante, Konder buscou, junto com outros companheiros e companheiras, refletir e organizar alguma maneira de intervir na luta pela redemocratização do país. Quando regressou ao Brasil, buscou reintegrar-se política e intelectualmente, sobretudo através da militância e da publicação de artigos em diferentes meios.

A leitura desta obra evidencia a consideração de Leandro pela discussão política, ainda que — citando o conselheiro de Aires, de Machado de Assis — diga sofrer “de tédio à controvérsia” (p. 144). Para o autor desta biografia, o esclarecimento deve vir através de debates, não sendo necessários, contudo, “cascudos e pancadas” para se chegar ao mesmo. Com o intuito de observar esta característica de Konder, basta observar a quantidade de “adversários”, que se tornaram, se não seus amigos, como Merquior (para quem o autor dedica um capítulo de sua biografia), pelo menos grandes respeitadores da sua obra. Isto porque Leandro sempre procurou debater a política superando qualquer tipo de sectarismo, sem nunca abandonar suas convicções.

Neste sentido, Konder tece em sua obra críticas ao “socialismo diluído” característico dos dias atuais, conquanto defenda polemicamente que, hoje mais do que nunca, o revisionismo, outrora o foco a ser combatido, tornou-se a única esperança para a recuperação da radicalidade da intervenção transformadora do marxismo. A defesa teórica do marxismo fez-se no decorrer de sua vida concomitante com sua militância política ao longo de mais de 55 anos. Tendo militado no PCB de 1951 a 1982, Leandro filiou-se ao PT em 1988, com Carlos Nelson Coutinho e Milton Temer, partido do qual saiu em 2004, tornando-se um dos 101 fundadores do PSOL. Ainda que possamos discordar destas opções partidárias de Konder, fato é que ele nunca se omitiu de fazer o debate público sobre o futuro do país e os melhores meios de organização para a luta política, tendo sempre como horizonte a construção de uma sociedade socialista e democrática.

Conforme se mostra na citação inicial, Leandro não tem medo de evidenciar seus fracassos e suas derrotas, como exposto no capítulo dedicado ao que ele denomina de curriculum mortis. Este, ao contrário do curriculum vitae, evidenciaria os percalços que acontecem com todos, mas que acabam por ser omitidos por causa da ideologia “triunfalista”, ainda que sejam “fundamentais no conhecimento dos seres humanos” (p. 133). Konder não camufla os obstáculos que enfrentou e vem enfrentando em sua trajetória, como a doença de Parkinson, diagnosticada em 1995, narrada com extrema delicadeza e sensibilidade em um dos capítulos da biografia. Pesando seus fracassos e vitórias, entretanto, tendemos a discordar do biografado, considerando-o como um winner, que, a despeito dos percalços, logrou encarar de maneira vitoriosa as batalhas colocadas em seu cotidiano pessoal e político.

O maior problema desta biografia é o gosto de “quero mais”. Ler a respeito de um intelectual como Konder nos desperta o desejo de conhecer melhor sua vida. Talvez alguns aspectos de sua experiência política poderiam ter sido mais bem discutidos e explorados nesta obra, como, por exemplo, os motivos de suas mudanças partidárias. Isso, contudo, não diminui os méritos deste livro, que expõe em linguagem clara a trajetória deste lutador, que teve seus méritos reconhecidos nas diversas homenagens que vem recebendo nos últimos anos. Esta biografia descreve com esperança e humor as alegrias e agruras de uma vida permeada pelo desejo de transformação da sociedade. Afinal, é este sentimento — como podemos constatar após a leitura deste belíssimo livro e conforme evidenciam as trajetórias de tantos outros desta linhagem, como Luiz Werneck Vianna, Ferreira Gullar e Carlos Nelson Coutinho — que move um intelectual comunista.

Fernando Perlatto é mestrando do Iuperj e pesquisador do Cedes (Centro de Estudos Direito e Sociedade) desta instituição.

Democracia em construção

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Daqui a exatos dois anos, em 31 de dezembro de 2010, Lula estará se preparando para deixar o Palácio do Planalto. No dia seguinte, tomará posse um novo (ou nova) presidente da República.

A cena pode parecer banal, mas estará ocorrendo apenas pela segunda vez desde a ruptura da ordem democrática produzida pela ditadura militar (1964-1985).

Depois de Juscelino Kubitschek dar posse a Jânio Quadros, em 1961, o primeiro presidente eleito pelo voto direto a entregar o lugar ao sucessor escolhido da mesma forma foi FHC. O tucano cumpriu seus mandatos e passou a cadeira a Lula em 1º de janeiro de 2003.

Agora, daqui a dois anos, Lula será o segundo presidente a seguir o mesmo ritual. Ajudará a consolidar a democracia brasileira, cuja pior característica tem sido a inconstância nas regras.

O mandato presidencial começou com seis anos para José Sarney, eleito de forma indireta em 1985. A Constituinte de 1988 reduziu o período para cinco anos. Fernando Collor ganhou a disputa em 1989, mas sofreu um impeachment no meio do caminho. Itamar Franco fez um mandato tampão.

FHC, em 1994, ganhou para ficar apenas quatro anos, mas mudou a Constituição para ter direito a uma reeleição. A rigor, só Lula terá começado e terminado seus mandatos dentro do mesmo sistema. Essa instabilidade de regras é ruim para um país interessado em desempenhar um papel de protagonista no cenário internacional. A previsibilidade e a estabilidade das normas eleitorais são o maior predicado de uma democracia madura.

Agora, voam pelos céus de Brasília idéias esdrúxulas para aumentar os mandatos para cinco anos e acabar com a reeleição, entre outras propostas. Se nada disso prosperar, o Brasil agradecerá.

Que 2009 nos seja leve.

A sucessão sem partidos

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Desde a queda do Estado Novo de Getúlio Vargas, alavancado com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, que o nosso modelo de restauração democrática foi remontado num bipartidarismo de fato, confrontando blocos: do lado do governo do presidente Dutra, o velho Partido Social Democrático, o PSD de sólidas estacas fincadas no controle da absoluta maioria das prefeituras municipais, a legenda dos prefeitos, da maioria dos vereadores, com bancada majoritária nas duas Casas do Congresso.

Do outro lado do campo, no gramado impecável do brilho oratório da sua bancada de bacharéis, a UDN carpia derrotas nas urnas presidenciais, mas inflava de orgulho com as tribunas lotadas nos dias de duelos entre alguns dos maiores tribunos de todos os tempos: Afonso Arinos, Carlos Lacerda, Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, Oscar Dias Correia, Adauto Lúcio Cardoso, Otávio Mangabeira, Mário Martins, Flores da Cunha e, um pouco mais tarde, a turma da bossa nova: José Sarney, Aluísio Alves, Ferro Costa e mais uma dúzia.

Mas, além dos pólos nítidos de governo e oposição, várias siglas médias e nanicas, de um lado e do outro, completavam a arrumação do quadro partidário: o Partido Libertador do santo Raul Pilla, parlamentarista de raízes gaúchas que marchava no passo da oposição, ao lado do Partido Republicano, de Artur Bernardes, mais mineiro do que nacional, acompanhavam a UDN. O PSD fechava um leque de poderosos aliados: o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB para o jogo de damas de Getúlio barrando a expansão dos comunistas.

Nas campanhas eleitorais, salvo algumas surpresas municipais, o PSD marchava para as urnas mais levianas que moças de programa com a tranqüila certeza de que elegeria a maioria dos governadores, dos prefeitos e no Senado e na Câmara dos Deputados. Um ou outro ovo gorado não mudava o panorama.

Este quadro partidário, com todas as suas notórias deficiências das urnas emprenhadas e outros truques de grosseira falsificação, sobreviveu com muitos retoques até a ditadura seguinte, fardada e sem compromissos com o regime democrático. O AI-2 de 27 de outubro de 1965, baixado pelo general-presidente Castello Branco, nega todos os compromissos do esquema militar com a democracia e extingue os partidos para impor o bipartidarismo de proveta e restabelece as eleições indiretas para a escolha do presidente da República.

Até o sepultamento da Redentora, em 1982, com a eleição indireta de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, o país atravessou a turbulência de agitações estudantis, das passeatas e dos distúrbios de rua.

Custou muito remontar o cenário de uma democracia formal, com eleições diretas para presidente, governadores e prefeitos.

Alguns extravagantes fenômenos eleitorais pegaram a maioria conservadora distraída e comendo o mingau pela beirada e elegeram Fernando Collor de Mello para presidente em 1990, para uma Presidência que não foi além de 29/09/1992.

Uma repetição menos patusca dos sete meses do governo de Jânio Quadros – de 31/01/1961 a 25/08/1961.

É a maior frustração da história deste país. Com toda as tintas de um planejado e fracassado golpe de traição ao povo e ao Brasil.

Jânio é a figura menos séria de tempos sisudos Não deixou boas lembranças. A renúncia inexplicável, com jeito de chilique, foi um divisor de água. Depois de Jânio e por muito tempo ficou difícil levar a sério os fenômenos eleitorais. Recaída só com Collor de Mello, em outro modelito.

Sai o otimismo, entra a incerteza

Luiz Carlos Azedo
Da equipe do Correio
Colaborou Daniel Pereira

Em 2008, Lula aproveitou a força da economia e os altos índices de popularidade para deixar a oposição à

Por definição, a incerteza inspira dúvida ou gera diferentes interpretações. Em geral, é provocada por alguma mudança brusca, como uma borrasca no horizonte, por exemplo. Marcado pelo otimismo, 2008 foi um “feliz ano velho”, para tomar emprestada a expressão cunhada pelo escritor Marcelo Rubens Paiva. Bombou a economia e a vida da maioria das pessoas melhorou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a oportunidade. Manteve o governo na ofensiva política e deixou a oposição à deriva. O resultado das eleições municipais revelou inequívoca vitória da base do governo. Porém, a realidade mudou do primeiro para o segundo turno das eleições. Por mais que o presidente Lula, amparado por ascendentes índices de popularidade, injetasse otimismo na sociedade, a incerteza em relação ao ano-novo tomou conta do mercado e contaminou o ambiente político. A população de baixa renda, porém, manteve a confiança no presidente da República, inabalável mesmo nos momentos dramáticos da crise do mensalão. A seguir, três temas que ocuparão a agenda do governo em 2009, como a aposta na política do consumo, a atuação do Congresso depois das eleições das mesas diretoras e mais lances da sucessão 2010.

"Nem a imprensa nem a oposição nem os especialistas falam em recessão. Não fiquem surpresos se incluirmos novas obras no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)"

(Luiz Inácio Lula da Silva, presidente)

Aposta no consumo

Janeiro começa com o governo Lula implementando medidas anticrise, principalmente a liberação de créditos para bancos, montadoras e construtoras. O mercado trabalha com a expectativa de crescimento na faixa de 2%. A alguns setores mais atingidos pela crise, como a siderurgia e a mineração, chegam a prever 0,5%. Entretanto, o governo não dá bola para as projeções pessimistas. O presidente Lula aposta numa expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4%. Segundo ele, tem gente que torce a favor da crise, embora o país tenha condições excepcionais para enfrentar a situação mundial, pois dispõe de US$ 207 bilhões em reservas. O Banco Central, porém, prevê 3,2% de crescimento neste ano.

A palavra de ordem de Lula é não ao catastrofismo. “O primeiro trimestre é o mais delicado. Será o momento de um esforço imenso para não haver desaceleração das coisas. Se as coisas param, recomeçar do zero leva um tempo enorme. As decisões do governo contra a crise não têm limites”, afirma Lula. “Nem a imprensa nem a oposição nem os especialistas falam em recessão. Não fiquem surpresos se incluirmos novas obras no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).”

O fundamental é manter o consumo das famílias. Esse discurso deu resultados no Natal, quando o povo foi às compras e o comércio se manteve aquecido, atendendo o apelo presidencial. Porém, muitas empresas , principalmente as fábricas de bens de consumo duráveis, entraram o ano em férias coletivas. O medo de Lula é que uma onda de demissões provoque queda de consumo, aumento da inadimplência e deflação, a queda contínua de preços.

As projeções para o começo do ano são sombrias. Além da divulgação de um PIB negativo no último trimestre de 2008, os dois primeiros trimestres de 2009 serão dureza, com aumento do desemprego e queda da renda. Para neutralizar esses efeitos, o governo concentra recursos do PAC nas obras que estão com bom andamento, principalmente as que geram mais empregos, na ampliação dos investimentos nos programas de Saúde e na manutenção dos programas sociais, como o Bolsa Família. Apesar da previsível queda de arrecadação, o governo prevê uma recuperação econômica espetacular no fim de 2009 e em 2010.

Congresso busca rumo

Para o Palácio do Planalto, as incertezas no Congresso serão maiores ou menores dependendo do resultado das eleições para as presidências do Senado e da Câmara. Serão menores se o petista Tião Viana (AC) assumir o comando do Senado. Aliado de primeira hora da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff , Tião é garantia de que Lula não terá surpresas na pauta do Senado. Na Câmara, a eleição do peemedebista Michel Temer (SP) consolidaria o bloco do PT-PMDB, que hoje serve de eixo para a heterogênea base de sustentação política do governo.

Diria o Barão de Itararé, tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. A candidatura de Tião já foi atropelada pela resistência da bancada de senadores do PMDB. O atual presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), pleiteia a reeleição. “Eu pensei que o jogo já estivesse definido, com o Tião e o Temer. Todos ganharíamos com isso”, lamenta Lula. Nove em cada 10 senadores acreditam que o ex-presidente José Sarney é candidatísssimo ao posto, embora tenha negado essa intenção em três conversas com o presidente da República. Sarney ainda não apóia a candidatura de Dilma Rousseff — prefere o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), como candidato à sucessão de Lula.

A confusão no Senado complica a eleição na Câmara, onde o deputado Michel Temer pode ser “cristianizado” por petistas e uma ala do PMDB se não houver acordo entre esses dois partidos para eleição de Viana. “Não podemos incorrer no mesmo erro do passado, quando o resultado da falta de bom senso foi a eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE)”, adverte o presidente Lula. Os principais adversários de Temer são Ciro Nogueira (PP-PI), representante do chamado baixo clero, e Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato do bloquinho de esquerda (PSB-PDT-PCdoB) que apóia a candidatura de Ciro Gomes (PSB) a presidente da República. É que a disputa pelo comando das duas casas tem por pano de fundo a sucessão de 2010.

Reformas

As eleições no Congresso envolvem também o controle das comissões técnicas e comissões especiais de projetos polêmicos. Um deles eleva o grau de incerteza em relação à sucessão de Lula em 2010. É o caso do relatório do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que propõe o fim da reeleição e mandatos de cinco anos para prefeitos, governadores e presidente da República. A oposição acusa o petista de abrir espaço para a emenda do terceiro mandato do presidente Lula. Nos bastidores, fala-se fala num suposto acerto entre Lula, Serra e Aécio a favor do fim da reeleição, mas ninguém confirma. “Não penso em voltar. O coitado do Juscelino (Kubitschek) pensou que ia voltar e não voltou. Não trabalho com a hipótese absurda que alguns companheiros falam: ‘Você sai agora e volta em 2014’,”garante Lula.

Debate da sucessão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o garoto-propaganda do governo contra a crise, mas a estrela da atuação para evitar a recessão não será nem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Será a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que gerencia o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com mão-de-ferro. Caberá a ela fazer do limão uma limonada. De um lado, capitalizando cada fração de crescimento acima das previsões do mercado e da oposição que o governo conseguir obter em 2009. De outro, utilizando as obras do programa para consolidar as alianças regionais com prefeitos e governadores. Por isso, inclusive, adiar o debate eleitoral fortalece a posição de Dilma.

No campo da oposição, o governador José Serra (PSDB) segue como líder nas pesquisas para 2010. Mas a candidatura não se viabiliza apenas com o controle do PSDB. O governador de Minas, Aécio Neves, permanece na disputa pela vaga, com o argumento de que teria mais condições de atrair o PMDB.

Críticas ao “preconceito”

Ao inaugurar etapa do Parque Dona Lindu — batizado em homenagem à mãe do presidente —, no Recife, Lula criticou ações impetradas contra a obra, que custou até agora R$ 29 milhões. “Se ao invés de um busto de uma retirante, houvesse um busto de uma aristocrata, não teria enfrentado processos.” Lula disse ter decidido fazer a transposição do São Francisco por já ter vivido a seca, e lembrou uma história. “Uma vez fui buscar água numa jumenta, eu e a Maria Baixinha (a irmã). A jumenta deu uma queda e começou a morder minha barriga. O padrinho deu um corte nela. Já pensou Lulinha ser comido por uma jumenta?”

Lula falou , ontem, em Pernambuco

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

“Deus não nos colocou no governo para fazer o mesmo que a elite fazia. Nos colocou para termos paciência, para olharmos os esquecidos e fazer o que era impossível à elite”,

Esqueceu de lembrar que sempre foram elites em Pernambuco, Inocêncio de Oliveira, José Múcio, Armando Monteiro Neto, Severino Cavalcanti, etc. Hoje, todos seus amigos, estão juntos e governa o país com eles. É um discurso de muita mentira. Pura demagogia!